Sem política: Joanna Maranhão sonha com casamento e futuro como professora
É o discurso político o principal motivo de polêmica em torno da nadadora brasileira Joanna Maranhão, 29. Na última segunda-feira (08), véspera de sua última prova na Rio-2016, a atleta acessou a rede social Facebook para procurar uma foto. Encontrou em sua página pessoal uma série de ofensas motivadas por um misto entre críticas ao desempenho esportivo e ranço sobre seu discurso assertivo – esquerdista, feminista e defensor dos direitos humanos. Não é a política, porém, o sonho de vida para a pernambucana após parar de nadar. Prestes a deixar as piscinas, Joanna imagina um futuro que inclui casamento e concursos públicos para ser professora.
Joanna é noiva do judoca brasileiro Luciano Corrêa, 32, campeão mundial da modalidade em 2007. O casamento está marcado para o dia 15 de outubro deste ano, e depois disso o casal viverá em Belo Horizonte – a nadadora atualmente treina no Esporte Clube Pinheiros e mora em São Paulo.
“Eu quero passar num concurso público e dar aula para crianças em escola pública, o que não dá muito dinheiro. Ele disse que vai ficar difícil, mas eu preciso me sentir útil. Nadando eu me sinto útil, e eu preciso fazer algo na vida que me faça sentir útil. Todo mundo me pergunta se eu quero ser política, e eu não quero ser política”, contou Joanna.
Neste ano, Joanna já se matriculou em um concurso. A prova seria realizada em Contagem, município próximo de Belo Horizonte, e a nadadora só não levou o plano adiante porque a data do exame coincidiu com uma viagem para uma competição.
“Eu não ia passar de primeira, lógico, mas é algo em que eu estou pensando. Quero fazer algo para me sentir útil e melhorar o país de alguma forma”, disse a atleta.
Na Rio-2016, Joanna disputou os 200 m medley (18º lugar), os 400 m medley (15º lugar) e os 200 m borboleta (24º lugar). Foi a quarta participação olímpica da nadadora, que já havia representado o Brasil nos Jogos de Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. Na edição de estreia, chegou a obter um quinto lugar nos 400 m medley.
Não foram os resultados, porém, que direcionaram holofotes para Joanna. A nadadora revelou ter sido vítima de abuso sexual na infância, enfrentou a depressão e chegou a se aposentar. Expôs seus dramas porque imaginou que essa era a melhor forma de enfrentá-los – ela comanda hoje uma ONG voltada a prestar auxílio a pessoas que sofrem em episódios de pedofilia. Além disso, aproveitou o advento das redes sociais para dar vazão a seus ideais políticos.
“Hoje eu falo menos do que falava antes. Falo isso sempre com meu técnico. Ele diz que apesar de eu ser guerreira, subir no bloco, buscar, ele consegue ver no meu semblante o quanto isso mexe comigo. Ele quer que isso interfira o mínimo possível, mas às vezes não dá para lidar separadamente. Tocar em assuntos assim é uma necessidade. Do mesmo jeito que a natação é minha heroína, minha droga, esses assuntos são”, disse a nadadora.
Por adotar publicamente esses posicionamentos, Joanna já se acostumou com o posto de vidraça. Só não esperava ofensas como as que encontrou no Facebook nesta semana – a nadadora já avisou que vai processar os autores das postagens que diziam torcer para que ela fosse estuprada de novo ou esperavam a morte da atleta, por exemplo.
“Desejar que eu seja estuprada por que eu não apoio político X ou Y? Sério? Falar que a história da minha infância eu inventei para estar na mídia? Isso é muito pesado. Pelo amor de Deus! Como alguém pode imaginar que eu seria capaz de inventar um abuso para estar na mídia? Que tipo de mídia é essa em que eu quero estar? Minha mãe até hoje tem de sentar de frente para o cara que fez o que fez comigo e ouvi-lo dizendo que não fez. Será que eu ia escolher fazer com que minha mãe passasse por isso? Que tipo de monstro seria eu? É muito pesado isso”, lamentou Joanna, que chorou muito ao comentar o episódio.
A nadadora tem contrato com o Pinheiros até o fim do ano e pretende deixar as piscinas depois disso. Já começou a estudar a ideia de fazer pelo menos meia temporada de maratonas aquáticas em 2017.
“Só não sei se vou aguentar tomar porrada no mar e não devolver. Acho que vou tomar uns cartões vermelhos nas primeiras vezes por ser sangue quente”, brincou a atleta.