Em menos de um ano sob o comando da seleção, o técnico Paulo Bassul obteve êxito em seu primeiro grande teste, a classificação para os Jogos de Pequim. A conquista, vinda após a saída de nove atletas entre lesões e aposentadorias, coroou o trabalho de renovação do time e reforçou sua autoridade no grupo.
Depois de passar cinco anos como assistente do antecessor Antonio Carlos Barbosa, Bassul assumiu como técnico após o fim dos Jogos Pan-Americanos do Rio pregando a harmonia e a coletividade, mas soube ter pulso firme quando viu sua liderança ameaçada. A polêmica decisão de cortar Iziane teve o respaldo dos dirigentes e o fortaleceu às vésperas de sua primeira Olimpíada como treinador.
"Quando comuniquei a decisão à CBB (Confederação Brasileira de Basquete), eles só me perguntaram se eu estava de cabeça fria. O apoio foi irrestrito", comemora Bassul. No dia do anúncio do afastamento de Iziane, no entanto, sua decisão inicialmente foi colocada em dúvida pelo presidente da entidade, Gerasime Nicolas Bozikis, o Grego.
"Vamos aguardar uns dias e repensar o assunto com mais calma", havia dito o dirigente, que na manhã seguinte já endossava o discurso do treinador. "A seleção brasileira está aberta para quem tem espírito coletivo", corrigiu. "Ele é o técnico e é que comanda."
Bassul ainda justificou sua decisão. "Quando topei assumir a seleção, disse que ficaria honrado, mas que só voltaria com autonomia e é o que eu exijo", endureceu Bassul.
Da arquibancada, quem se irritou com Iziane foi um dos ícones do país, a ex-jogadora e treinadora brasileira Maria Helena Cardoso, que também apoiou a decisão do técnico. "Acho que a Iziane perdeu a razão. Bassul fez certo, impôs a hierarquia", disse ela, que assistiu à confusão in loco em Madri e não poupou críticas à atleta.
"Estrela como ela diz ser, ela precisa aprender a ser uma estrela humilde e usar isso para o bem da equipe, como as estrelas Paula e Hortência fizeram", afirmou Maria Helena. "O dever da jogadora é obedecer ao técnico. Sinto por tudo isso, mas concordo com a sanção."
Entre as demais atletas, que o tratam por "Paulinho", seu jeito calmo e paciente tem aceitação unânime. "Ele é o nosso técnico e tomamos o partido dele. Nem é uma questão de estar do lado desse ou contra aquele, mas o fato é que nós concordamos com ele. Depois que a Iziane saiu, ficamos mais fortes e unidas."
Um dos trunfos de Bassul foi trazer de volta ao time verde-amarelo a armadora que hoje é titular absoluta, Claudinha, que tinha se afastado da seleção em 2002. "Voltei porque o Paulinho (Bassul) me deixa à vontade para trabalhar com ele", definiu a veterana.
E mesmo sua reserva, Natália, também é grata ao treinador. "Ele sempre conversa comigo e me dá segurança. Até chorei na preleção do jogo contra Cuba", diz a novata de 23 anos.
Pensamento parecido tem Karla, que herdou a vaga de Iziane no quinteto titular. "Se eu pude entrar, é porque o Paulinho (Bassul) acreditou em mim e me deu essa confiança. Além disso, o elenco me recebeu e me apoiou", diz a ala-armadora.
Para o comandante, a estratégia é "Acho estúpido tratar as jogadoras do mesmo jeito. Em igualdade, sim, mas cada uma com seu jeito", ensina Bassul. "O mais difícil é descobrir o gatilho de cada uma nesse grupo de mulheres com personalidades tão distintas. Depois de uma bronca, umas renascem, acordam. Outras apagam de vez, não conseguem reagir. É preciso conhecê-las bem para saber como despertá-las."