Com chances de competir em Londres, atleta "Blade Runner" gera impasse entre cientistas

Das agências internacionais

  • Liu Jin/AFP

    Velocista Oscar Pistorius pode ter desempenho favorecido por próteses, dizem cientistas

    Velocista Oscar Pistorius pode ter desempenho favorecido por próteses, dizem cientistas

O corredor sul-africano Oscar Pistorius pode ser o primeiro atleta amputado a participar dos Jogos Olímpicos, na edição de Londres 2012. Pistourius nasceu sem as fíbulas e, por isso, amputou as duas pernas quando ainda era um bebê.

Cientistas, porém, ainda discutem sobre as próteses de fibra de carbono que o atleta usa e cujo aspecto futurista concederam a ele o apelido de “Blade Runner”. O impasse é se os membros artificiais dão ou não vantagem a ele em relação a outros competidores.

Para participar dos Jogos Olímpicos, o velocista precisa repetir marca alcançada na prova dos 400 m livres em uma competição realizada na capital administrativa da África do Sul, Pretória, em uma competição internacional até o próximo dia 30 de junho.  Na sua terra natal, Pistorius correu abaixo do índice olímpico de 45s30.  Sua melhor marca é 45s07.

O professor do Instituto Aplicado de Fisiologia e Biomecânica da Universidade Metodista do Sul, em Dallas (EUA), Peter Weyand, é quem levanta discussão sobre o bom aproveitamento do atleta.  “A ciência está certa de que o Sr. Pistorius corre consideravelmente mais rápido com suas pernas artificiais”, declarou à Reuters.

Segundo estudo feito por Weyand junto com o professor assistente do Departamento de Saúde e Performance Humana da Universidade de Montana, Mathew Bundle, a vantagem do sul-africano também se aplica contra atletas que possuem apenas uma das pernas amputadas.

Oscar Pistorius
Oscar Pistorius

Pistorius foi medalhista de ouro nos jogos Paraolímpicos de Pequim, em 2008, nas provas dos 100 m, 200 m e 400 m livres e, em 2011, entrou para a história sendo o primeiro atleta amputado a participar de um Mundial de Atletismo, ao participar da competição em Daegu, na Coreia  do Sul.

Em 2008, o corredor ganhou uma causa contra a Associação Internacional de Federações Atléticas (IAAF, sigla em inglês) na Justiça do Esporte, que concedeu a ele permissão para competir com atletas que possuem “corpo perfeito”.  A decisão da corte se aplica apenas para Pistorius e outros corredores que usam o mesmo tipo de prótese.

Ironicamente, os dados usados na argumentação em favor de Pistorius vieram de um grupo de sete cientistas do qual faziam parte Weayand  e Bundle.  Mas eles só tornaram pública suas opiniões sobre uma possível vantagem do atleta depois da decisão judicial e tiveram seus argumentos rejeitados pelos outros cinco colegas.

A empresa islandesa Ossur, que fabrica as próteses de fibra de carbono usadas por Pistorius, e o próprio velocista garantem que ele não possui vantagem alguma e que seu sucesso é garantido por muito trabalho duro e treinamento.

“Eu uso as próteses ‘Cheeta’ (nome dado pela empresa ao modelo de pernas artificias usadas pelo atleta) desde que comecei minha carreira no atletismo, em 2003. Nunca usei nenhum outro tipo de prótese. Meus bons resultados são proporcionais ao quão duro eu treino”, contou.

De acordo com o clínico protestista e especialista em esportes atléticos da Ossur, Richard Hirons, a ciência por trás dos membros artificiais é supreendentemente simples e mudou muito pouco desde que Pistorius começou a usá-los.

“A questão é que as próteses minimizam as desvantagens do atleta. Ele está basicamente sobre duas estacas e precisa levar isso em consideração. Ele precisa pensar em como está o vento, se preocupa quando chove. Há muito esforço extra exigido do tronco do atleta para gerar explosão, sustentação e compensação”, explicou Hirons.

OSCAR PISTORIOUS QUER VAGA NAS OLIMPÍADAS

O impasse científico

Weyand e Bungle levantaram debate com os cinco colegas com os quais trabalharam no caso de Pistorius na Justiça Esportiva, ao discordar deles com relação ao atleta em um artigo publicado no jornal do Instituto Aplicado de Fisiologia em novembro de 2009.

Os dois cientistas afirmaram na publicação que as próteses usadas pelo corredor são mais leves do que pernas normais e permitem, portanto, que Pistorius consiga dar passos mais rápidos.

Segundo Weyand e Bungle, o atleta passa mais tempo em contato com o chão do que no ar, exigindo menos de sua condição física do que é exigido de um atleta com “corpo perfeito”.

“Nós concluímos que chegou o momento na história do esporte em que membros artificiais superam membros biológicos”, escreveram.

Em resposta, os outros cinco cientistas escreveram que “todos sabem que a amputação de membros e o uso de próteses prejudica a geração de força”.

Eles explicaram que o movimento rápido das pernas é resultado dos treinos de Pistorius e da necessidade que ele possui de compensar sua deficiência.

Mesmo assim, Weyand disse em entrevista à Reuters estar convicto de sua opinião, que, segundo ele, é sustentada por dados científicos.

Enquanto o debate entre os cientistas continua, Pistorius trabalha para conquistar vaga em Londres, apesar do curto prazo até os Jogos.

“Eu trabalhei duro para alcançar o tempo classificatório para as Olimpíadas. Já consegui isso duas vezes e meu objetivo e continuar correndo dentro deste tempo até as Olimpíadas para que eu possa ser escolhido como representante da África do Sul”, declarou o atleta, esperançoso.

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