Vale as Malvinas? Leonas argentinas encaram Reino Unido por final no hóquei

Do UOL, em São Paulo

  • REUTERS/Sergio Moraes

    Leonas: três semifinais olímpicas, uma decisão e nenhuma medalha de ouro

    Leonas: três semifinais olímpicas, uma decisão e nenhuma medalha de ouro

Argentina e Reino Unido já se enfrentaram três vezes até agora nas Olimpíadas de Londres-2012, com vantagem para os sul-americanos. Mas, nesta quarta-feira as duas nações que se estranham desde o início do ano por causa do aniversário de 30 anos da Guerra das Malvinas vão finalmente fazer um duelo que vale medalha.

SOBRE A GUERRA

  • A Guerra das Malvinas transcorreu entre abril e junho de 1982, quando o governo ditatorial da Argentina decidiu reivindicar a soberania do arquipélago no sul, ocupado pelos britânicos desde 1833. O saldo do conflito armado foi a recuperação do território por parte dos europeus, além de 649 soldados argentinos mortos.

    Se em Buenos Aires é difícil não notar as frases de protesto contra os britânicos a respeito das Malvinas, em Londres as referências ao conflito são quase nulas, com exceção de um monumento na Trinidad Square Gardens, dedicado aos 255 mortos britânicos no embate.

Às 16 horas, a partida entre as seleções femininas de Argentina e Reino Unido definem quem vai disputar a final do hóquei sobre a grama. É a terceira vez que as britânicas atingem uma semifinal olímpica. Para a Argentina, é a quarta vez seguida.

As Leonas já venceram duas vezes a Copa do Mundo da modalidade, disputada de quatro em quadro anos. E são donas de cinco Champions Trophy, a competição anual que reúne as melhores seleções do mundo. Em Jogos Olímpicos, porém, a medalha de ouro ainda não veio: já são duas medalhas de bronze, em Pequim-2008 e Atenas-2004, e uma de prata, em Sydney-2000.

O jogo também vale muito para Luciana Aymar, a Maradona do hóquei. A final olímpica está marcada justamente para o dia de seu aniversário de 35 anos. E uma medalha de ouro seria a coroação para a carreira mais vitoriosa da história do esporte. Ela já foi eleita sete vezes a melhor jogadora do mundo. Foi eleita a craque da Copa do Mundo de 2010 e do Champions Trophy de 2010. E já recebeu o título de “Lenda do Hóquei” da Federação Internacional.

Com tanto em jogo, não será nenhuma surpresa se o encontro for tenso. O primeiro confronto entre as duas nações já foi assim. Pela primeira rodada do hóquei masculino, os britânicos venceram por 4 a 1 em um jogo cheio de significados fora do campo. Em maio, o capitão da equipe argentina, Fernando Zylberberg, estrelou uma polêmica campanha publicitária do governo argentino sobre os Jogos de Londres-2012, em que aparecia correndo nas ruas da capital das Malvinas (Port Stanley para os britânicos, Puerto Argentino para os argentinos) com o slogan “Para competir em solo inglês, treinamos em solo argentino”.

A polêmica continuou nos outros dois confrontos, 3 a 0 para os argentinos no vôlei masculino e 32 a 21 no hanebol masculino. As três partidas, porém, foram disputadas nas fases eliminatórias, em que a vitória não valia tanto quanto nesta quarta-feira. Por causa disso, a partida já ganhou atenção especial da organização.

Desde o início da Olimpíada, dirigentes do COI e autoridades do Reino Unido temem que atletas argentinos aproveitem a visibilidade dada pelos Jogos para manifestarem a reivindicação sul-americana pela soberania da ilha. Muitos temem ações parecidas com o gesto dos velocistas norte-americanos Tommie Smith e John Carlos que, em 1968, subiram ao pódio e levantaram as mãos com luvas negras ao ar, gesto dos Panteras Negras, para denunciar a falta de igualdade racial.

Como o UOL Esporte revelou nesta terça-feira, a organização de Londres-2012 não está sendo tão rigorosa com os protestos políticos quanto foi anunciado antes da abertura. É verdade que as garotas do Femen, o movimento ucraniano de garotas que fazem topless para propagandear mensagens sociais, foram rapidamente controladas. Mas a reportagem conseguiu entrar, por dois dias seguidos, com camisetas com mensagens políticas e não foi incomodada.

ARGENTINOS RESGATAM DEBATE SOBRE MALVINAS APÓS 30 ANOS

Antes do comercial com o atleta do hóquei (no vídeo acima), um projeto de deputados argentinos de estampar o brasão das Malvinas no uniforme olímpico do país foi banido no parlamento nacional, no fim de 2011.

Já em maio passado, durante encontro de chefes de estado no G-20, o primeiro-ministro britânico David Cameron recusou aceitar uma carta da presidente argentina Cristina Kirchner sobre o tema. O não foi flagrado pelas câmeras de TV e devidamente explorada pelo lado sul-americano do debate.

No mesmo mês, o Comitê Olímpico Internacional emitiu comunicado em que manifestava a preocupação de que os Jogos de Londres se transformassem em espaço de plataforma política.

Na mesma nota, no entanto, e entidade expressou a confiança de que a Argentina não usasse a oportunidade para divulgar a causa Malvinas, mas deixou a pressão nas entrelinhas.

O estatuto do COI prevê inclusive expulsão dos Jogos Olímpicos em caso de manifestação política no espaço do evento. Por isso, os dirigentes do esporte da Argentina assumiram o compromisso de que o caso Malvinas não seria lembrado em Londres. 

Musas atletas em Londres-2012
Musas atletas em Londres-2012

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