Dinheiro de milionário ucraniano e veto a cavalo velho fizeram brasileiros virar casaca no hipismo

José Ricardo Leite

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • José Ricardo Leite/UOL

    Luciana Diniz, que decidiu competir por Portugal após Brasil vetar cavalo de 18 anos no Mundial

    Luciana Diniz, que decidiu competir por Portugal após Brasil vetar cavalo de 18 anos no Mundial

O dinheiro investido por um milionário ucraniano e a chance de ter melhores condições no esporte. O veto à oportunidade de participar de um Mundial com um cavalo considerado velho e que teria baixa performance.

Por esses motivos, dois brasileiros “viraram casaca” nos Jogos Olímpicos de Londres e participaram das provas de hipismo por outras nações.

Cassio Rivetti é paulistano, torcedor fanático do São Paulo e formado em administração de empresas na Unip.

UCRANIANO SONHA COM BOLADA

  • Rivetti, ucraniano nascido em São Paulo e que mora na Bélgica, pode ganhar bom prêmio no Rio

O atleta compete a prova de saltos do hipismo e mora e treina na Bélgica. Mas não compete nem pelo país onde mora e tampouco pelo que nasceu. Disputa a Olimpíada pela Ucrânia. É questionado se sabe falar a língua de sua “nova” nação. “Nada, nada, nada”, falou.

Ainda diz que raras vezes vai ao país do Leste Europeu. “É muito difícil. Vou pra lá uma vez por ano às vezes pra montar cavalos novos do meu proprietário, e alguns ficam na Ucrânia. Vou no máximo ou duas vezes por ano.”

Rivetti foi parar na Ucrânia a convite de um milionário do setor de gás apaixonado por hipismo. Alexander Onishchenko fez alguns convites para o brasileiro, até conseguir levá-lo, em 2009, por meio de um bom salário.

“Saltei pela equipe brasileira no Mundial em 2006, em Aachen [Alemanha], mas no Brasil não tem patrocinador forte que invista bem na gente e dê segurança. Ele [ucraniano] me dá oito cavalos e condições perfeitas. Veio essa oportunidade e pensei na minha família. Esse patrocinador me paga um salário e dá boas condições”, explicou.

“Ele [Alexander] é o presidente da Federação Ucraniana e apaixonado. Paga salário pra trabalhar pra ele e tem cavalos. Ele me viu no Mundial, veio falar comigo, mas eu não quis mudar em 2006, mas fomos bem em competições internacionais e depois acertamos”, continuou.

Caso conquistasse uma medalha, Cassio ganharia um prêmio gordo de seu patrão. “Vamos ver aí [o prêmio], ajuda bem. Ele prometeu, vamos ver. Estamos tentando brigar aí. Tem que ser medalha. É coisa boa", disse antes de sua apresentação na final. Mas não levou a medalha. "Agora é ver se consigo no Rio", brincou.

Já a amazona paulistana Luciana Diniz chegou a representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atenas. Teve convites para representar Portugal, mas optou por competir por seu país.

Até que no Mundial de 2006, na Alemanha, teve um desentendimento com a equipe brasileira e decidiu de vez competir pela nação europeia, pela qual tem cidadania por seu avô ser português.

Tudo porque não queriam que ela competisse com sua montaria, o cavalo Dover, considerado velho demais pela equipe nacional. A montaria é brasileira e tinha 18 anos na época.

“Saltei Atenas pelo Brasil e tive a chance de mudar para Portugal em 2006, quando a equipe brasileira não quis me deixar colocar o meu cavalo, Dover, de 18 anos. Teve esse momento decisivo, eles acharam que ia ser demais pro cavalo, mas eu acreditava nele. Ele estava comigo há 11 anos. Eu sabia o que ele podia fazer. Mas os outros não acreditavam nele. Eu acreditei que poderia chegar lá e chegamos”, falou.

“Eu sabia que ele podia ir. Ele é brasileiro e agora está com 25 anos na fazenda”, continuou.

Luciana mora na Alemanha e tem dois filhos nascidos no país. Diz ainda amar o Brasil, mas descarta voltar a competir por sua nação.

“Amo o Brasil, e adoro Portugal. Foi a melhor decisão que tive para levantar o hipismo por Portugal. Estou onde Deus quer.”, finalizou.

Em Londres, Luciana competiu com o cavalo Lennox, de 11 anos e que é de propriedade de seu pai, Arnaldo Diniz, irmão do empresário Abílio Diniz.

Luciana terminou sua participação nos saltos na 17ª posição, enquanto Cassio Rivetti foi 12º, ao lado do brasileiro Doda. Os dois “vira-casacas” ficaram nos Jogos à frente de Rodrigo Pessoa, campeão olímpico em 2004 e que ficou em 22º

Brasileiros em Londres - dia 12
Brasileiros em Londres - dia 12

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