Huertas vira "obrigatório" em quadra na seleção e mantém pé atrás sobre NBA após sondagens

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • REUTERS/Kevin Lamarque

    Huertas passa pela marcação de Deron Williams durante amistoso com os EUA em Washington

    Huertas passa pela marcação de Deron Williams durante amistoso com os EUA em Washington

Na última segunda-feira, durante o amistoso de preparação olímpica entre Brasil e Estados Unidos em Washington, um dos burburinhos no universo do basquete em fóruns virtuais e comentários na televisão ficou por conta da reflexão em cima de Marcelinho Huertas. Ao mesmo tempo em que reforça a sensação de ser uma presença obrigatória em quadra no time que vai aos Jogos de Londres, o destaque brasileiro na derrota para Kobe Bryant e companhia inspirou a cisma norte-americana de como um armador deste nível técnico está fora da NBA.

HUERTAS vs. EUA

- Jogou 30min13 (só Alex jogou mais) e terminou com 11 pontos e 13 assistências (todo o time dos EUA teve 11 assistências)
- Com Marcelinho Huertas em quadra, o Brasil venceu os Estados Unidos por 60 a 57; sem o armador, perdeu por 23 a 9
- Mike Krzyzewski, técnico dos EUA, em entrevista coletiva após o jogo de segunda-feira: "Huertas jogou bem contra nós em Istambul [Mundial 2010] e está ainda melhor. Ótimo armador"
- No Mundial 2010, em encontro válido pela fase de grupos, Huertas jogou 33 minutos contra os EUA, anotou 8 pontos e cinco assistências (placar de 70 x 68 para os norte-americanos)

Depois de um primeiro quarto quase perfeito, a seleção de Rubén Magnano acabou derrotada no teste por 80 a 69. No entanto, horas depois do jogo o jornalista John Schuhmann, do site da NBA, atentou para a impressionante estatística de que o Brasil, contando apenas os minutos em que Huertas esteve em quadra, teve vantagem de 60 a 57.

O principal armador da seleção brasileira foi o destaque de seu time, com 11 pontos e 13 assistências [todo o time dos EUA registrou 11 assistências]. Huertas esteve em quadra por 30min13 e, coincidentemente, no momento em que descansou no banco no segundo quarto, o time de Magnano definhou no ataque e tomou uma surra.

Apesar da exibição marcante no ginásio Verizon Center, com direito a elogios dos norte-americanos, Huertas continua com o pé atrás sobre uma eventual oportunidade na terra do basquete, em um dos times da principal liga do planeta. Atual campeão espanhol pelo Barcelona e um dos melhores armadores na Europa, o brasileiro recebeu nos últimos anos sondagens de equipes como New York Knicks, Dallas Mavericks e San Antonio Spurs, mas mantém o pé atrás em relação a uma aventura na NBA neste ponto da carreira.   

"Esse momento dele, é um momento especial, que ele sempre sonhou estar. A situação da NBA aponta várias possibilidades. Sempre teve sondagem, mas nada concreto em termos de propostas. Nada que possa ter sido levado adiante", afirmou Vinicius Fontana, agente de Huertas, em entrevista ao UOL Esporte por telefone.

"Ele tem um contrato longo, de quatro anos, cumpriu o primeiro e tem mais três pela frente. A situação financeira hoje é muito interessante. Se sair para ir à NBA hoje, teria que armar uma situação que agregasse o sonho de estar na NBA, a parte financeira e o status de ser um jogador importante", acrescentou o agente do armador de 29 anos.

OPINIÃO DOS BLOGUEIROS

VINTE UM: A impressão que fica é a de que o Brasil empaca quando o armador vai ao banco, independentemente de quem entra: Larry, Raulzinho, ou até mesmo os dois juntos
BALA NA CESTA: O Brasil venceu o 1º período por 27-17, mas cansou, sentiu falta de Huertas (o time cai demais sem seu armador titular – e é bom ficar atento a isso em Londres)

Na cabeça de Huertas, a eventual aventura na NBA representa um risco ao pacote de conquistas acumuladas na Europa, onde já atuou em dois países. Depois de passagem menos relevante pela Itália (UPIM Bologna), o brasileiro se tornou um dos melhores de sua posição no continente jogando na Espanha, por Joventut de Badalona, Iurbentia Bilbao, Tau Ceramica e Barcelona.  

Nos últimos tempos o armador tem até evitado o tema. Mas, em papo com o blog do UOL Bala na Cesta em junho, Huertas ponderou sobre se valia a pena pensar em uma oportunidade na NBA, citando o caso do lituano Sarunas Jasikevicius, que deixou a Europa como ídolo para esquentar o banco no Indiana Pacers e no Golden State Warriors.

"É muito importante para ele estar feliz, a atenção que é dada. Financeiramente ele atingiu um ‘nível A’ na Europa. É uma operação complicada", diz Vinicius Fontana, agente do jogador.

FUNDAMENTAL PARA MAGNANO

Na gestão do argentino Rubén Magnano, Marcelinho Huertas vem se tornando cada vez mais fundamental. Depois de se destacar no Mundial da Turquia em 2010, o armador do Barcelona foi o grande nome da classificação no Pré-Olímpico da Argentina em 2011, com número considerável de minutos em quadra.

LIDERANÇA NA SELEÇÃO

"É a minha característica, jogo desta maneira faz tempo. É a minha personalidade como jogador. Se isso chama atenção, é uma coisa que vem de dentro. Sou armador dentro da quadra, tenho que guiar o time tanto no ataque como na defesa. Ser um pouco a imagem do time. Na defesa sou o primeiro jogador a tentar transmitir um pouco de energia para o time. Isso não significa que tenho que ser a estrela. Sou um jogador a mais que tenho que fazer o meu papel",
disse Marcelinho Huertas, em entrevista ao UOL Esporte durante torneio de preparação olímpica em São Carlos, em junho passado

No grupo de Londres, além de Huertas, o técnico convocou como armadores o norte-americano naturalizado brasileiro Larry Taylor e o jovem Raulzinho. Mesmo assim, o time tem demonstrado nos amistosos de preparação uma dependência da presença do ídolo do Barcelona em quadra.

Apesar disso, Magnano fez Raulzinho jogar por quase 9 minutos contra os Estados Unidos na segunda-feira, certamente para dar rodagem ao jovem em jogos deste porte. Já Taylor tem sido usado eventualmente como ala-armador ao mesmo tempo que Huertas em quadra, em formação que funcionou bem especificamente na vitória recente sobre a Argentina em Foz do Iguaçu.

Por fim, Huertas ainda é o interlocutor número 1 de Magnano durante as partidas. É o armador que costuma encostar no banco de reservas para receber orientações, debater alternativas e transmitir estratégias para os demais dos homens em quadra.

"A situação de classificação [olímpica] foi muito estressante para todos. É um ponto na carreira dele em que está estabilizando a situação de grandeza. Se não disputasse uma Olimpíada, faltaria algo. Ele tem a preocupação de se tornar um símbolo disso tudo, mesmo que desse errado, ele gostaria de estar à frente", afirma o agente de Huertas sobre o que significa a participação em Londres para o armador.

EXPERIÊNCIA NOS ESTADOS UNIDOS

Marcelinho Huertas esteve próximo da NBA em 2004, quando deixou o Brasil em parte do projeto internacional de seu staff para treinar nos Estados Unidos, em busca de uma colocação no draft [processo de recrutamento] da liga. Na época, trabalhou em Chicago com Tim Groves, preparador que é comumente creditado pela transformação física na carreira de Michael Jordan.

Naquela oportunidade, Huertas foi aos Estados Unidos com a mãe e acatou o treinamento puxado, que demandava que sua genitora ministrasse sessões de gelo nos punhos do filho após as intensas práticas. Mesmo com a dedicação, o brasileiro acabou não selecionado por nenhuma equipe da NBA nesta tentativa.  

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