"Chorão", Cielo pode resgatar lado CDF por reviravolta nos 100 m contra falastrão
José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo
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REUTERS/Sergio Moraes
Estudioso e exigente, Cielo reclamou de seus 100 m, mas logo depois já falou em análise e melhora
O jeito discreto, distante de polêmicas e focado em seus objetivos é uma das marcas do nadador Cesar Cielo. Somam-se a isso uma forte autocrítica e cobrança quando o planejado não acontece.
Com essas características, o brasileiro vive uma “guerra fria” com o australiano James Magnussen para as provas dos 50 m e 100 m livres nos Jogos Olímpicos de Londres.
O novato tem jeito mais falastrão, gosta de exaltar seus feitos e traçar objetivos ousados como recordes e ser o melhor. Já o recordista mundial das duas provas guarda para si e sua equipe as marcas desejadas, adota discursos ponderados e não dá trela para a falação do rival.
CIELO E MAGNUSSEN FARÃO BONS DUELOS
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Cielo (esq.) tem favoritismo nos 50 m livre e busca melhorar nos 100 m até os Jogos de Londres
Cielo chegou para a disputa do Troféu Maria Lenk, na última semana, com a promessa de fazer o seu melhor. Via até então o concorrente ter as melhores marcas das duas provas. Cielo baixou a dos 50 m e saiu com o melhor tempo do ano, 21s38, contra 21s74 do principal concorrente.
Mas, nos 100 m, o objetivo não foi atingido. Venceu com 48s28, a sexta melhor marca da temporada. Saiu frustrado da piscina, disse que fez uma prova “pobre” e que o foco para Londres seria mesmo o bicampeonato dos 50 m.
Seu comportamento instantes depois da prova, com a cabeça mais quente, lembra o de quando não atingia as altas notas desejadas nos estudos, nos tempos de jovem, em que até chorava pelo objetivo não alcançado.
“Ele sempre foi um aluno nota 10. Quando era mais novo e tirava abaixo de 8,5, chorava e ficava bravo. Ele foi considerado o melhor atleta estrangeiro de Auburn, no Estados Unidos”, falou Cesar Cielo pai, sobre o filho.
O técnico do brasileiro, Alberto Silva, o Albertinho, no entanto, coloca panos quentes e diz que os 100 m serão sim tão bem focados com os 50 m. “O objetivo foi parcialmente atendido. Vamos fazer uma análise [dos 100 m] e ver o que aconteceu. Foi uma prova que não gostamos. Não é isso que ele pode render na Olimpíada, mas queremos que ele realmente dispute a medalha de ouro”, falou
“Vamos tratar com tranquilidade. Acredito que o resultado planejado para o Cesar nos 100 m está dentro dele e só não conseguimos realizar [no Maria Lenk]. Já viramos a página. Não vamos esquecer a prova. No momento que ele sai da água nem eu vou ficar perto dele. Já nos falamos e analisamos”, continuou.
Cielo pode, depois do resultado não esperado na segunda prova, desenvolver ainda mais seu lado de perseverança e o estilo “CDF” na busca pelo que quer. Foi desta maneira, usando seu lado estudioso e detalhista, que chegou ao topo.
“A fita da Olimpíada de 2004 está até furada de tantas vezes que ele viu a saída do Popov, do Peter Van der Hoogenband, a virada dos caras, ele ia e voltava, ia e voltava, sabia tudo. Até o número onde estava a parte do que ele queria. Ele assistia, assistia e via o que os caras faziam para fazer igual e ele repetia. Ele ficava depois do treino e ficava treinando saída sozinho. São coisas que quando o cara se dedica e corre atrás, sem esperar cair no colo”, falou Cesar Cielo pai.
Um tempo depois da prova dos 100 m, o nadador já deixou de lado a frustração e adotou discurso do lado estudioso e perseverante.
“O maior erro foi meu mesmo. Vamos ver se mais pra frente consigo melhorar essa prova, baixar o tempo e conseguir brigar por uma medalha lá em Londres. Vamos analisar o que aconteceu.”