Huertas leva à seleção moral de vitória tensa em Barça x Real e admite papel de líder
Bruno Freitas
Do UOL, em São Carlos (SP)
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Gaspar Nóbrega/Inovafoto
Com status de líder, Marcelinho Huertas deve ser um dos destaques do Brasil na Olimpíada 2012
Os dois principais instantes da ‘era Magnano’ à frente da seleção brasileira de basquete, no Mundial de 2010 e no Pré-Olímpico de 2011, pintaram um cenário que tem Marcelinho Huertas como o líder da geração que conseguiu retornar à Olimpíada depois de 16 anos de ausência. Hoje, a um mês dos Jogos de Londres, o armador reconhece a demanda de comando dentro do time e viaja para a missão embalado pelo êxito recente na final da Liga Espanhola, no tenso clássico entre Barcelona e Real Madrid.
Marcelinho deixou o Pré-Olímpico de Mar del Plata no ano passado como um dos principais responsáveis pela classificação aos Jogos de Londres. No Mundial da Turquia em 2010 também se destacou [Brasil terminou na 9ª posição], mesmo na derrota para a Argentina nas oitavas de final, com uma de suas melhores atuações pela seleção, com 32 pontos.
SINTONIA DE OLHAR COM SPLITTER
Dentro da seleção, Marcelinho Huertas conta com uma conhecida sintonia técnica com o pivô Tiago Splitter, seu ex-companheiro de equipe no Caja Laboral, da Espanha. Juntos, os dois brasileiros conduziram o time à surpreendente conquista do título nacional de 2010. Na oportunidade, a equipe de Huertas e Splitter [na foto acima] encerrou uma invencibilidade de 17 meses do Barcelona, impondo um contundente 3 a 0 no playoff final. Marcelinho fez cestas e jogadas decisivas nos minutos finais das duas primeiras partidas. Tiago [hoje no San Antonio Spurs na NBA] foi eleito o jogador mais valioso do torneio. E o entrosamento que adquiriram deve ser mais uma vez aproveitado pela seleção. Uma das principais armas da dupla é o "pick and roll", uma das jogadas clássicas do basquete. Nele, o pivô faz um bloqueio (ou corta-luz) no marcador do armador e gira para aparecer como opção para receber a bola. O armador pode alimentar o pivô, arremessar ou infiltrar. "Conheço muito bem ele, faz nove anos que estamos juntos na seleção. Ter jogado com ele aquele ano foi importante, a gente aprimorou ainda mais aquela conexão que a gente já tinha. É uma facilidade ter ele comigo na quadra, uma mão na roda. A gente às vezes se comunica pelo olhar. É fácil ter um jogador que faça o "pick and roll", que é uma das características fortes do meu jogo", comenta Huertas. Rubén Magnano também comemora o entendimento entre seus dois jogadores. “É o valor agregado que temos que usar. Sempre gosto de usar dois ou três jogadores do mesmo time, pelo entrosamento. Pelo olhar eles já se conhecem”, diz o técnico argentino sobre a parceria entre Huertas e Splitter. |
A seleção que vai à Olimpíada deve ter quatro jogadores da NBA, mas é em Marcelinho e em seus oito anos de basquete europeu que residem a aposta de "o cara do time".
O grupo não se acanha em reconhecer este status do jogador do Barcelona. Ao longo da semana de trabalhos em São Carlos, Nezinho comentou a situação da definição da lista para a Olimpíada, na batalha de quatro armadores por três vagas [cota anunciada por Rubén Magnano], ao dizer que "Huertas não precisa ser testado".
"É a minha característica, jogo desta maneira faz tempo. É a minha personalidade como jogador. Se isso chama atenção, é uma coisa que vem de dentro. Sou armador dentro da quadra, tenho que guiar o time tanto no ataque como na defesa. Ser um pouco a imagem do time. Na defesa sou o primeiro jogador a tentar transmitir um pouco de energia para o time. Isso não significa que tenho que ser a estrela. Sou um jogador a mais que tenho que fazer o meu papel", afirma o jogador de 29 anos.
Quem acompanhou os jogos da seleção masculina nesta semana no torneio internacional de São Carlos viu Huertas encostar várias vezes ao lado de Magnano no banco para discutir orientações táticas. Era o armador o responsável por transmitir as ordens ao resto dos homens em quadra.
Huertas leva à preparação olímpica da seleção a bagagem de uma decisão de emoções intensas na Europa. O brasileiro foi um dos protagonistas do título espanhol do Barcelona deste ano, em vitória por 3 jogos a 2 sobre o Real Madrid na final [com duas viradas na liderança].
O armador saiu como herói da primeira partida da série, ao acertar um arremesso quase do meio da quadra nos últimos segundos [veja o vídeo ao final do texto]. Ainda acabou eleito o melhor da temporada em sua posição.
O jogador da seleção brasileira relata que o clima no clássico do basquete entre Barcelona e Real Madrid é semelhante ao ambiente de tensão entre os clubes no futebol, ainda com toda a carga de rivalidade sócio-pólítica entre a capital espanhola e a região da Catalunha.
"É pesada também, de muita rivalidade. Cada jogo lá eles dão muito valor, mesmo que seja um amistoso. É sempre importante para a história dos duelos dos dois times. Ganhar um dérbi lá vale muito. Moralmente, é muito importante. No basquete se vive muito essa rivalidade entre Madrid e Barcelona", comenta o armador campeão espanhol.
Com Huertas em quadra, a seleção brasileira encerrou a participação no Torneio Eletrobras em São Carlos na última quinta-feira com vitória sobre a Grécia por 78 a 71. Agora a equipe nacional segue a preparação olímpica com testes em Buenos Aires e Foz do Iguaçu, onde Magnano deve definir a lista de 12 jogadores para os Jogos de Londres. Mais adiante o time realiza amistosos nos Estados Unidos e na França.