Seleção confia em fase "domada" de Iziane para ver estrela problemática mais produtiva

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • Lucy Nicholson/Reuters

    Na reserva, Iziane (à direita) lamenta derrota brasileira na semifinal do Pan-2011 contra Porto Rico

    Na reserva, Iziane (à direita) lamenta derrota brasileira na semifinal do Pan-2011 contra Porto Rico

O basquete das mulheres no Brasil não vive mais os tempos de bonança de Hortência, Paula e Janeth, mas hoje, dentro da seleção, existe a fé de que Iziane possa conduzir a seleção a um bom desempenho nos Jogos Olímpicos de Londres.

A aposta reside na crença em uma fase mais madura e focada da talentosa ala-armadora, que leva à equipe um histórico particular de polêmicas.

DINHEIRO E PÁTRIA

Declaração de Iziane em fevereiro ao jornal Folha de S. Paulo, antes de definir sua presença no período de treinos da seleção, quando ainda considerava a preferência pela WNBA:

"O que eu estou vendo neste momento é a parte financeira. Só o prestígio não vai pagar minhas contas no final do mês. Mas ainda não tomei a decisão final. Com certeza farei o que for melhor para mim".

Hortência falou a respeito no evento de quinta-feira, depois da convocação de Tarallo para o período olímpico:

"A gente sabe que essas atletas perdem dinheiro na seleção. Mas dinheiro não pode ser o diferencial para que elas estejam aqui. Oportunidades não vão faltar para ganhar dinheiro e ficar rica. Mas não sou contra, elas têm que ganhar. Mas dá para ganhar depois".

Na última quinta-feira, o técnico Luiz Cláudio Tarallo divulgou a pré-lista de 18 jogadoras para os treinos para Londres, em relação que será reduzida para 12 atletas mais adiante no ano.

No evento de divulgação, o treinador manifestou o otimismo da comissão em contar com Iziane desde o começo da preparação, já que a atleta não conseguiu acordo com nenhuma equipe da WNBA.

"A gente fala para essas jogadoras: ‘Você quer estar aqui, quer representar o país?’ A Érika sempre quis. Com a Iziane a gente vem fazendo uma aproximação há um bom tempo, fazendo ela entender o processo, a importância dela no grupo desde o início", diz a ex-jogadora Hortência Marcari, diretora das seleções femininas da CBB (Confederação Brasileira de Basquete).

Iziane ficou marcada como uma jogadora problemática a partir de 2008, quando se recusou a entrar em quadra durante uma partida contra Belarus no Pré-Olímpico, contrariando ordens do então técnico Paulo Bassul. Ainda naquele ano, o treinador trocou farpas com a atleta através da imprensa e deixou-a fora da lista para os Jogos de Pequim. No entanto, em 2009 reintegrou a "desafeta", em medida que teria tido interferência da direção da CBB.

Os contratos com equipes da WNBA também foram uma questão de desgaste entre Iziane e a seleção brasileira em diferentes momentos. Em 2003, a ala-armadora foi para a liga norte-americana e recusou a convocação para o Mundial Sub-21.

PERFIL DA ESTRELA

Nome: Iziane Castro Marques
Nascimento: 13.mar de 1982, em São Luís (MA)
Posição: ala/armadora
Altura: 1,82 m
Times:
Miami Sol (EUA) - 2002
Phoenix Mercury (EUA) - 2003 a 2004
Seattle Storm (EUA) - 2005
Unimed/Ourinhos - 2007
Atlanta Dream (EUA) - 2008 a 2011
Maranhão Basquete – 2012

Neste ano, depois de disputar a Liga de Basquete Feminino em sua terra natal pelo Maranhão Basquete, Iziane não conseguiu contrato com nenhum time da WNBA, apesar de ter recebido sondagens [a temporada vai de maio a setembro, com hiato entre julho e agosto, durante a Olimpíada].

Assim, sem programação de atividade por clubes, acatou o chamado para integrar o projeto de treinamento da seleção desde o princípio, diferentemente de outras oportunidades.

"Das outras vezes que ela veio, só veio bem em cima da hora, chegou meio perdida, desentrosada com o time. A gente sabe que ela pode dar muito mais, pode entender a cabeça do treinador mais facilmente se chegar antes", declara Hortência, uma voz de ascendência sobre Iziane.

"Se a atleta chega muito próximo do torneio, o técnico tem muita carga de informação para passar em pouco tempo, não tem como assimilar. Ainda temos que entender que a Iziane é uma finalizadora, que pode passar uma imagem de individualista, mas é a natureza da posição dela", endossa o técnico da seleção que vai a Londres.

PRESENTES? SELEÇÃO NO MARANHÃO E TÉCNICA DOS TEMPOS DE BASE

Inicialmente a convocação de quinta-feira também serviria para a disputa do Sul-Americano feminino, torneio que acabou cancelado pela entidade que gere o basquete continental. A ideia da CBB era levar o evento em maio para o Maranhão, em medida que poderia ser vista como um gesto de agrado a Iziane.

PRÉ-LISTA DA SELEÇÃO PARA LONDRES

Adriana (Parma-ITA) – Armadora
Babi (Americana) – Armadora
Clarrisa (Americana) – Pivô
Damires (Minnesota Lynx-EUA) - Ala-pivô
Erika (Perfumeria-EUA) – Pivô
Franciele (Hondarribia-ESP) – Ala-pivô
Gilmara (Catanduva) – Ala-pivô
Iziane (Maranhão) – Ala-armadora
Jaqueline (Santo André) – Ala-armadora
Joice (Ourinhos) – Armadora
Karla (Americana) – Ala-armadora
Nádia (Santo André) – Pivô
Palmira (Catanduva) - Ala-armadora
Chuca (Ourinhos) - ala-armadora
Patricia (São José) – Ala-armadora
Renata (Maranhão) – Ala
Silvia (Ourinhos) – Ala
Tássia (Americana) - Armadora

Mesmo com o cancelamento do Sul-Americano, São Luís ainda pode receber a seleção, pois Hortência e a CBB costuram a realização de um torneio quadrangular com seleções do continente para preencher a lacuna inesperada de calendário.

Outra ação interna no esforço de fazer de Iziane a líder que se espera do time é a presença de Maria do Carmo Mardegan Ferreira na comissão de Luiz Cláudio Tarallo. Macau, como é conhecida no meio "basqueteiro", é uma profissional de êxito na formação de jovens atletas e participou do desenvolvimento da ala-armadora em um projeto em Osasco, nas categorias de base do BCN.

"Trabalhei quatro anos com a Iziane e sabemos que ela pode dar um algo a mais. Ela gosta de treinar mais, não é daquelas jogadoras que fogem do treino, é muito dedicada. Às vezes as pessoas veem a finalizadora como egoísta, mas na seleção masculina é assim também com o Marcelinho Machado, eles são os responsáveis pelo chute", afirma Macau.

"A gente vai ver depois se ela está chutando para a equipe ou para ela. Mas ela está bem diferente agora, focada em dar o melhor para a equipe, puxando as jogadoras mais inexperientes, com espírito coletivo", acrescenta a auxiliar de Tarallo.

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