Argentina x Reino Unido no hóquei tem festival de encaradas, mas rivais evitam tema Malvinas

Bruno Freitas

Do UOL, em Londres (ING)

  • REUTERS/Kai Pfaffenbach

    Argentino Pedro Ibarra cai após choque com o britânico Matthew Daly em partida de hóquei nesta segunda

    Argentino Pedro Ibarra cai após choque com o britânico Matthew Daly em partida de hóquei nesta segunda

O primeiro encontro direto entre Reino Unido e Argentina nos Jogos de Londres aconteceu no começo da noite desta segunda-feira, em uma partida tensa no hóquei na grama masculino. Com um festival de encaradas e algumas jogadas violentas, o jogo teve vitória britânica por 4 a 1. No entanto, fora de quadra, os atletas se esforçaram para evitar o tema Guerra das Malvinas, mesmo com os antecedentes políticos (e também esportivos) que unem as nações.

A tensa expectativa na esfera esportiva sobre a eventual aparição do tema na Olimpíada nasceu justamente no hóquei.  Natural da ilha, o jogador da seleção Fernando Zylberberg incendiou a polêmica da questão Malvinas ao figurar recentemente em um comercial de televisão cujo slogan dizia: "Para ganhar em solo inglês, treinamos em solo argentino". Apoiada pelo governo federal, a peça publicitária exibia o atleta treinando no território de domínio britânico e beijando o solo da capital Port Stanley.

SOBRE A GUERRA

A Guerra das Malvinas transcorreu entre abril e junho de 1982, quando o governo ditatorial da Argentina decidiu reivindicar a soberania do arquipélago no sul, ocupado pelos britânicos desde 1833. O saldo do conflito armado foi a recuperação do território por parte dos europeus, além de 649 soldados argentinos mortos.

Se em Buenos Aires é difícil não notar as frases de protesto contra os britânicos a respeito das Malvinas, em Londres as referências ao conflito são quase nulas, com exceção de um monumento na Trinidad Square Gardens, dedicado aos 255 mortos britânicos no embate.

No entanto, apesar de ter participado da classificação para a Olímpiada, Zylberberg acabou não incluído na convocação do técnico Pablo Lombi para os Jogos de Londres.

"Não temos nada a ver com isso. Não nos interessa falar de política ou de economia. Queremos apenas representar o nosso país e fazer algo para que treinamos durante anos”, afirmou Rodrigo Vila após a derrota de sua seleção nesta segunda-feira. “Fernando não faz mais parte do time, não faz sentido comentarmos isso", acrescentou o jogador [outros argentinos não quiseram entrar no tema].

Atrito político à parte, o confronto desta segunda na Riverbank Arena foi tenso, repleto de jogadas ríspidas, mas, a bem da verdade, tudo escrito dentro de uma esfera esportiva. A partida começou a esquentar com uma bolada de Lucas Rey em Robert Moore com o jogo parado. Depois Matt Daly cometeu falta violenta em Pedro Ibarra, que gerou empurra-empurra e dedos levantados entre as duas equipes. Na etapa final, Agustin Mazzilli foi mandado para fora pela arbitragem por derrubar um adversário com o taco.

Enquanto isso, os sul-americanos ouviam provocação da torcida, que cantou a música “Don’t cry for me, Argentina” (Não chore por mim, Argentina). Na área de imprensa, um veterano jornalista local dizia em tom de brincadeira que “a Guerra de Falklands está para recomeçar” [em menção ao nome em inglês da ilha reivindicada pelos argentinos].

  • REUTERS/Kai Pfaffenbach

    Reino Unido estreia com vitória por 4 a 1 sobre a Argentina, com apoio ferrenho dos fãs locais

"É normal, gostamos de jogos assim, com este tipo de intensidade. Vimos jogos do Reino Unido pela TV e sabíamos que ia ser exatamente assim", declarou o argentino Rodrigo, que tem dois irmãos no time nacional que disputa a Olimpíada.

ARGENTINOS RESGATAM DEBATE SOBRE MALVINAS APÓS 30 ANOS

Antes do comercial com o atleta do hóquei, um projeto de deputados argentinos de estampar o brasão das Malvinas no uniforme olímpico do país foi banido no parlamento nacional, no fim de 2011.

Já em maio passado, durante encontro de chefes de estado no G-20, o primeiro-ministro britânico David Cameron recusou aceitar uma carta da presidente argentina Cristina Kirchner sobre o tema, em rejeição diante das câmeras e devidamente explorada pelo lado sul-americano do debate.

No mesmo mês, o Comitê Olímpico Internacional emitiu comunicado em que manifestava a preocupação de que os Jogos de Londres se transformassem em espaço de plataforma política.

Na mesma nota, no entanto, e entidade expressou a confiança de que a Argentina não usasse a oportunidade para divulgar a causa Malvinas, mas deixou a pressão nas entrelinhas.

O estatuto do COI prevê inclusive expulsão dos Jogos Olímpicos em caso de manifestação política no espaço do evento. Por isso, os dirigentes do esporte da Argentina assumiram o compromisso de que o caso Malvinas não seria lembrado em Londres. 

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