Brasileira critica movimento contra saias e diz que boxe feminino precisa ter graça da mulher

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • Marzia Davide/AFP

    Introdução das saias no boxe feminino gera polêmica entre as atletas da modalidade

    Introdução das saias no boxe feminino gera polêmica entre as atletas da modalidade

Um debate feminista recentemente tomou conta de um dos esportes reconhecidamente mais ligados ao universo masculino. Estreante na Olimpíada neste ano, nos Jogos de Londres, o boxe para mulheres pode ganhar a introdução de saias, em medida que vem sendo tratada internamente pela entidade que rege a modalidade em âmbito amador. Ainda em instante de discussão, a questão da vestimenta divide opiniões entre atletas e inspira argumentações apaixonadas.

EM LADOS OPOSTOS

  • Maurício Dehò/UOL Esporte

    Roseli Feitosa mostra toques femininos durante treinos e defende ideia das saias no boxe feminino

  • Reprodução

    Elizabeth Plank carrega status de musa, mas diz que saias ameaçam as conquistas das mulheres

Considerada uma musa do boxe, a canadense Elizabeth Plank esquentou o debate ao levar à internet um abaixo-assinado contra as saias, em discurso de tom feminista. Na ala contrária, a atual campeã mundial Roseli Feitosa (nome mais destacado da modalidade no Brasil) diz acreditar que o seu esporte precisa de medidas para se desvincular da imagem masculinizada.

Em contato com a reportagem do UOL Esporte, Roseli conta que usou a novidade no Mundial de Barbados, em 2010, quando saiu campeã. O teste foi promovido pela direção da Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador) para sentir a recepção de atletas e público.

"Eu usei na semifinal e final do Mundial. Achei legal. A gente usa capacete e precisa estar com os cabelos sempre para dentro. Se o cabelo escapa um pouco, os árbitros param a luta. Isso é um detalhe de um esporte mais masculinizado. A maioria das atletas já não tem o corpo muito feminino, é bem masculinizado. Por isso acho que é uma boa ideia. [As saias] podem dar um olhar diferente, tirar esse preconceito, mostrar que o boxe não tem só 'Maria João'", comentou Roseli Feitosa.

"[O movimento de resistência] é uma besteira. Acho a ideia da saia muito interessante", acrescenta a brasileira de 22 anos, que ainda tentará a classificação para a Olimpíada de Londres.

Na última semana, membros da Aiba estiveram reunidos em um congresso na Tailândia, onde discutiram a ideia de adotar a saia para o boxe feminino a partir dos Jogos de Londres. No entanto, os dirigentes deixaram o encontro sem uma definição de data para bater o martelo sobre a nova regra. 

Durante 2011, o presidente da Aiba relatou ter ouvido reclamações de gente que não consegue diferenciar atletas homens e mulheres do boxe, por eles usarem o mesmo uniforme. Desde então o dirigente taiwanês Wu Ching-kuo passou a estimular o uso das saias, que já foram adotadas por algumas pugilistas.

Paralelamente, a canadense Elizabeth Plank passou a liderar um movimento de resistência, com a argumentação de que a saia representaria um estereótipo sexista, que derrubaria a conquista da mulher de estar em cima de um ringue. A petição ganhou adesão de algumas atletas olímpicas (a tricampeã mundial Katie Taylor disse que não sai de saia nem à noite) e, até a última quinta-feira, contava com mais de 54 mil assinaturas.

MAIS SOBRE BOXE NO UOL ESPORTE

Em entrevista ao UOL Esporte, o brasileiro Everton Lopes disse que evitará encontros mais íntimos com a namorada (a porto-riquenha Kiria Tapia) durante a Olimpíada de Londres. Campeão mundial de sua categoria, o baiano afirma que vai privilegiar o foco na disputa, para evitar os comentários dos últimos Jogos Pan-Americano. Em Guadalajara, Everton ficou com o bronze e ouviu críticas de que passou tempo demais com Kiria.

"Se há algo ameaçador sobre uma mulher de bermudas, isso sugere que ainda há algo ameaçador sobre uma mulher em plena capacidade para prosperar. Enquanto os homens são ensinados a pedir desculpas por suas fraquezas, as mulheres são ensinadas a pedir desculpas por suas forças", discorre Plank no texto que acompanha a campanha de assinaturas.

"Esta petição não é sobre um pedaço de tecido, é sobre os atletas. Não se trata de suas roupas, é sobre sua credibilidade. Se há uma lição que eu aprendi através da minha experiência como lutadora de boxe é que, quando alguém dá um soco, encolher-se na posição fetal não é uma opção. Você se levanta e você luta", emenda a canadense.

MAIS MOBILIDADE COM SAIAS

Em preparação para buscar uma vaga na Olimpíada de Londres, Roseli Feitosa conta que se sente mais à vontade vestindo saias em cima do ringue. Quem oferece este argumento é a atleta, e não a mulher, assegura a campeã mundial.

"Não, pelo contrário", rebate Roseli sobre uma possível limitação de movimentos com as saias. "Com a bermuda, às vezes você precisa abrir as pernas em um movimento e ela prende. É bem tranquilo com saias, a gente usa um short térmico por baixo", opina.

Segundo Roseli, a maioria de suas colegas de luvas gosta da ideia das saias como regra do boxe feminino. "Algumas não gostaram, umas que tem uma outra opção sexual, não são mais femininas. Mas a maior parte delas gostou da ideia", afirma.

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