Jornalista que cobriu Jogos pós-guerra de 1948 ganha credencial do COI para trabalhar em 2012
Bruno Freitas
Do UOL, em Londres (ING)
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Bruno Freitas/UOL
Jornalista Pat Rowley trabalhou nos Jogos de 1948 e completa neste ano 14 coberturas de Olimpíadas
O inglês Pat Rowley é um desses jornalistas característicos das antigas, que prefere reunir suas notações em um caderno amarelado a acompanhar um evento com um computador ligado. Admite gostar de se envolver emocionalmente com os personagens com quem lida. O veterano repórter tem acompanhado a Olimpíada de Londres graças a uma credencial oferecida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), em homenagem ao único profissional de mídia remanescente que esteve na cobertura dos Jogos de 1948, na mesma cidade, os primeiros após a Segunda Guerra Mundial.
Rowley é um veterano da imprensa britânica, com longas passagens pela agência Reuters e pelos jornais The Guardian e The Times. Com a credencial recebida como homenagem do COI, acabou conseguindo, aos 78 anos, a oportunidade de escrever como free lancer sobre a disputa do hóquei na grama olímpico para a AFP (Agence France Press).
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"Quando eles souberam que eu não iria trabalhar, me mandaram uma credencial. Eu sou o único repórter ainda vivo que trabalhou nos Jogos de 1948. Estou com 14 Olimpíadas. Se tiver a sorte de chegar ao Rio, completarei 15", afirmou Rowley em entrevista ao UOL Esporte.
O veterano repórter começou a trabalhar na função aos 14 anos, conseguindo permissão oficial da organização dos Jogos de Londres de 1948 para cobrir o evento para o jornal de sua escola. Rowley conta que testemunhou a histórica abertura de Londres ao mundo depois dos anos de chumbo da guerra.
“Ficamos seis anos sem ver pessoas de fora, a cidade estava destruída pela guerra, mas estava se recuperando. Foi fantástico ver as pessoas de todo mundo chegando para a Olimpíada", relata.
Desde o princípio Rowley teve o hóquei como interesse número 1 e costuma narrar os jogos para que senta por perto. Em 1948, diz que as partidas foram disputadas no judiado gramado do estádio de Wembley. "Hoje temos este tapete azul, antes era em Wembley um dia depois da realização de jogos de futebol ou rúgbi, num estado deplorável, não dava nem para ver a bolinha", conta.
Depois de 1948, o jornalista só voltou a acompanhar a Olimpíada profissionalmente em 1964. De lá para cá, esteve presente em todas as edições do evento. Em algumas delas, atuou paralelamente como árbitro de hóquei na grama. Em Munique-1972 foi incumbido de montar uma seleção dos melhores do mundo para um amistoso contra o time que ganhasse o ouro. No entanto, o atentado terrorista contra atletas israelenses acabou adiando a partida.
Para Rowley, o momento olímpico mais marcante tem a ver com sua relação pessoal com a holandesa Fanny Blankers-Koen. Em 1948, o adolescente viu a atleta conquistar quatro ouros e anos mais tarde se tornou amigo da estrela.
"Ele era o Usain Bolt da época. Imagina, uma mulher de 36 anos, dona de casa, com filhos, vem à Olimpíada e ganha quatro ouros. Anos mais tarde ela veio a Londres e acabou ficando hospedada na minha casa. Minha primeira mulher também era medalhista olímpica. Soube que Fanny não gostava de ficar hospedada em hotéis e fiz o convite. Foram três ou quatro dias muito agradáveis", recorda.
Hoje, na volta da Olimpíada a Londres, Rowley conta que tem sido tratado com reverência. Segundo o jornalista, uma equipe de televisão do Japão acompanhou um dia inteiro de trabalho durante estes Jogos.
"Também sou muito famoso na Índia e no Paquistão. Escrevi sobre hóquei na grama para jornais de lá durante anos. Eles me adoram", declara o veterano, que completa 79 anos ainda antes do fim de 2012.