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30/07/2008 - 07h31

Com ajuda do "boca a boca", handebol fica mais europeu

Maurício Dehò
Em Guarulhos (SP)
Tal qual no futebol, a seleção feminina de handebol é repleta de jogadoras "estrangeiras". Entre as 14 brasileiras convocadas para os Jogos de Pequim, na próxima semana, apenas duas delas não atuam no handebol europeu, o mais forte do mundo. E, entre estas duas, uma está sem clube.

A debandada de atletas do país começou após o Campeonato Mundial de 1999. A goleira catarinense Chana foi vista por empresários espanhóis e saiu da competição com um contrato de cinco anos com o El Serrobus, de Valência. Ela foi a primeira jogadora do país a se transferir para a Europa. E não foi só isso, usou a confiança dos técnicos das equipes pelas quais passou para levar outras brasileiras para lá.

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Chana: "Eu sempre tentei levar minhas companheiras para jogarem na Europa"
META É SEGUIR EVOLUÇÃO GRADUAL
SELEÇÃO 'VELHINHA' PARA PEQUIM
"Eu sempre tentei levar minhas companheiras para jogarem na Europa", admite a goleira. A maioria das indicações era apenas verbal. Como os técnicos acreditavam na veracidade da "propaganda" da goleira, muitas viajaram sem nunca terem sido vistas em quadra.

"Em todos os clubes que joguei, sempre levei uma brasileira", conta Chana. A primeira privilegiada foi uma concorrente de sua posição, a também goleira Darly, indicada para outro time espanhol.

Outras que foram beneficiadas foram Dali, que também vai a Pequim, e Juceli. Chana não foi a única que auxiliou as companheiras. A goleira fez destas indicações uma tradição. Alessandra, que vai aos seus primeiros Jogos, chegou ao handebol espanhol por indicação da brasileira Chicória. "O time precisava de uma pivô e ela veio me perguntar se eu queria ir para lá. Eu disse que tinha interesse e fui", explica ela, que não tem planos de voltar ao Brasil.

Caçula da delegação, a armadora Ana Paula, de 20 anos, usou até de tecnologia para se transferir. Um vídeo de suas jogadas no Guarulhos fez sucesso com o técnico do Elche, também da Espanha, e, mesmo novata, ela já chega a Pequim com experiência internacional.


Nacional sofre
Enquanto as brasileiras fazem sucesso internacional, a modalidade sofre dentro do Brasil. A única brasileira que atua no handebol nacional é Aline Pará, do Blumenau. Para isso, teve de passar dificuldades como a dissolução do Guarulhos, time tradicional na modalidade, e a falta de verba no Jundiaí.

Apesar de dois convites para jogar fora - um deles chegou a ser assinado, mas a jogadora desistiu -, a paraibana de João Pessoa preferiu continuar no país. "Foi uma decisão pessoal. Acho que o handebol nacional está no mesmo nível do que o europeu, a diferença é que as maiores jogadoras estão lá", defende a ponta esquerda.

Já Lucila, veterana que vai à terceira Olimpíada, é a outra jogadora que não atua no Velho Continente. Além disso, também não atua no Brasil após ter uma passagem pelo Jundiaí. "A única coisa que recebemos foi o dinheiro do transporte para ir para lá", conta ela. Lesionada, a jogadora teve como únicos apoios o patrocínio de uma clínica de fisioterapia enquanto passou por tratamento, e do Comitê Olímpico Brasileiro, com uma verba por ter disputado o Pan do Rio.

Para a precursora Chana, o problema está na falta de apoio no Brasil. "É uma conseqüência, por não termos recursos. Se você quer melhorar, tem de jogar lá fora, mas claro que todas gostariam de voltar para o Brasil", conclui a goleira.

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