Favorita à conquista do ouro na Star da vela, a dupla Robert Scheidt e Bruno Prada chega a raia olímpica de Weymouth com uma bagagem de preparação perfeccionista. Apesar do status de parceria a ser batida, os brasileiros atuais tricampeões mundiais da classe recorreram até a espionagem de adversários dentro da água para projetar o cenário de competição nos Jogos de Londres.

A espionagem não foi necessariamente direcionada aos principais rivais dos brasileiros, como os britânicos Ian Percy e Andrew Simpson, atuais campeões olímpicos, nomes que oferecem um perfil de competição mais claro, em razão dos inúmeros encontros na água. Na verdade, o radar de captação de Scheidt e Prada chegou a ser acionado em momentos em que um adversário apresentou alguma novidade repentina de performance.

"Sempre que a gente vê um barco rápido, pedimos para um técnico ir em um bote e filmar discretamente para saber melhor sobre os adversários", admitiu o proeiro Bruno Prada durante evento de promoção da dupla em São Paulo, durante o primeiro semestre.

Os brasileiros da Star também admitem que foram monitorados em ação nos últimos tempos. Scheidt e Prada contam com um repertório de pouco mais de dez manobras treinadas para a competição olímpica, algumas delas desenvolvidas por eles mesmos.

Mas nem só de espionagem vive a competição de alto nível da vela. Nos últimos meses de preparação para a Olimpíada, os brasileiros favoritos da classe Star firmaram parceria com duas parcerias estrangeiras para intercâmbio de informações. Scheidt e Prada treinaram junto com os franceses Xavier Rohart e Pierre Ponsot (3ª dupla do ranking mundial) e os alemães Johannes Polgar e Markus Koy (6ºs na relação) para comparar tempos e estratégias.

Mais do que a atenção sobre eventuais novidades técnicas do circuito, os brasileiros da Star trabalharam bastante para encontrar a embarcação ideal para a disputa olímpica. Depois de testarem modelos de várias nacionalidades, Scheidt e Prada optaram pelo norte-americano PStar, que esteve com a dupla no Mundial de 2011, na Austrália. Neste ano, os favoritos testaram um exemplar italiano (Follia) e não se sentiram totalmente à vontade.

Outro tópico de estratégia no acerto ideal de competição foi alcançado na parceria com o argentino Juan Garay, famoso designer de velas para a America's Cup.

A preocupação com "barcos inovadores" é uma tradição na Star brasileira. Para Atenas-2004, por exemplo, Torben Grael e Marcelo Ferreira chegaram aos Jogos com uma quilha experimental, que turbinou o favoritismo da dupla. Com barco mais rápido do que os rivais, a parceria foi campeã olímpica com folgas nas águas gregas.

No começo de junho, Scheidt e Prada disputaram etapa da Copa do Mundo na mesma raia que recebe a competição olímpica. Com condições atípicas de ventos, que ocasionaram o adiamento de quatro das 11 regatas, os brasileiros terminaram na segunda posição em Weymouth, atrás dos irlandeses Peter O'leary e David Burrows.

A classe Star é a mais competitiva dos Jogos Olímpicos e, dos 32 atletas que disputam a competição, existem nada menos que 50 participações em Olimpíadas. Além dos brasileiros e dos britânicos Percy e Simpson, a Isaf (Federação Internacional de Vela) acredita que os suecos, liderados por Fredrik Loof (que disputa a sua sexta Olimpíada) e os franceses, comandados por Xavier Rohart (com cinco participações nos Jogos) também podem subir ao pódio. Ambos velejam ao lado de proeiros estreantes nos Jogos. 

A parceria Scheidt/Prada dominou o ranking mundial da Classe nos últimos 18 meses, tendo vencido 11 campeonatos consecutivos entre maio de 2011 e abril de 2012.

A disputa da Star nos Jogos de Londres estará compreendida na primeira semana da Olímpiada, de 29 de julho até 5 de agosto.