"Apagão" fez Brasil desperdiçar chance de ouro em 1996, diz Ronaldo

Da BBC Brasil, em São Paulo

  • David Cannon/Getty Images

    Kanu (em disputa de bola com Roberto Carlos) foi o grande destaque da seleção nigeriana em 1996

    Kanu (em disputa de bola com Roberto Carlos) foi o grande destaque da seleção nigeriana em 1996

O ouro olímpico é a única grande conquista que falta ao futebol masculino brasileiro.

 
Por duas vezes, a seleção brasileira foi vice-campeã - em 1984 e 1988 -, mas o maior trauma do futebol olímpico brasileiro é provavelmente a participação nos Jogos de Atlanta, em 1996, quando perdeu da Nigéria na semifinal depois de estar vencendo por 3 a 1 a dez minutos para o fim da partida.
 
O ex-atacante Ronaldo, uma das estrelas daquela seleção, lamenta a oportunidade perdida e disse à BBC que a equipe sofreu um inexplicável "apagão" no fim da partida.
 
"É incrível, tivemos tantas oportunidades", comentou Ronaldo em uma entrevista recente ao ex-jogador britânico Gary Lineker, atualmente comentarista de futebol na BBC.
 
"Estávamos na frente na semifinal contra a Nigéria, por 3 a 1. Faltando dez minutos para o final do jogo, sofremos um apagão. E acabamos perdendo por 4 a 3", disse.
 
A seleção brasileira chegou àquela semifinal, disputada na cidade de Athens, no Estado da Geórgia, como franca favorita contra a Nigéria, à qual já tinha derrotado na primeira fase da competição.
 
Além de Ronaldo, a equipe treinada por Zagallo tinha ainda grandes nomes como Roberto Carlos, Dida, Rivaldo, Aldair e Bebeto.
 
Fácil
O Brasil começou a semifinal com pinta de que ganharia com facilidade, abrindo o placar logo no primeiro minuto da partida, com um gol de falta de Flávio Conceição. A Nigéria empatou com um gol contra de Roberto Carlos, mas o Brasil voltou à frente e ampliou ainda no primeiro tempo, com gols de Bebeto e novamente Flávio Conceição.
 
A vitória parecia garantida quando o goleiro Dida defendeu um pênalti cobrado por Okocha, já no segundo tempo. Mas aos 35 minutos, Rivaldo perdeu uma bola e permitiu um contra-ataque da Nigéria, que acabou nos pés de Ikpeba, que descontou para os africanos. Já nos descontos, Kanu empatou aproveitando uma falha de Dida.
 
A prorrogação durou apenas 4 minutos e terminou com mais um gol do atacante Kanu, já que naquela Olimpíada estava vigente a regra da "morte súbita", segundo a qual vencia a partida a primeira equipe a marcar um gol.
 
A derrota deixou marcas também em outros integrantes daquela seleção. Em uma entrevista há alguns anos, o treinador Zagallo afirmou que o jogo contra a Nigéria nos Jogos de 1996 foi a maior decepção de sua carreira, ainda mais do que a derrota na final da Copa do Mundo de 1998 para a França.
 
A Nigéria acabou derrotando a Argentina na final para se tornar a primeira nação africana a conquistar a medalha de ouro olímpica no futebol.
 
Quatro anos depois, nos Jogos de Sydney, foi a vez de Camarões chegar ao ouro – após desclassificar o Brasil nas quartas-de-final.
 
'Honra'
Para Ronaldo, o público brasileiro "ama" o torneio de futebol olímpico. "Principalmente porque nunca ganhamos a medalha de ouro", disse.
 
O ex-atacante se diz confiante com o sucesso desta vez. "Temos a base dos jogadores que ganharam o último Mundial sub-20. Então há muita esperança de que neste ano possamos ganhar", disse.
 
Para ele, a experiência de jogar na Olimpíada de 1996 foi importante para sua carreira, apesar da derrota.
 
"Fui à Copa do Mundo em 1994 e não pude jogar nem um único minuto. Dois anos depois, fui à Olimpíada de Atlanta e foi uma experiência fantástica", disse. "Para qualquer atleta, é uma honra participar de uma Olimpíada".

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