Vídeos

O que um folclórico ex-presidente do Corinthians tem a ver com a Rio-2016?

Guilherme Costa / UOL
Carlos Matheus, técnico da natação do Corinthians, é sobrinho de Vicente Matheus imagem: Guilherme Costa / UOL

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

Vicente Matheus (1908-1997) é um dos nomes mais relevantes da história do Corinthians. Empresário em segmentos como construção civil pesada e mineração, presidiu o time do Parque São Jorge por oito mandatos e colecionou declarações folclóricas. É o nome associado a citações como "quem está na chuva é para se queimar", "Sócrates é um jogador invendável e imprestável" e "quero um time completo como o pato, um animal aquático e gramático", por exemplo. Em 2016, o DNA dele terá relação com mais um momento fundamental para o esporte brasileiro. Carlos Matheus, sobrinho do ex-dirigente, é técnico da natação alvinegra e já tem três pupilos com índice para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Na primeira seletiva da natação brasileira para os Jogos, realizada em Palhoça, Brandonn Almeida (400m medley), Leonardo de Deus (200m borboleta e 200m costas) e Thiago Simon (200m peito) foram os atletas treinados por Matheus que obtiveram índice. O país pode inscrever dois nadadores por prova individual da Rio-2016 e ainda terá mais um evento de qualificação - o Troféu Maria Lenk, em abril, no Rio de Janeiro.

Os três são os primeiros atletas treinados por Matheus com chances reais de estar nos Jogos. O técnico trabalha no clube paulista desde 2005, um ano depois de ter deixado o Paineiras-SP.

"A gente montou um projeto no Corinthians de 2008 para 2012. O Thiago Pereira vingou [chegou aos Jogos de Londres], mas ele não treinava no clube", contou Matheus. "A gente fazia o trabalho, fazia acontecer, e na hora em que os caras estavam para entrar na Olimpíada - e que eu estava para ir junto - eles iam para outros clubes que pagavam mais", completou.

Matheus começou a nadar aos nove anos, como forma de tratar problemas respiratórios, e competiu em nível nacional até os 16. Depois, estudou educação física e trabalhou em outros clubes antes de ser contratado pelo Corinthians.

"Sempre tive um baita sonho de trabalhar lá por ser o time de coração, mas hoje, lá dentro, depois de ter conquistado e de ter feito uma trajetória, acho muito bacana ser referenciado por causa do Vicente Matheus, que era irmão do meu pai [os dois já morreram] e é um baita mito dentro do clube", disse o treinador. "É até interessante para honrar o sobrenome".

Até pela ligação histórica da família com o Corinthians, Matheus é torcedor fanático da equipe alvinegra. "Quando foi campeão da Libertadores, não perdi um jogo. Hoje é mais difícil por causa das viagens da seleção brasileira, mas antes eu ia muito. Sou corintiano que vai para o estádio, chora, sofredor. Sou um do bando de loucos", avisou.

Em Palhoça, na seletiva olímpica de natação, ele deixou esse lado torcedor aflorar em alguns momentos. Foi assim, por exemplo, quando Brandonn Almeida obteve índice olímpico nos 400m medley. Na arquibancada, Matheus chorou.

"Acho que hoje um grande diferencial do treinador é que a gente tem de ser profissional, frio e sereno, mas tem de estar envolvido com o resultado. Às vezes o cara nada bem e você precisa estar junto. O Brandonn nadou a prova da vida dele", explicou.

Brandonn, 18, nasceu no ano em que Vicente Matheus morreu. "Hoje os nadadores nem sabem mais quem ele foi", brincou o treinador.

Topo