Queniano aprende a lançar dardo na internet e vira exceção na terra dos maratonistas

Do UOL, em São Paulo

Os brasileiros conhecem bem a fama do Quênia: todo dia 31 de dezembro há um africano querendo estragar a festa na São Silvestre, mostrando o poder de seus competidores nas provas de fundo do atletismo. Mas nem todo queniano precisa ser maratonista, não é? Nos Jogos de Londres, é isso o que Julius Yego tenta provar. Ele é o único dos 44 classificados do país que não compete neste tipo de evento (dos 800 m à maratona) e tenta a sorte no lançamento de dardo.

Como seria de se imaginar, Yego não teve vida fácil quando resolver virar exceção e destoar de seus compatriotas. Ele acabou tendo de procurar na internet vídeos para aprender a modalidade e até ganhou o apelido de “Sr. Youtube”.

Nesta quarta-feira, por volta das 16h (de Brasília), o queniano faz sua estreia olímpica, aos 23 anos, com uma meta simples: “atingir à final é o meu maior sonho. Seria muito importante para o meu país. Só de estar aqui é algo glorioso”, afirmou o atleta, ao The New York times. “No Quênia, todos correm, mas nem todos ganham. Nem todos chegam às Olimpíadas.”

Devido à falta de técnicos - e técnica -, Yego recorreu ao Youtube para aprender melhor o necessário para realizar bons lançamentos. “Eu tinha de assistir aos vídeos para ver o que os outros estavam fazendo. Meus rivais eram meus modelos”, explicou ele, que assistia a astros como o tcheco Jan Zelezny, tri-campeão olímpico, ou o norueguês Andreas Thorkildsen.

As dificuldades de Yego são enormes, simplesmente por não ter escolhido a corrida. Os fundistas quenianos não precisam de material para treinar e até descalços podem se arriscar a virar maratonistas. O dardo, por outro lado, requer equipamento próprio e muito mais técnica do que apenas força.

“Se pudéssemos levar dardos para as áreas rurais, surgiriam ótimos lançadores no Quênia”, explica Peter Angwenyi, porta-voz da delegação do país. “Mas é algo caro. Precisa-se de centros de treinamento e técnicos. E nós não temos isso”. A capital, Nairobi, tem dois estádios que possibilitam o treinamento, mas não tem ginásios ou treinadores. Além disso, um bom dardo pode chegar a custar US$ 1 mil (cerca de R$ 2 mil).

Yego vai buscar a marca de 82 metros, que o classifica automaticamente para a decisão. Mas não será fácil. Menor atleta entre os competidores do dardo, ele viu mais de uma centena de lançamentos rivais superarem sua melhor marca da carreira, de 81,1 m, só neste ano.

Choro nos Jogos Olímpicos de Londres
Choro nos Jogos Olímpicos de Londres

Origem da paixão: irmão jogava gravetos

O começo no esporte veio por influência de um irmão, que atirava gravetos, e não dardos, explica Yego. Ainda garoto, ele se interessou pela modalidade e passou a competir em nível regional e nacional, aumentando sua paixão ao assistir aos Jogos de Atenas, em 2004.

No ano seguinte, o único dardo de sua escola quebrou e um professor de geografia comprou outro, para não acabar com seu sonho. A aposta deu certo, e em 2006 ele se tornou o recordista júnior do Quênia.

Isso rendeu visibilidade a Yego e ele se tornou recrutado e patrocinado pela polícia do país, obtendo um trabalho e tempo para treinar. A partir daí, o lançador pôde realmente se considerar um profissional e seguir com o sonho, que neste ano de 2012 se tornou olímpico.

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