Decepção brasileira, mito Phelps, novas "teens" e atletas agitados nas tribunas marcam natação em Londres
José Ricardo Leite
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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REUTERS/Tim Wimborne
Cesar Cielo chora após a cerimônia de premiação dos 50 m livre, em Londres; brasileiro ficou com o bronze
Um dos mais clássicos e tradicionais esportes olímpicos, a natação se encerrou neste sábado recheado de momentos históricos, viu surgimento de novas e questionadas estrelas e foi palco de muita energia do lado de fora e decepção da equipe brasileira.
O Parque Aquático presenciou, em cenas quase que já desenhadas, o recorde do americano Michael Phelps como o maior medalhista de todos os tempos ao arrematar mais seis na competição e deixar para atrás a ex-ginasta soviética Larysa Latynina, que tinha 18.
Aos 27 anos, o homem que destruiu recordes e se tornou o maior dono de medalhas dos Jogos, com 22 (18 ouros, 2 pratas e 2 bronzes) ao levar quatro ouros e duas pratas.
As “teens” também se destacaram e chamaram a atenção do mundo. Uma é a lituana Ruta Meilutyte, de 15 anos, vencedora dos 100 m peito em Londres. E as outras são as americanas Missy Franklin, de 17 anos, ouro nos 100 m costas, 200 m costas e no revezamento 4 x 200 livre, e Katie Ledecky, 15 anos e ganhadora dos 800 m livre com o segundo melhor tempo da história.
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Após ganhar os 100 m peito e se tornar a mais jovem campeã da natação em Londres, a lituana não sabia o que falar. "Não acredito. É demais para mim", afirmou.
Outra jovem a se destacar, porém muito questionada, foi a chinesa Ye Shiwen, de 16 anos. Suas apresentações são tão fenomenais que muitos desconfiam de doping. Ela ganhou ouro nos 200 m e 400 m medley e virou o centro das atenções quando venceu os 400 m medley e quebrou o primeiro recorde mundial feminino desde o fim da era dos trajes tecnológicos em 2010.
Um detalhe da prova chamou a atenção: ela nadou os últimos 50 m do estilo livre com melhor tempo do que o do norte-americano Ryan Lochte, vencedor dos 400 m na versão masculina, no mesmo trecho (17 centésimos abaixo).
A torcida americana foi uma das mais entusiásticas e numerosas do Parque Aquático com seu tradicional “USA” a cada competidor que caia na água. O grito dos torcedores do país da América do Norte era menor só do que o dos locais, claro, pelos competidores britânicos.
O fato de vários atletas de diferentes nacionalidades competirem ao mesmo tempo gerava um barulho imenso no local, sendo possível diferenciar gritos ensaiados apenas quando vários deles se organizavam, como era para o “USA”.
ATLETAS NA ARQUIBANCADA
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Competidores se misturavam em tribuna e torciam loucamente pelos atletas de seu país
A energia do lado de fora, no melhor “estilo gingana”, também era vista entre os próprios atletas. Os que não estavam competindo tinham assento exclusivo nas arquibancadas para acompanhar as provas. Os compatriotas se juntavam e tudo ali virava uma guerra de berros entre eles.
Muitos se levantavam, saiam andando, pegavam as bandeiras e pareciam torcedores de futebol em um momento de gol quando a tudo dava certo. Chineses, russos e japoneses eram alguns dos que mais se agrupavam no “camarote” destinado a atletas torcedores. Mas tudo sem confusão.
“É mais ou menos isso, o bicho pega a hora que o seu atleta entra na água. O esporte é bom por isso, o clima bacana e cada um torcendo por seu competir. Mas não sai nada, não sai briga como no Maracanã em um Fla-Flu”, falou Cesar Jube, integrante da comissão técnica brasileira presente no local.
Entre os brasileiros, decepção. A prata inesperada de Thiago Pereira nos 400 m medley foi o único motivo para se comemorar. O nadador conseguiu ficar à frente de Michael Phelps e conseguir seu primeiro pódio em sua terceira participação olímpica, logo no primeiro dia de competições.
Mas a alegria brasileira parou por aí. Thiago não conseguiu repetir o bom desempenho nos 200 m medley, sua prova preferida, e ficou em quarto.
Uma das maiores esperanças de ouro de toda a delegação brasileira nos Jogos, Cesar Cielo não rendeu o que poderia na final dos 50 m e ficou com a medalha de bronze. Fez um tempo abaixo do que o das semifinais e alegou cansaço.
O país poderia até esperar uma dobradinha com Bruno Fratus nessa prova, mas este ficou em quarto lugar e deixou a prova visivelmente chateado.
Cielo, maior nome da história da natação brasileira, também nadou os 100 m livre e ficou na sexta colocação em uma prova que não vem tendo bons resultados ultimamente.
Outro nome de peso da natação nacional atualmente, Felipe França decepcionou e não chegou nem sequer à final dos 100 m peito, prova em que chegou a Londres com o terceiro melhor tempo do ano. Outros nadadores como Kaio Marcio e Joanna Maranhão não passaram das eliminatórias e ainda pioraram suas marcas em relação a outras competições.
Apesar de toda esse cenário, a Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos vê os resultados como bons e satisfatórios.
"Acho que a nataçãoi foi extretamente positiva. Mais uma vez é um dos esportes que consegue colocar no quadro mais duas medalhas. Era o que a gente esperava, duas medalhas, mesmo. Dez semifinais e cinco finais, acho que a gente cumpriu um papel em preparação para a Rio 2016. Esperamos que no Rio, em 2016, consigamos fazer melhor”, falou Ricardo de Moura, chefe da delegação brasileira da natação.
"Tudo o que você faz, em qualquer situação de performance, tem coisas que podem sair melhor. Tinham coisas que poderiam sair melhores e a gente vai fazer uma análise mais embasada para saber”, finalizou.