Nova regra do judô faz técnica "escandalosa" do Brasil segurar os gritos até Londres
Gustavo Franceschini
Do UOL, em São Paulo
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Ze Carlos Barretta/Folhapress
À beira do tatame, Rosicléia Campos troca a calma por bastante energia, mas vai ter de se controlar
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Rosicléia Campos tornou-se conhecida do público, entre outras coisas, pela postura extrovertida que costuma adotar. Com bom-humor, ela mesmo diz ser “escandalosa”. Só que os berros, incentivos e gestos terão de ser bem mais contidos em Londres. Por conta de uma regra relativamente nova no esporte, ela terá de se controlar durante os Jogos Olímpicos para não correr o risco de ser expulsa durante as lutas das suas pupilas.
“É bem difícil para mim, porque todo mundo sabe como eu sou. É tenso porque esse é o meu jeito, fiquei anos agindo da mesma forma”, disse Rosicléia Campos, técnica da seleção feminina de judô. A regra em questão foi aprovada no fim de 2011 e entrou em vigor no começo deste ano. Basicamente, o técnico não pode se manifestar durante a luta, seja com o árbitro ou com seu comandado. Na reunião que decidiu a aprovação da regra, Rosicléia foi citada.
“Quando deram o mau exemplo, eu era o mau exemplo, olha que horrível”, diz a brasileira, que vê injustiça no tratamento que recebe. “Tenho um histórico e acabo pagando por ele. Neste ano, teve uma competição em que uma japonesa ficava falando o tempo inteiro, e eu quieta. Assim que acabou, fui perguntar ao juiz por que ela podia falar e eu não. Ele me respondeu: ‘aprende a falar japonês’”, disse Rosicléia, que acabou dando uma bronca no árbitro em questão.
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Mesmo no Brasil ela não é esquecida quando o assunto surge. Há duas semanas, a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) reuniu jornalistas no Rio de Janeiro para fazer apresentações aos profissionais sobre as regras do judô e a programação da seleção brasileira em Londres. Quando o árbitro Edson Minakawa explicou a nova regra, teve de responder como seria a vida de Rosicléia Campos em Londres.
“Não posso responder por ela, mas ela pode passar um Super Bonder”, disse o juiz, bem-humorado, citando a famosa fabricante de cola. “Eu brinco que até o Jun [Luiz Shinohara, técnico da seleção masculina, conhecido pelo temperamento sereno] está gritando mais que eu”, emenda Rosicléia.
Só que ela promete “se segurar” em Londres até certo ponto. Se achar que uma orientação sua pode fazer a diferença para uma de suas pupilas, ela promete esquecer a regra e voltar ao estilo antigo. “Como a gente fala na luta, é o shido [punição] consciente. É aquela falta para não tomar o gol. É uma medalha que tá em jogo”, diz a técnica, que tem autorização da CBJ.
“Muitas vezes o técnico, no gesto ou em uma palavra, pode mudar o resultado de uma luta. Nossa orientação é que, se for necessário, que a gente sacrifique o técnico em vez da luta”, disse Ney Wilson, coordenador-técnico da CBJ, no encontro com os jornalistas.