Na base do "amor e ódio", irmã-atleta ajuda judoca a se preparar para Londres

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Raquel e Rafaela entraram juntas no judô e tinham trajetórias parecidas até que uma delas engravidou. Hoje, a outra, tia “coruja”, se prepara para ir aos Jogos Olímpicos. Bem de perto, a irmã mais velha ajuda a caçula a se preparar para o maior desafio da carreira. Daqui a quatro anos, espera que a família chegue junta à competição que acontece na cidade delas, o Rio de Janeiro.

É fácil perceber que a relação entre as duas atletas da família Silva é mais complexa do que parece. Companheiras no esporte, elas não são exatamente irmãs que vivem grudadas uma na outra. O que as une é o judô, paixão de ambas.

Rafaela, de 20 anos, estará em Londres daqui a alguns dias. Ela é a representante brasileira na categoria até 57 kg. Campeã mundial sub-20 e vice adulta em 2011, a carioca tem grandes chances de trazer a segunda medalha do judô feminino.

Raquel, de 23, vai ver de longe toda a festa, triste pela ausência e contente pela irmã. Sua presença foi comprometida por inúmeros percalços. O primeiro aconteceu aos 15 anos, às vésperas de sua primeira viagem internacional, quando anunciou que estava grávida.

Rafaela foi a primeira saber. Ficou nervosa e só disse que o pai “ia matar” a irmã. Raquel escondeu a gestação até os cinco meses. Teve de parar um ano e meio e ouviu muitos conselhos e broncas da família e do técnico Geraldo Bernardes, que ela trata como um pai.

Quando retornou aos tatames, passou a sofrer com lesões e acabou fora dos Jogos de Londres. Pensou várias vezes em parar, mas seguiu. A irmã a ajuda a voltar aos poucos, especialmente na parte da “estratégia”.

“A hora em que a gente fica mais próxima é por causa do judô. Quando ela volta de competição quer me contar tudo, falar como estão as meninas da minha categoria, se estão bem ou mal”, conta Raquel.

Só não coloque as duas juntas no tatame. Rafaela era uma criança difícil. Se envolvia em confusões na rua, brigava com os meninos e levava broncas na escola, até chegar ao judô. Nos treinos, a “bagunça” ficou mais controlada, mas quando enfrentava a irmã a atenção era redobrada.

“Elas brigam bastante. É complicado colocar elas para lutarem entre si”, conta Geraldo Bernardes. “Quando uma cai, a outra fica nervosa e vai querer ir para cima”, avisa Luiz Carlos Silva, pai da dupla.

Os atritos, segundo todos os envolvidos, não passam de briguinhas normais de irmãs. Raquel diz que Rafaela, como toda a família, é “coruja” com a sua filha Ana Carolina. O nascimento da menina foi uma provação para ambas, que passaram a enfrentar certa resistência familiar para seguirem no judô.

Quando Raquel engravidou, a mãe delas entrou em depressão e chegou a fazer campanha para que elas não seguissem no esporte. Elas resistiram com o apoio do técnico, que rasga elogios à família formada por uma vendedora de gás e um ex-motoboy, que acompanham de perto o crescimento das filhas. Só não peça para Luiz Carlos ver as lutas.

“Eu fico muito nervoso. Na Olimpíada eu vou tirar o dia para andar por aí. Não quero ver nada. A Raquel vai ficar me avisando pelo telefone”, diz ele, aos risos.  

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