Nadador supera doping, vira empresário de crossfit e sonha com a Rio-2016
O início de 2015 foi dramático para João Gomes Júnior, 29. Em fevereiro, a Fina (Federação Internacional de Natação) anunciou que o nadador havia sido flagrado em exame antidoping realizado no Mundial de piscina curta de do ano anterior, disputado em Doha, por uso de hidroclorotiazida, substância diurética que mascara o consumo de outros itens proibidos. Todos os resultados obtidos pelo atleta a partir de 4 de dezembro de 2014 foram anulados, acrescidos de uma suspensão de seis meses. Para quem passou tanto tempo sem poder competir e chegou até a iniciar uma atividade longe das piscinas – virou empresário no ramo do crossfit –, o desfecho da temporada foi especial. Ele foi um dos 25 que obtiveram índice olímpico para a Rio-2016 na primeira seletiva da natação brasileira, na semana passada, em Palhoça (SC).
Gomes Júnior nadou os 100m peito em 1min00s00, segundo melhor tempo da seletiva – perdeu apenas para Felipe França, que fez 59s56. Outros dois atletas obtiveram índice – Felipe Lima, que fez 1min00s09, e Pedro Cardona, com 1min00s14. O Brasil tem direito a inscrever dois nomes por prova individual dos Jogos Olímpicos de 2016.
“Estou muito feliz, ainda mais depois desse turbilhão de coisas que aconteceram neste ano. Serve para a gente parar, repensar, botar a cabeça no lugar e ver que nada é fácil. É preciso correr atrás do objetivo. Agora é voltar a treinar e me preparar para o ano que vem”, comemorou Gomes Júnior depois da obtenção do índice. A briga não acabou ainda, e eu só comemoro 40% por ter melhorado meu tempo. Meu objetivo maior é carimbar o nome lá e estar no grupo. Não é mais índice; a briga é pelas duas vagas. O importante é bater na frente”, completou.
No Mundial de piscina curta de Doha, Gomes Júnior havia amealhado três ouros em revezamentos – 4x50m medley, 4x100m medley e 4x50m medley misto. Apesar de o nadador ter sido punido por causa do doping, o Brasil não perdeu as láureas.
“Uma coisa que eu aprendi com meus pais é que Deus nunca vai dar um fardo maior para você carregar, mas também não sou hipócrita de dizer que aceitei da melhor forma possível. Sei o que estava fazendo e tenho minha consciência limpa perante a tudo. Não devo nada a ninguém, mas na primeira instância passa um monte de coisa na cabeça – o que as pessoas vão pensar de mim e o que vai acontecer da minha vida, por exemplo. Mas dois dias depois eu pus minha cabeça no lugar e pensei que isso não ia me derrubar. Nunca. Isso ia me deixar mais forte, e é o que vem acontecendo nos treinos”, discursou o nadador.
Durante a suspensão, Gomes Júnior não recorreu a um trabalho com psicólogos e sequer permitiu que os pais, que vivem em Vitória (ES), fossem morar com ele em São Paulo – o nadador vive sozinho na capital paulista. Em vez disso, preferiu a reclusão. Seguiu treinando sozinho e trabalhando mentalmente o baque provocado pela punição. “Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, até para eu saber se realmente quero isso. Hoje estou muito mais forte, muito mais vivo, e nada mais me abala. Isso foi muito bom para fortalecer a mente. Hoje ninguém mais consegue me estragar. Estou firme e forte para a minha luta e para o meu objetivo maior”, contou.
O período longe das piscinas também serviu para Gomes Júnior investir em uma nova atividade profissional. O atleta e seu primeiro treinador abriram juntos uma academia de crossfit em Vitória. O técnico ministra aulas e cuida do dia a dia, e o nadador fica com a parte burocrática. O empreendimento tem cerca de 60 alunos atualmente. “Foi bom para desviar um pouco o pensamento”, disse o candidato a representar o Brasil em 2016.
