A rivalidade mais tensa da Olimpíada parece já desenhada mesmo antes da cerimônia de abertura desta sexta-feira. Apesar de defenderem a mesma bandeira nos Jogos de Londres, os nadadores Michael Phelps e Ryan Lochte têm diante dos olhos as metas pessoais na piscina acima de qualquer companheirismo de equipe. Nesta quinta, durante a coletiva oficial do time norte-americano da modalidade, as duas estrelas foram separadas em duas baterias de entrevistas, em moldes similares à divisão que vem acontecendo em água.

Em Londres as duas estrelas da natação norte-americana têm evitado cair na água ao mesmo tempo em treinamentos. Bob Bowman, técnico de Phelps, declarou nos últimos dias que os dois "se matariam" se isso acontecesse.

Na coletiva oficial da equipe norte-americana de natação, os dois foram mais uma vez separados, contrariando o anúncio inicial da organização dos Jogos que prometia Phelps e Lochte lado a lado na mesma mesa.

Nesta quinta, Phelps abriu a sessão oficial da equipe americana de natação em concorrida entrevista no auditório principal do Parque Olímpico de Londres, na companhia apenas de seu treinador. Meia hora depois, Lochte dividiu a mesa com cinco outros integrantes da delegação, como a promessa feminina Missy Franklin (ambos foram questionados sobre o eventual desconforto da exclusividade concedida ao ídolo).

Na sua vez de falar, Phelps evitou confrontar seu principal adversário através das palavras. Questionado sobre os métodos de treino de Lochte fora das piscinas, usando artigos como pneus, o maior medalhista de ouro das Olimpíadas disse apenas que "cada um faz o que é melhor para si na preparação". Já o rival se expressou sem constrangimento sobre a rivalidade, mas rebateu o rótulo de 'inimigos' da mesma equipe.

"Não vou competir para bater Michael, vou fazer o que normalmente eu faço. Existe um monte de outros caras ali. Quero nadar e me divertir. Se Michael estiver comigo na raia ao lado, não posso ficar preso nisso", afirmou Lochte sobre o decantado duelo pessoal com o compatriota. "Sou amigo de todo mundo. Não tenho inimigos. Não posso dizer que ele é meu inimigo", acrescentou.

Sem falar de Lochte, Phelps se divertiu na entrevista coletiva filmando a pequena multidão de jornalistas que lotou o auditório olímpico e contando causos da Vila Olímpica. "Algo que eu gosto é andar pela Vila e ver atletas em todos os lugares. Vi umas três russas na lanchonete e elas eram todas mais altas do que eu", relatou o bem-humorado nadador, que também manifestou que a comida de Londres é melhor do que a dos Jogos anteriores.

Os Jogos de Londres verão Phelps e Lochte como rivais nas provas dos 200 m e 400 m medley (o ídolo desistiu dos 200 m livre e evitou o terceiro encontro, para se poupar para provas de revezamento). Em 2011 o desafiante levou a melhor sobre o rei da natação olímpica nos dois confrontos diretos no Mundial de Xangai, nos 200 m livre e nos 200 m medley.

Na seletiva da equipe olímpica, no entanto, Phelps venceu os 200 m, enquanto que Lochte levou a melhor nos 400 m, esquentando a rivalidade para um possível duelo épico de Londres.

PHELPS, EM NOME DA LENDA

Aos 27 anos, Michael Phelps já é o recordista de ouros na história das Olimpíadas com suas 14 conquistas, mas em Londres o nadador pode quebrar outra marca. O norte-americano terá a chance de ultrapassar a ginasta Larissa Latynina e se tornar o atleta com o maior número de medalhas olímpicas no geral. Ele contabiliza 16 medalhas (14 ouros e dois bronzes) contra 18 da atleta que competia pela extinta União Soviética.

"Esse negócio de contar medalhas é com vocês. Vocês ficam fazendo isso. Só quero entrar na água e nadar o mais rápido que eu posso", manifestou Phelps sobre a expectativa sobre a renovação de seu legado olímpico.