Velejadores acabam com marasmo em praia da terceira idade durante Olimpíada

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Weymouth (Inglaterra)

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Veranistas em Weymouth acompanham britânicos do iatismo vendo telão montado na praia

    Veranistas em Weymouth acompanham britânicos do iatismo vendo telão montado na praia

Dois telões gigantes na areia, narradores berrando nos alto-falantes, policiais andando de metralhadora no calçadão, navio da marinha de prontidão no horizonte. Tanta confusão não era o esperado pelos idosos que costumam povoar a praia de Weymouth, sede da vela durante a Olimpíada.

O turismo da terceira idade garante a sobrevivência dos balneários ingleses, afinal, para os jovens compensa mais pegar um voo “low cost” e ficar em um resort-pombal na Espanha ou Portugal (pacote de sete dias na Catalunha, por exemplo, custa R$ 600). Fora que o clima no exterior é muito mais garantido que o chuvoso verão das ilhas britânicas.

Mas com a recessão que o país vive esse cenário está mudando. “Meus filhos e netos sempre iam para o Mediterrâneo, mas agora estão aqui. Eu não gosto de viajar para lugares em que não conheço o idioma e estou acostumado a vir para cá”, conta o militar aposentado James Barnes, 77, enquanto toma sol em uma espreguiçadeira pública.

E foi nesse paraíso de veteranos, onde é mais fácil ver uma senhora em cadeira de rodas elétrica que um adolescente em skate, que o velejadores foram parar. “O barco britânico realmente é uma decepção. O time brasileiro está na ponta”, berra o narrador diante de duzentas pessoas olhando os dois telões na arena montada na areia de Weymouth para acompanhar as regatas.

Principal esperança de medalha do Brasil, a dupla Robert Scheidt e Bruno Prada na classe Star faz seus rodopios entre balizas no mar logo adiante, mas só podem ser vistos de forma digital. Da costa, só os competidores de windsurfe podem ser vislumbrados – mesmo assim são uns pontinhos na imensidão azul do Canal da Mancha.

Os britânicos, maiores vencedores da modalidade com 50 medalhas olímpicas na história (o Brasil é o 10º nesse ranking), se preocuparam em trazer público para um esporte com fama de ser à prova de torcida. Tanto é assim que as regatas para definir o ouro acontecerão no porto da vizinha Portland, com direito a arquibancada, cobrança de ingresso e alguma visão da corrida de barcos.

A península onde está Weymount e Portland criou um cenário perfeito para o iatismo, bloqueando a maré atlântica e deixando passar o vento que vem oceânico. Por isso, sempre venta por lá, numa graduação que para os locais vai de “uma gentil brisa” até “lufadas tormentosas”.  E não espere que o ar seja cálido.

“Não existe clima ruim. O que existe são diferentes tipos de bons climas. O sol sempre está lá em cima, mesmo que as nuvens se metam no meio”, filosofa a ex-enfermeira Elizabeth Russell, 68, tomando um chá com as amigas em quiosque à beira-mar, toda agasalhada sob uma temperatura de 16 graus Celsius.

O mesmo vento que propulsiona os velejadores, joga areia nos veranistas, faz as gaivotas planarem, deixa as bandeiras tremulando eternamente e traz e leva as nuvens e os chuviscos tão típicos da Inglaterra.

Anúncios nos jornais, no metrô e nas ruas de Londres tentam vender a “Riveira Inglesa” como destino turístico. Mas o comentário irônico é que o aquecimento global tem que acelerar e a temperatura subir uns 10 graus para a Inglaterra ter um verão decente.

“Isso é uma jogada de marketing da Cornualha [em inglês, Cornwall, região vizinha a Dorset , onde fica Weymouth]. Qualquer inglês sabe que não existe uma Riviera por aqui”, afirma Loraine Morris, responsável pelo turismo do condado de Dorset.

Weymouth é balneário litorâneo desde o final do século 18, quando o rei George 3º frequentava suas praias acreditando no poder terapêutico da atmosfera marinha. Com a inauguração no século 19 da estrada de ferro partindo de Londres, o turismo de massa invadiu a localidade. E era um dos destinos preferidos da classe média inglesa até que no final do século 20 apareceram os voos baratos para destinos tropicais.

“Nossa comunidade foi a mais impactada pela Olimpíada. Entre Weymouth e Portland, somos 60 mil habitantes e recebemos 85 milhões de investimento, com a construção da academia nacional de vela por aqui”, revela Jacqueline Gisbourne, responsável pela logística olímpica no condado. “Temos que aproveitar isso é transformar aqui em um polo do turismo de aventura, do turismo ecológico e do turismo esportivo também ”, completa.

Até 1999, Portland tinha uma base naval (da região, por exemplo, partiram mais 500 mil combatentes durante a Segunda Guerra Mundial na batalha conhecida como o “Dia D” para recuperar a França da invasão nazista). Com a saída dos militares, a cidade encontrou seu destino na vela esportiva, protegida nesses dias olímpicos por forte aparato militar.

Já Weymouth continua como uma “praia família” para quem não quer ou não pode deixar a Inglaterra no verão. Seu calçadão tem uma reprodução do Big Ben, bandas de sopro animam os veranistas, as crianças andam de burrinhos na areia, poucas pessoas se aventuram na água gelada e os idosos passeiam com bengalas e andadores (há até o serviço de aluguel de cadeiras de roda com pneus grossos o idoso andar na areia). Mas no verão de 2012 os anéis olímpicos e o policiamento ostensivo mudaram o cenário.

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