Erro em cronômetro em 92 levou Gustavo Borges de frustração a "emoção incontrolável"
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Divulgação
Gustavo Borges em ação nos Jogos Olímpicos de 1992; tensão antes da prata marcou a vida do nadador
"Foi a medalha mais importante da minha vida." É assim que o nadador Gustavo Borges gravou em sua memória um dos episódios mais marcantes da história olímpica brasileira, quando em julho de 1992, nos Jogos de Barcelona, o cronômetro não registrou o tempo de sua prova.
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Era sua primeira Olimpíada, há duas décadas, e após anos de treinamento o jovem nadador disputava a prova dos 100 metros livre ao lado dos melhores competidores do mundo. Mas a conquista da medalha de prata revelou-se uma montanha russa de emoções que o atleta jamais imaginara ter que enfrentar.
Então com 19 anos, Gustavo amargou um sentimento de profunda frustração ao completar a prova e ver seu nome em quinto lugar no placar. "Quando toquei o final da piscina vi que tinha chegado na frente do Matt Biondi e atrás do Alexander Popov, mas eu não tinha a noção clara de que tinha chegado em segundo. Foi uma sensação de frustração total", relembra em entrevista à BBC Brasil.
Ao remontar a cena, o atleta paulista diz que após trocar olhares com seu treinador, na arquibancada, foi para a piscina de soltura aguardar o resultado oficial.
Agonia
"Hoje parece que foram centésimos de segundo, mas na verdade foram 40 minutos de agonia, os 40 minutos mais longos da minha vida. A comissão técnica viu uma filmagem eletrônica de cada raia e calculou o tempo exato de cada nadador", diz.
"Cheguei a considerar a hipótese de um erro técnico, mas confesso que também passou pela minha cabeça que todo o tempo de treinamento e preparo tinha sido desperdiçado."
O nadador conta que ao receber, enfim, a confirmação de que a prata olímpica era sua, foi tomado por uma emoção incontrolável. "Lembro que ao entrar na sala de premiação o terceiro lugar teve que abandonar a medalha, o que também deve ter sido difícil", lembra.
O episódio, registrado como uma história de superação e um dos momentos mais cruciais da vida do atleta, serve hoje como exemplo nas muitas palestras que Gustavo profere ao redor do país. "Conto os detalhes e relembro os momentos mais marcantes", diz.
Hall da Fama
Aos 39 anos, Gustavo recebeu em maio deste ano uma honraria internacional da natação até então só conferida a Maria Lenk entre os nadadores brasileiros. Ele tornou-se o segundo nadador brasileiro a entrar para o Hall da Fama da Natação, um prêmio conferido a grandes nomes de diferentes lugares do mundo como uma homenagem à contribuição para o esporte.
"É a mais alta condecoração que um nadador pode receber. Fiquei super feliz. Foi muito diferente, não precisei nadar nada para isso, eu já tinha nadado tudo. Fiquei muito orgulhoso", diz.
Mas um dos elementos de maior diferença com relação aos outros títulos, que incluem quatro medalhas olímpicas (prata em Barcelona, em 1992, prata e bronze em Atlanta, em 1996, e bronze em Sydney, em 2000), foi o fato de que seus dois filhos acompanharam a cerimônia.
"Foi um momento pessoal muito importante. Meu filho, de 13 anos, e minha filha, de dez, puderam ter uma noção do que o pai deles fez para a natação brasileira", diz.
Expectativas
O nadador, que hoje em dia faz palestras, tem academias de natação e montou também uma empresa de consultoria, comentou a situação atual do esporte no Brasil. "Acho que estamos vivendo a melhor fase da natação brasileira, sem dúvida, mas ainda há muito espaço para crescer. Veremos uma evolução contínua até 2016, nas Olimpíadas do Rio", avaliou o atleta em entrevista à BBC Brasil.
Ele considera que, ao lado de colegas como Fernando Scherer, o Xuxa, sua geração contribuiu muito para esse momento. "Trouxemos resultados, medalhas, e isso gerou patrocínio, marketing, exposição. Cada geração ajudou da sua maneira, nos anos 1990 e 2000", diz.
Na opinião do atleta, que treinou por dez anos nos Estados Unidos, essa temporada americana já não é mais imprescindível na formação de um nadador olímpico. "Já temos locais de treinamento (no Brasil). Pouquíssimos dos nossos melhores nadadores estão nos Estados Unidos. Claro que lá há vários locais, aqui são bem menos. Eles produzem um volume muito maior de atletas, mas hoje temos nadadores com resultados olímpicos que obtiveram esses índices treinando no Brasil", observa.