Milionário fracassa, frustra indianos e se irrita ao falar sobre tiros em empregada na infância

José Ricardo Leite

Do UOL, em Londres (ING)

  • AFP PHOTO/MARWAN NAAMANI

    Atirador indiano Abihinav Bindra compete nas classificatórias da prova de tiro a 10 metros

    Atirador indiano Abihinav Bindra compete nas classificatórias da prova de tiro a 10 metros

Abhinav Bindra era uma grande esperança de medalha de ouro para os milhares de indianos espalhados pelo mundo. Mas, nesta segunda-feira, o herdeiro de uma família milionária fracassou e não se classificou para a final da prova de rifle de ar a 10 m, o que decepcionou os vários torcedores presentes.

Com muitas bandeiras da Índia no complexo esportivo montado para o tiro, Bindra, campeão olímpico em Pequim, ficou abaixo dos oito primeiros colocados e ameaçou até não dar entrevistas tamanha a sua decepção. Mais tarde, resolveu voltar e falar.

Deu entrevista em inglês mesmo para a imprensa indiana, reclamou do barulho das arquibancadas, de sua lentidão no começo da prova e se disse desapontado.

“Tentei fazer o meu melhor, acordei relaxado, mas não deu. Foi um dia difícil. As pessoas não ficavam em silêncio. Havia muito barulho do lado de fora e tive a pressão por ter que acelerar o ritmo no final em função do tempo escasso.”

BINDRA MORA EM PALÁCIO NA ÍNDIA

  • José Ricardo Leite/UOL

    Bindra não quis falar sobre a história da infância e saiu andando; saiba mais sobre o indiano

“Fiz uma boa preparação na Alemanha, eu estava relaxado nesta manhã. O que me deixa um pouco feliz é que fiz o meu melhor. Mas vou tentar de novo. Eu amo o tiro”, falou.

Bindra, um dos maiores ídolos de seu país, tem histórias curiosas e mal contadas. Em uma entrevista para um jornal local, seu pai uma vez contou que o filho treinava tiros utilizando uma empregada doméstica da família. Isso quando tinha apenas cinco anos. A empregada servia como base para segurar, com sua cabeça, os alvos em que tentava acertar.

“Ele deixava um balão d’água em cima da cabeça da empregada e começava a atirar, sabendo que qualquer erro seria fatal. Só que ele era tão preciso que eu não tinha dúvidas de que ele ia tornar-se profissional”, disse AS Bindra, pai de Abhinav que o apelidou de "Silent Killer" (matador silencioso), ao jornal Times of India.

Depois disso, o atirador chegou a confirmar o ocorrido. E ainda acrescentou que sua irmã serviu também como “suporte” para os alvos, o que ele mesmo admitiu ser uma atitude irresponsável.

Hoje, porém, o episódio claramente incomoda o atirador indiano. Bindra aceitou falar separadamente com a reportagem após a zona mista e coletiva em um gramado para os indianos.

Mas, ao ser abordado sobre seus treinos de infância, se irritou, virou as costas e foi embora. Disse apenas “isto não é verdade” antes de tomar seu caminho. Ao ser indagado novamente, apenas fazia gestos negativos com a mão e continuou caminhando com a mala.

Fortuna e briga com a Federação

A família do atirador é dona da Abhinav Futuristics, especializada em produtos de alta tecnologia que também vende armas para o mercado interno indiano. Hoje em dia, Abhinav é CEO da empresa, que é revendedora oficial da empresa alemã Walther, gigante do ramo de armamentos.

Em seu desenvolvimento como atleta, Abhinav pôde contar com o apoio do pai, que investiu cerca de US$ 1,7 milhão (R$ 3,5 milhões) em sua carreira. A dependência do pai forjou no atleta o incômodo com relação aos dirigentes esportivos de seu país. Segundo a BBC, duas vezes em sua adolescência Abhinav não teve um recorde computado por falta de oficias nas competições das quais participou.

Antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, a federação local lhe mandou um par de sapatos em que um pé era bem maior que o outro (ambos diferentes do número que ele usa). Episódios como esse e a falta de estrutura local o fizeram romper com os cartolas. Um dos capítulos de sua autobiografia é “Obrigado por nada”, em que ele se dedica a criticar duramente o sistema esportivo indiano.

Quando ele venceu, pôde apontar todos os problemas que ele via. O “direito” de criticar foi conquistado em 2008, quando ele ganhou o ouro na sua prova preferida quatro anos depois de fracassar em Atenas. Foi a primeira medalha de ouro da Índia desde 1980, quando o time de hóquei do país conquistou os Jogos, além de ter sido a primeira de um esporte individual.

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