Nadadora mais vitoriosa de Londres-2012 sofre com ocaso na Rio-2016
Os últimos quatro anos foram cruéis com Missy Franklin, 21. Em Londres-2012, a norte-americana assombrou o planeta ao conquistar cinco medalhas (quatro ouros e um bronze) e ser tornar a mulher mais vitoriosa das piscinas naquela edição de Jogos Olímpicos. Na Rio-2016, conseguiu vaga em apenas duas provas. Estreou na última segunda-feira (08), nos 200 m livre, e acabou eliminada nas semifinais – fez o 13º tempo. Foi mais um baque para a nadadora, que tem vivido uma temporada atribulada. E nem ela sabe explicar o porquê disso.
“Muitas coisas passaram pela minha cabeça neste ano sobre o que está acontecendo, e eu não consigo descobrir. O entendimento traz paz. É perturbador, mas eu preciso seguir lutando e seguir fazendo meu melhor para tentar evoluir”, disse Missy. Reconhecida por ser uma das atletas mais risonhas do planeta, a norte-americana estava visivelmente emocionada após ter sido eliminada nos 200 m livre. Não chorou, mas tampouco escondeu os olhos marejados.
A emoção tem muito a ver com a involução de Missy. Nos 100 m costas, prova em que ela havia sido campeã em Londres-2012, a norte-americana foi apenas a sétima colocada na seletiva nacional de seu país para a Rio-2016. Na qualificação local, que foi disputada em Omaha, passou a semana respondendo a questões sobre não conseguir imprimir velocidade em suas provas.
“É isso: sinto que é algo difícil sobre mim, mas preciso falar com meus técnicos para entender o que está acontecendo. Tenho feito o melhor que posso e tenho treinado com todo o coração”, relatou a nadadora.
A seletiva norte-americana para a Rio-2016 teve uma série de exemplos do quanto Missy se tornou relevante. Toda a comunicação do evento era calcada nos “Big Four” (“Quatro Grandes”, em tradução livre), por exemplo. Michael Phelps, Ryan Lochte, Katie Ledecky e ela eram tratados como as grandes estrelas da competição.
O próprio surgimento de Ledecky, aliás, ajudou a diminuir o peso de Missy, que era a grande referência da natação nacional após Londres-2012 e perdeu esse posto graças aos resultados atingidos pela compatriota nos anos seguintes.
Mas não foi apenas Ledecky que ofuscou Missy. A dona de cinco medalhas em Londres-2012 se manteve igualmente carismática, mas simplesmente perdeu desempenho. Nos Estados Unidos há várias teorias sobre isso, que incluem desde o excesso de compromissos fora da piscina até a transição para a universidade.
“Um hospital liga e diz que gostaria que ela ficasse em pé por duas horas para ajudar crianças com câncer. Ela só pergunta como chegar lá. Essa é a Missy”, contou Dick, pai da nadadora, em uma entrevista ao “Bleacher Report”. “Ela quer ser um modelo, e isso a faz assumir muitos compromissos”, corroborou Kristen Vredeveld, uma das melhores amigas da atleta.
Quanto à transição para a faculdade, essa é uma questão maior no esporte dos Estados Unidos. Atletas universitários de lá precisam lidar com restrições de contratos publicitários. No ano passado, o “Wall Street Journal” disse que Missy teria embolsado imediatamente algo em torno de US$ 5 milhões se tivesse escolhido o profissionalismo em vez dos estudos.
Todd Schmitz, técnico dela na época em que Missy nadava no Colorado, diz que o corpo da atleta também mudou nos últimos quatro anos. A norte-americana deixou de ser uma adolescente e completou a transição para a fase adulta. Segundo ele, isso teve impacto em aspectos como recuperação pós-prova.
É difícil medir, contudo, a proporção exata de cada um desses aspectos nas mudanças de Missy. Podem ter sido as mudanças no corpo, a transição para a faculdade, o excesso de compromissos ou simplesmente o aparecimento de atletas mais rápidas. A emoção incrédula dela no Rio de Janeiro mostrou que não é uma questão tão simples assim de ser respondida.
Lituana de 19 anos também chora por ficar fora do pódio olímpico
Se Missy conseguiu segurar as lágrimas, a lituana Ruuta Meilutyte, 19, não demonstrou a mesma preocupação. Sétima colocada na prova final dos 100 m peito na Rio-2016, ela chorou de forma efusiva na área de imprensa do Estádio Aquático.
Ruuta havia vencido essa prova em Londres-2012. No ano seguinte, estabeleceu o recorde mundial do percurso (1min04s35) e foi campeã mundial. No Mundial de esportes aquáticos de 2015, disputado em Kazan (Rússia), ficou com a medalha de prata.
No Rio, a lituana nadou a prova em 1min07s32: “Quando eu comecei a nadar, não estava confortável. É muito difícil falar o que aconteceu porque não sei as razões. Há várias coisas na minha cabeça agora, mas minha única ideia era bater na parede rapidamente. Talvez tenha deixado as emoções me controlar. É difícil dizer. Não estava me sentindo bem desde o início da prova”.