UOL Olimpíadas 2008 Notícias

19/05/2008 - 14h38

Ádria Santos e Clodoaldo Silva criticam permissão dada a Pistorius

Bruno Doro
Em São Paulo
A permissão para competir por uma vaga nas Olimpíadas de Pequim dada ao sul-africano Oscar Pistorius desagradou aos dois principais nomes do esporte paraolímpico brasileiro. A velocista Ádria Santos e o nadador Clodoaldo Silva, ambos campeões em Atenas-2004, acham que o velocista, que corre com duas próteses de carbono, leva vantagem sobre os rivais.

OPINIÕES DIFERENTES
Folha Imagem
Apesar das opiniões parecidas sobre o caso Pistorius, Ádria e Clodoaldo têm opiniões distintas quanto à participação de atletas com deficiência nas Olimpíadas.

Ádria diz que "paraolímpicos tem suas limitações, não temos como negar isso. Não podemos comparar as duas coisas".

Já Clodoaldo, embalado pela classificação de uma campeã paraolímpica na maratona aquática, diz que "atletas paraolímpicos deveriam passar a almejar também os índices olímpicos".
ÁDRIA: 'SÃO DUAS COISAS DISTINTAS'
CLODOALDO: 'É UM INCENTIVO'
Ádria, velocista como Pistorius e dona de dez medalhas paraolímpicas, usa sua experiência pessoal para explicar o problema. Segundo ela, a prova de 400 metros rasos é de resistência e, nos últimos 100 metros, todo corredor sente dores muito fortes nas panturrilhas, causados pela produção de ácido lático, indicativo de fadiga.

"Eu sou contra. As próteses ajudam, principalmente nos 400 m, em que a resistência faz a diferença. Sem panturrilha, ele não sente a dor que todo atleta sente no fim da prova. Tem apenas de se equilibrar, enquanto os outros vão estar sofrendo com as panturrilhas", diz a corredora, campeã paraolímpica dos 100 m e medalhista dos 200 m e 400 m da classe T11 (para deficientes visuais totais).

Pistorius foi liberado pelo Tribunal de Arbitragem do Esporte na última sexta-feira para competir por uma vaga em Pequim. Ele nasceu sem as duas fíbulas, osso da canela, e teve amputar as pernas até a altura dos joelhos aos 11 meses. Para correr, usa duas próteses de carbono que, segundo a Iaaf, criaria energia a cada passada - o TAS considerou insuficientes os estudos que mostravam ganho de energia e liberou o atleta.

Maior atleta paraolímpico do país, o nadador Clodoaldo Silva criticou o fato das próteses criarem energia. "O espírito olímpico fala que todos os atletas devem competir em igualdade. Na minha opinião, foi provado que ele leva vantagem artificial com as próteses e não deveria competir com os atletas 'convencionais'", analisa.

Os dois brasileiros já estão garantidos nas Olimpíadas. Ádria vai tentar medalhas nas provas dos 100 m, 200 m e 400 m. Já Clodoaldo vai para o recorde de medalhas em uma paraolimpíada, nadando nove provas. Pistorius ainda tem de conseguir o índice nos 400 m para disputar os Jogos de Pequim.

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