O último dia do boxe olímpico em Pequim-2008 sustentava a dúvida: irá a delegação de Cuba sair da China sem medalhas de ouro na modalidade?
A imagem que se viu nos pódios do boxe na madrugada deste domingo (hora de Brasília) foram de cubanos tristes, cabisbaixos ao receberem medalhas de prata e bronze. O compromisso em manter a hegemonia da nação no esporte não foi cumprido, e era visível a decepção no rosto dos atletas derrotados.
Em Atenas-2004 os cubanos foram campeões, com cinco medalhas de ouro. Em Sydney-2000 foram quatro ouros, assim como em Atlanta-1996.
Desde os Jogos de Munique-1972, com exceção das Olimpíadas de Los Angeles-1984 e Seul-1988, boicotadas pelo país, os cubanos não deixavam a disputa olímpica do boxe sem um campeão.
Categoria até 54 kgO primeiro pugilista cubano a subir no ringue nas finais do último dia olímpico foi Yankiel Leon Alarcón, que enfrentou o mongol Badar-Uugan Enkhbat, campeão asiático da categoria em 2007, ano em que ainda ficou na segunda colocação no mundial em Chicago (EUA).
Enkhbat saiu na frente abrindo três pontos no primeiro assalto. O cubano Alarcón conseguiu descontar num jab de direita, mas foi novamente golpeado com um direto do mongol, que fechou o assalto inicial em 4 a 1.
O cubano, em desvantagem, se viu obrigado a partir para o ataque. O mongol passou a fugir do adversário e apenas pontuar em contra-ataques. Alarcón procurou a luta, mas seguia superado tecnicamente por Enkhbat, que aproveitava as brechas na guarda do adversário para ampliar sua pontuação. Ao final do terceiro assalto, a diferença entre os pugilistas era de sete pontos.
O mongol procurou se proteger no quarto round, buscando o clinche, se esquivando dos jabs frenéticos de Alarcón, que não entravam. Sem pontuar, o cubano tentava o ataque, mas não conseguia encaixar os golpes. Cuba perdeu sua penúltima chance de ouro no boxe olímpico por 16 a 5.
Categoria até 69 kgCuba botava todas as fichas em Carlos Banteaux Suarez na final da categoria até 69 kg. Cauteloso, o cubano entrou na luta com a guarda alta, e no primeiro assalto apenas estudou o adversário cazaque, Bakhyt Sarsekbayev.
Suarez pareceu observar o que precisava no primeiro assalto. Na etapa seguinte o cubano partiu para o ataque, e inicialmente se propôs à troca franca de golpes com o adversário. A estratégia não favoreceu a Cuba, que ficou cinco pontos atrás no final do período, que acabou em 7 a 2.
Com o perigo de perder a última chance de ouro para Cuba, Suarez se obrigou a partir para cima de Sarsekbayev. Mais rápido, o cazaque aproveitava as aberturas da guarda nos ataques do cubano para aumentar a vantagem. Ao final do penúltimo assalto, havia sete pontos separando o pugilista cubano da medalha de ouro.
Sarsekbayev entrou com a guarda baixa no último assalto, chamando o cubano ao confronto. A estratégia era fugir da esquerda de Suarez pelo sentido anti-horário. Gastando o tempo, o cazaque usou o jogo de pernas até faltarem 12 segundos, quando buscou o clinche. Suarez não tinha mais tempo de reverter o placar, e Cuba ficou sem ouro no boxe em Pequim-2008 após 36 anos de vitórias em Olimpíadas.
Categoria até 48 kgA decisão da categoria até 48 kg durou pouco mais que um assalto. O mongol Serdamba Purevdorj, atual campeão asiático, saiu para a luta na defensiva, estudando o chinês Shiming Zou, medalhista de bronze em Atenas-2004, bicampeão mundial (2005 e 2007). Na conversa com o técnico no primeiro intervalo, o boxeador demonstrou sentir dores no ombro direito, e voltou para a luta sem conseguir levantá-lo nem ao menos para montar sua guarda.
Na primeira troca de golpes do segundo assalto era visível a incapacidade de Purevdorj em continuar na luta. O juiz interrompeu e Zou, que havia feito um ponto no round anterior, venceu a luta e conquistou o 50º ouro para a China nestes Jogos Olímpicos.
Categoria até 60 kgO russo Alexey Tishchenko chegou à final olímpica defendendo o título de Atenas-2004 na categoria. No combate com o francês Daouda Sow, pôde-se ver uma luta em que nenhum dos oponentes pretendeu se esquivar ao combate, com muita troca de golpes. A Rússia foi a única nação a classificar pugilistas em todas as categorias disputadas em Pequim-2008.
No terceiro assalto, o russo se manteve à frente, mas sem abrir larga vantagem para o francês. Numa troca de golpes rápidos, Tishchenko fez dois pontos, e Sow marcou um. Com 10 a 8, os lutadores não saíam do combate em nenhum instante até zerar o cronômetro.
Sow pontuou logo no início do último round e ficou a apenas um ponto atrás do russo. O francês começou a castigar o adversário, mas não encaixava os golpes corretamente, e seguiu sem pontuar. A 12 segundos do final, o russo conseguiu um ponto que se tornou decisivo. Tishchenko se manteve na defensiva, e partindo para o clinche, garantiu o bicampeonato olímpico com vitória por 11 a 9.
Categoria até 81 kgChina e Irlanda protagonizaram o combate mais equilibrado da noite. Kenny Egan e Zang Xiaoping empataram dois rounds seguidos, após o chinês sair em vantagem de 2 a 0 no primeiro assalto.
Por um momento, os dois boxeadores foram ao chão, deixando dramática a decisão do ouro. No assalto final, Xiaoping superou o irlandês, que durante a premiação fez questão de cumprimentar novamente seu oponente, beijando a medalha de ouro do vencedor em frente às câmeras.
Categoria acima de 91 kgNa última luta da noite, o italiano Roberto Cammarelle derrubou o adversário Zhilei Zhang. No primeiro assalto o pugilista da Itália já saiu com boa vantagem sobre o chinês, abrindo 6 a 1.
Após uma troca de golpes no terceiro assalto, o italiano acertou um gancho de direita em Zhang, que balançou pela primeira vez na luta. O chinês dava sinais de que o confronto poderia terminar em nocaute, mas ainda se segurou.
No primeiro soco do quarto assalto, Zhang caiu, e mesmo tentando se recuperar, já de pé, dava sinais de que não poderia continuar a luta. Com 14 a 4 para Cammarelle, o juiz encerrou, dando a medalha de ouro ao pugilista italiano e encerrando o torneio olímpico de boxe em Pequim-2008.