Ao lado do fiel escudeiro Bruno Prada, Robert Scheidt pode virar, em Londres, o maior ganhador de medalhas de ouro da história olímpica do Brasil.
O caminho para o grande recorde, deixado de lado por ele na preparação, passa por testes de barcos, uma série invicta e muitas superstições, que vão de peça de xadrez a pulseira da sorte. Em entrevista coletiva em São Paulo, a dupla contou que até uma cervejinha é permitida.
“Somos filhos de Deus, não é? Tem de ter moderação em tudo o que você faz. É claro que durante a competição não dá, mas em tempos de treino, sim, às vezes mais à tarde. A cervejinha e o vinho de forma moderada são bem-vindos”, disse Bruno Prada, com bom humor, ao ser questionado sobre o álcool na preparação.
Classificados para os Jogos de Londres, os dois formam a dupla a ser batida no momento. Scheidt e Prada lideram o ranking mundial da classe star há 20 meses, estão invictos desde maio de 2011 e, nesse período, ganharam o Mundial de vela pela segunda vez e a Copa do Mundo de vela, inédita para o esporte brasileiro.
Se confirmar o favoritismo em Londres, Robert Scheidt vai se tornar o maior atleta olímpico do país em todos os tempos. Hoje, ele soma dois ouros (Atlanta-1996 e Atenas-2004) e uma prata (Sydney-2000) na laser e uma prata na classe star (Pequim-2008). Torben Grael, seu ídolo e rival nessa lista, tem cinco conquistas, sendo dois ouros, uma prata e dois bronzes.
SCHEIDT APOSTA EM STAR NOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016
A classe Star, excluída da programação inicial da Olimpíada do Rio de Janeiro, deve ser disputada, avalia Robert Scheidt. Para ele, o novo presidente da Isaf (Federação Internacional de Vela), que será eleito neste ano, deve pedir ao Comitê Olímpico Internacional que o esporte ganhe a disputa de sua 11ª medalha olímpica, o que abriria espaço para a star sem excluir outra categoria.
O apoio do Comitê Olímpico Brasileiro, que se prontificaria a organizar o evento no qual compete um dos maiores astros do país-sede, seria fundamental. Caso contrário, Scheidt admite mudar de classe. “Quero ir até 2016. Laser, 49er e Finn são mudanças possíveis, mas ainda trabalho com a ideia de ficar na Star.”
Ele diz não pensar nisso para não interferir na sua preparação. Scheidt fica em São Paulo até quarta que vem, quando embarca para sua casa na Itália, no Lago di Garda, onde vive com a mulher e o filho. Até a Olimpíada, ele pretende ficar competindo e treinando na Europa, onde deve até testar um novo barco.
“Vamos experimentar um italiano que é mais tradicional, melhor com todos os ventos. O modelo mais novo dessa marca tem umas mudanças que deixam ele mais veloz. Se não der certo, vamos voltar ao norte-americano que compramos no ano passado, que é bem equilibrado e concentra o peso no centro, o que é muito bom”, explicou Scheidt.
Se eles não perderem nenhuma das quatro competições que pretendem disputar até Londres, terão uma companhia inusitada nas regatas olímpicas: a pulseira da sorte de Bruno Prada. Supersticioso, ele carrega consigo no braço o objeto azul que serviu de credencial para entrar no clube em que aconteceu o último Mundial de vela, no ano passado.
“Como a gente ganhou, eu resolvi seguir usando. A vela não é uma ciência exata. Às vezes você faz tudo bem, mas o vento para na hora errada e acaba com a sua regata. Só que o amuleto só vale se estamos ganhando. Se perdermos até lá, aí eu tiro a pulseira”, diz Bruno Prada, que está longe de ser o único cauteloso da dupla.
Scheidt conta, em seu site oficial, que carrega consigo um cavalo de jogo de xadrez desde seu primeiro campeonato. Além disso, também conta com uma medalhinha. “Está sempre comigo, inclusive agora”, disse o velejador, durante o papo com a imprensa no Yacht Club Santo Amaro, à beira da represa Guarapiranga, em São Paulo.