UOL Olimpíadas 2008 Notícias

11/08/2008 - 16h44

"Mulher de gelo", Ketleyn atropela favoritas e ignora até choro por 1ª medalha

Bruno Doro
Em Pequim (China)
"Quem ganhou a medalha foi você ou sua técnica?" A pergunta, feita por um jornalista chinês assim que Ketleyn Quadros recebeu o bronze dos leves do judô nos Jogos Olímpicos de Pequim, é o retrato da mulher de gelo que deu ao Brasil o primeiro pódio em provas individuais da história olímpica.

Sem chorar, apenas com um sorriso discreto, a brasileira não demonstrou muita emoção em nenhum momento do dia, nem mesmo ao receber a medalha. "Eu estou muito feliz, mas não consigo demonstrar."

A frieza acabou virando uma arma na competição chinesa. Sem sorte na chave, ela enfrentou uma série de atletas com currículos muito mais extenso do que o seu. A luta que a impulsionou foi contra Isabel Fernandez, espanhola campeã do mundo, olímpica e dona de 44 medalhas em Copas do Mundo.

Ela ainda derrotou uma campeã mundial júnior e medalhista do Mundial do Rio de Janeiro (Aiko Sato/JAP) e outra medalhista olímpica (Maria Pekli/AUS) em sua campanha. Sua primeira rival, a coreana Sin-Young Kang, tem o currículo mais modesto: é "apenas" a atual vice-campeã asiática.

"Em Olimpíada, todas são experientes. Então, o que conta é quem tem mais determinação, mais vontade. Eu tive essa vontade", afirmou a garota, citando sua companheira de clube em Minas Gerais, Érika Miranda (meio-leve, 52 kg), cortada por lesão no joelho. "Quando vi a Érika chorando, pensei que tinha um monte de gente que não tinha a oportunidade que estava tendo. Podia ser a minha única chance. Porque não aproveitar?"

Foi essa mesma postura que ela usou para chegar onde chegou. Há um ano, no Pan-Americano do Rio de Janeiro, ela nem mesmo fazia parte da seleção brasileira. A titular era a santista Danielle Zangrando, ouro no Rio-2007 e grande favorita para a vaga. Ketleyn não se abateu, bateu uma favorita nas seletivas e garantiu sua vaga olímpica, mais ou menos como fez em Pequim.

"Naquela época, me preocupei em fazer um trabalho muito forte, batalhar. O resultado de tudo isso viria como conseqüência. E foi tudo acontecendo muito rápido. Primeiro aconteceu uma coisa, depois outra e o trabalho foi fluindo. A cada passo eu podia andar mais um pouquinho", relembra.

Antítese da mulher de gelo, a técnica Rosicléia Campos não conseguia segurar o choro após a conquista. A resposta de Ketleyn ao chinês, citado na primeira linha, não podia ser outro. "Medalha olímpica é meu sonho. E fui eu que ganhei. Eu".

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