CEO de 2016 ignora escândalo e diz que Comitê se orgulha de João Havelange
Gustavo Franceschini*
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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REUTERS/Oleg Popov/Files
João Havelange trabalhou politicamente para que o Rio fosse escolhido para sediar os Jogos de 2016
A divulgação internacional de que João Havelange recebeu propina de uma empresa de marketing esportivo ligada à Fifa nos anos 1990 não diminuiu a reverência que os atuais cartolas fazem a ele. Em entrevista que marcou o fato de estarmos a quatro anos do início dos Jogos Olímpicos de 2016, o CEO do Comitê Organizador ignorou o escândalo internacional e rasgou elogios ao ex-mandatário da Fifa.
"O Rio tem muito orgulho de ter contado com João Havelange, por tudo que ele fez pelo esporte brasileiro e pelo papel que ele teve no âmbito internacional, com a popularização do futebol. O problema que ele teve com a Justiça suíça, até onde eu sei, já foi resolvido. Ele já pagou sua dívida. Tanto eu como o presidente Nuzman temos muito orgulho de ter tido o apoio dele", disse Leonardo Gryner, CEO do Comitê Organizador dos Jogos de 2016.
A declaração de Gryner foi uma resposta à pergunta do UOL Esporte sobre o possível impacto que a associação ao nome do ex-cartola poderia causar ao evento. João Havelange foi um dos garotos-propaganda de 2016 há três anos, quando o Brasil conquistou o direito de receber os jogos. Além disso, ele dá nome ao Engenhão, que será o estádio olímpico daqui a quatro anos. Uma possível mudança no nome do estádio, porém, foi descartada por Gryner.
João Havelange
Há pouco menos de um mês, João Havelange e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), viram seus nomes serem confirmados como réu do processo que investigou a relação da Fifa com a agência ISL. Há dois anos, ambos foram condenados e pagaram somas milionárias para manterem o resultado do inquérito em sigilo.
Quando teve permissão da Justiça suíça, no entanto, a Fifa divulgou que Ricardo Teixeira e João Havelange amealharam, ao todo, quase 22 milhões de francos suíços (R$ 45 milhões). O Comitê, no entanto, segue alheio ao tema, exalta o cartola e exibe seus planos para 2016.
Em apresentação voltada para a imprensa internacional, Gryner ressaltou que todos os cronogramas serão cumpridos, apresentou os prazos de algumas áreas esportivas. Por teleconferência, Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, cravou que o Velódromo, um dos temas-chaves da preparação para a Olimpíada, não será demolido.
"Não tenho dúvida de que foi dito em 2007 que o Velódromo do Pan não poderia ser usado em uma Olimpíada da maneira como ele foi construído. Mas nós temos de passar uma mensagem à população de respeito ao recurso público. A demolição me parece inaceitável. Estamos conversando e vamos tentar chegar a uma solução. O que eu posso dizer é que ele não será demolido em hipótese alguma", disse o político.
A ideia da demolição foi levantada há pouco mais de um mês. Da maneira como está hoje, o Velódromo não pode ser utilizado nas Olimpíadas. Só que como ele custou R$ 14 milhões aos cofres públicos há cinco anos, Eduardo Paes quer evitar o ônus político às vésperas da eleição municipal. Gryner, no entanto, não é tão incisivo.
"Como a gente já tinha dito, estamos reavaliando o que pode ser feito com o Velódromo. Tão logo a gente chegue em uma solução vocês serão comunicados", disse o CEO de 2016.
*Com agências internacionais // Atualizada às 14h15