Salva-vidas vai a Londres após sonho do pai ser barrado por boicote internacional
Do UOL, em São Paulo
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Cameron Spencer
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O australiano Murray Stewart, fenômeno que roubou a cena na canoagem de seu país desde o fim do ano passado, vai a Londres para encher a família de orgulho. Salva-vidas no início da carreira, ele finalmente realizará o sonho do pai, sul-africano, que não pôde competir em seus tempos de atleta por conta do apartheid que dividiu seu país de origem.
“Toda a minha família está muito orgulhosa da minha classificação. É um apoio muito grande e isso é importante. Para o meu pai, esse sonho não virou realidade por causa do veto [à África do Sul por causa] do apartheid. Eu acho que é especial para ele me ver assim”, disse Murray Stewart, que também nasceu na África do Sul, em entrevista ao Sydney Morning Herald.
Seu pai, Robbie Stewart, é um precursor da canoagem na África do Sul, tendo dominado o esporte entre 1974 e 1980. No início daquela década, a manutenção do regime de segregação racial no país fez com que os órgãos internacionais estabelecessem um veto à participação de esportistas do país em grandes eventos, o que impediu que Robbie fosse a qualquer Mundial ou Olimpíada.
Mais velho, ele virou dirigente e participou da candidatura frustrada de Cidade do Cabo a sede dos Jogos Olímpicos de 2004. Contratado por uma universidade australiana, ele mudou-se de vez para o país, e hoje trabalha como diretor da Federação Australiana de Canoagem.
Influenciado pelo pai, Murray começou no esporte com o surf-paddle, modalidade em que o surfista manobra nas ondas sobre um caiaque. Com o equipamento, ele passou a trabalhar como salva-vidas em Sydney, profissão que fornece diversos talentos para a canoagem profissional do país, bastante desenvolvida.
Mesmo assim, Murray Stewart nunca teve grande destaque no esporte até o fim do ano passado. De maneira surpreendente, ele encontrou sua melhor técnica e venceu sete títulos continentais em diferentes modalidades, que lhe valeram a vaga olímpica em todas as embarcações que competirão em distâncias de 1000 m.
Na disputa mais surpreendente da seletiva, ele bateu Ken Wallace, experiente canoísta que levou um ouro e um bronze em Pequim, há quatro anos. “Kenny tem sido o exemplo nos últimos seis anos no k1 [caiaque com um tripulante, modalidade em que os dois duelaram]. Ele tem sido o nosso alvo. Os resultados deles são incríveis. Batê-lo esse ano foi algo que eu busquei bastante, mas tenho muito respeito por ele”, disse Stewart.