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8 coisas que a primeira seletiva da natação brasileira mostrou sobre 2016

Satiro Sodre/SSPress
Cesar Cielo abandonou seletiva olímpica antes de disputar os 50m livre imagem: Satiro Sodre/SSPress

Guilherme Costa

Do UOL, em Palhoça (SC)

Ao contrário de ciclos anteriores, quando ofereceu aos atletas um número maior de chances para obtenção de índice olímpico, o Brasil resolveu fazer apenas duas seletivas para a natação das Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. A primeira delas foi realizada em Palhoça (SC), entre os dias 16 e 19 de dezembro deste ano, e apresentou pelo menos oito constatações sobre o que o país pode esperar da modalidade nos Jogos.

Foram 32 índices alcançados por 25 atletas em Palhoça. Há brigas muito abertas, como as provas de velocidade do nado livre masculino (cinco atletas com tempo suficiente nos 50m e quatro brigando pelos lugares dos 100m), e outros que comemoraram o índice como se fosse a classificação para os Jogos (Joanna Maranhão, Guilherme Guido e Leonardo de Deus, por exemplo).

A primeira seletiva ainda serviu para desenhar a briga pelos lugares dos revezamentos de 2016. O Brasil já está classificado no 4x100m livre e no 4x100m medley masculino, além do 4x100m livre e do 4x200m livre no feminino. O país pode inscrever até seis atletas em cada uma dessas provas, mas existe uma novidade no regulamento da Rio-2016: todos eles precisam nadar.

Nas provas individuais, são apenas duas vagas por país. Portanto, disputas em que o número de atletas com índice excede esse limite serão resolvidas de acordo com os melhores tempos.

O Brasil tem apenas mais uma seletiva da natação. A última chance para obtenção de índices é o Troféu Maria Lenk, entre os dias 15 e 20 de abril do próximo ano. A competição será realizada no estádio aquático olímpico e servirá como evento-teste para a Rio-2016.

 

O que o Brasil constatou na primeira seletiva olímpica da natação:

 

1 - Etiene Medeiros consolida status na natação feminina

Etiene Medeiros não conseguiu índice nos 100m costas, principal aposta dela no programa de provas da seletiva olímpica de Palhoça, mas deixou a cidade catarinense com marcas suficientes para disputar os 50m livre e os 100m livre nos Jogos Olímpicos.

Além disso, a nadadora do Sesi-SP bateu o recorde sul-americano dos 100m livre (54s26) e nadou os 50m livre duas vezes na casa dos 24 segundos (24s96 e 24s71).

A mudança de status da nadadora pôde ser notada na própria área de competição. Depois de ter feito o índice dos 50m livre na sessão da manhã, por exemplo, Etiene caminhou menos de 40 metros até a tenda do Sesi. Nesse percurso, parou pelo menos três vezes para dar autógrafo e tirar fotos com atletas e profissionais que trabalhavam no campeonato.

“Não é uma coisa fácil para a pessoa esse processo de sair para jantar e ser reconhecida. Ela foi passar férias depois do Finkel lá em uma praia isolada, e no hotel uma menininha veio pedir autógrafo. Isso faz parte, mas ela vem lidando cada vez melhor com esse cenário”, disse Fernando Vanzella, técnico da nadadora e coordenador da equipe feminina do Brasil.

O desempenho na seletiva coroou o ano de Etiene, que foi medalhista no Mundial de esportes aquáticos de Kazan (prata nos 50m costas) e venceu os 100m costas no Pan-Americano de Toronto. “Eu não sei ainda o feito. A ficha não caiu de que eu consegui o índice. A gente fica numa rotina de competição, descanso e querer muito aquela coisa. Quando consegue, a gente tem uma parada”, contou a nadadora.

2 - Joanna Maranhão vai fazer história nos Jogos Olímpicos de 2016

O nadador brasileiro com mais participações em Jogos Olímpicos é Rogério Romero, com cinco. No masculino, Gustavo Borges tem quatro e será alcançado por Thiago Pereira em 2016. No Rio de Janeiro, uma mulher também entrará no grupo dos atletas que representaram o país em quatro edições: Joanna Maranhão.

Joanna obteve índice para os 200m medley e os 400m medley na seletiva disputada em Palhoça. Mais do que isso, confirmou que não tem rivais nessas provas em âmbito nacional. Portanto, as marcas já significam praticamente a classificação da atleta.

3 - Bruno Fratus é o maior nome do país nos 50m livre

Prova em que mais nadadores conseguiram índice para 2016 (cinco), os 50m livre têm um “dono” no Brasil atualmente. Medalhista de bronze na distância no Mundial de esportes aquáticos de Kazan, Bruno Fratus confirmou em Palhoça o status de grande nome do país na disputa.

Fratus fez 21s37 na abertura do revezamento 4x50m, segundo melhor tempo do planeta na temporada. Depois, nadou apenas para índice e saiu de Palhoça com 21s50 na prova individual.

Mais do que a evolução, a consistência e a segurança de Fratus têm chamado atenção. “O ano foi muito bom para mim, mas ficar tranquilo ou relaxado... que legal que está parecendo desse jeito, mas é um pouco abstrata essa sensação. Tenho evoluído muito, como atleta e como pessoa, e isso tem ajudado minha natação”, disse o nadador.

4 - Brasil terá briga intensa nas provas de velocidade do nado livre masculino

Em algumas provas, fazer índice olímpico está longe de ser suficiente para estar no Rio de Janeiro. É o caso das disputas mais velozes do nado livre masculino: os 50m tiveram cinco atletas com tempo suficiente para os Jogos, e os 100m viram quatro atletas abaixo da marca necessária.

A lista dos atletas com índice tem nomes esperados, como Bruno Fratus (50m), Marcelo Chierighini (50m e 100m) e Matheus Santana (50m e 100m), mas também conta com surpresas (casos de Ítalo Duarte nos 50m livre e Alan Vitória nos 100m livre, por exemplo).

“Não tem nada definido. No Maria Lenk é que o bicho vai pegar. Vai ser a última chance”, resumiu Chierighini.

5 - Briga também será forte nos 100m peito e nos 100m borboleta, e medalhista do Mundial pode sobrar

Outras disputas intensas no masculino estão nos 100m peito (quatro atletas com índice) e nos 100m borboleta (três atletas com índice). Ao contrário das provas de velocidade do nado livre, porém, essas brigas acontecem em patamares mais distantes do topo mundial.

Nos 100m peito, Felipe França foi o único a nadar abaixo da marca de um minuto na seletiva. João Gomes Júnior não teve bom rendimento na prova durante a primeira sessão, mas se recuperou e saiu de Palhoça com o segundo melhor tempo. Os outros com índice são Felipe Lima e Pedro Cardona.

A disputa dos 100m borboleta envolve Henrique Martins (52s14), Marcos Macedo (52s17) e Nicholas Santos (52s31). O nadador que atualmente é o terceiro da lista foi medalhista de prata no Mundial de esportes aquáticos de Kazan-2015, mas nos 50m borboleta (a distância não é olímpica).

6 - Estratégia de prova deixou vagas abertas

A estratégia adotada por alguns nadadores deixou a briga aberta em algumas provas. Leonardo de Deus, por exemplo, deixou de competir nos 400m livre, distância em que detém recordes brasileiro e sul-americano. Brandonn Almeida, principal nome do país nos 1.500m livre, também preteriu o evento em seu programa para Palhoça.

Sem Brandonn, por exemplo, ninguém conseguiu índice para nadar os 1.500m livre na Rio-2016. O atleta do Corinthians preferiu priorizar os 400m medley, obteve índice e deixou a outra prova para o Troféu Maria Lenk.

Leonardo de Deus também priorizou, mas pode levar essa ideia de um programa mais enxuto até os Jogos. Ele conseguiu índice nos 200m costas e nos 200m borboleta, provas que serão suas prioridades em 2016. “Acho que a prova dos 400m livre eu nado muito bem, mas em nível mundial a gente tem de priorizar as principais provas, que são os 200m borboleta e os 200m costas”, avisou.

A ausência de Leonardo de Deus abriu espaço para Luiz Altamir, de 19 anos, que conseguiu índice nos 400m livre. “Acho que desde pequeno eu sonho em competir pelo Brasil numa seleção absoluta e nas Olimpíadas”, declarou o atleta nascido em Roraima, que mora no Rio de Janeiro desde os 15 anos.

7 - Cesar Cielo é a maior incógnita da natação brasileira para 2016

Depois de uma semana de tantas confirmações, não existe ponto de interrogação maior na natação brasileira do que Cesar Cielo. Dono de três medalhas olímpicas (com direito a ouro nos 50m livre em Pequim-2008) e 16 pódios em Mundiais, o nadador abandonou a seletiva olímpica depois de ter feito apenas 49s55 nos 100m livre (11º tempo) e de ter passado longe do índice (48ss99).

Cielo deixou Palhoça por questões pessoais e nem discutiu a decisão com ninguém. A competição foi a primeira dele desde agosto, quando o atleta deixou o Mundial de Kazan antes de defender o tricampeonato dos 50m livre e foi se tratar de uma inflamação no ombro esquerdo.

A lesão e o desempenho aquém do esperado em Palhoça, contudo, são apenas partes de uma temporada extremamente conturbada para Cielo. Ele também deixou o Maria Lenk sem vitórias individuais pela primeira vez desde 2005 e abdicou de disputar os Jogos Pan-Americanos porque queria se preparar para Kazan.

A participação de Cielo nos Jogos Olímpicos agora depende de um bom desempenho na última seletiva, em abril. No entanto, o nadador ainda não definiu sequer um cronograma de treinos e competições até lá.

8 - Redução do número de seletivas impõe desafio mental aos atletas

O clima ainda não foi de desespero. Deliberadamente ou não, muitos nadadores deixaram para abril do ano que vem a decisão sobre o que vão fazer nos Jogos Olímpicos. No entanto, a redução do número de seletivas criou uma evidente mudança no aspecto emocional do Open de Palhoça.

Na avaliação dos técnicos da seleção brasileira, esse foi o ponto mais importante da primeira seletiva. “A gente precisa ter atletas que saibam resolver na hora certa. Não adianta ficar dando um monte de oportunidade. O cara pode acertar uma vez, mas não vai conseguir fazer na Olimpíada. Quanto menos seletivas, melhor para você treinar. Nós ainda não podemos fazer como os Estados Unidos, que podem fazer um teste só e lá perto. Eles têm uma infinidade de nadadores, e quem entrar na seleção vai brigar por final ou medalha”, explicou Fernando Vanzella, coordenador da natação feminina.

“O momento mais tenso para treinador e atleta é a seletiva, e não a Olimpíada em si. A Olimpíada vai ser uma coisa de frio na barriga, é lógico, mas vai ser mais prazerosa. Aqui é tenso, mesmo. Você não quer pensar em ficar fora do time”, concordou Alberto Silva, o Albertinho, coordenador da natação masculina.

Segundo Albertinho, a questão psicológica foi até um fator complicador para alguns atletas na primeira seletiva: “A tensão atrapalhou um pouco. Quem aprender a conviver melhor com isso e tirar o melhor resultado vai estar nos Jogos e vai ter alguma coisa para desejar e sonhar na Olimpíada. Não adianta você ser o melhor lutador. Se você não souber finalizar, não fica na sua mão. Para ter a coisa na sua mão você tem de sonhar algo, fazer uma boa fase de preparação e finalizar na hora em que tiver a chance. Isso a gente não viu tanto aqui”.

 

Quem já conseguiu índice para a natação dos Jogos Olímpicos de 2016

 

Feminino

50m livre: Etiene Medeiros (24s71) e Graciele Herrmann (24s92)

100m livre: Etiene Medeiros (54s26)

200m livre: Manuella Lyrio (1min58s43)

200m medley: Joanna Maranhão (2min14s04)

400m medley: Joanna Maranhão (4min40s78)

Masculino

50m livre: Bruno Fratus (21s50), Ítalo Duarte (22s08), Marcelo Chierighini (22s17), Matheus Santana (22s17) e Henrique Martins (22s25)

100m livre: Nicolas Nilo Oliveira (48s41), Matheus Santana (48s71), Marcelo Chierighini (48s72) e Alan Vitória (48s96)

200m livre: Nicolas Nilo Oliveira (1min47s09) e João de Lucca (1min47s97)

400m livre: Luiz Altamir (3min50s42)

100m costas: Guilherme Guido (53s09)

200m costas: Leonardo de Deus (1min57s43)

100m peito: Felipe França (59s56), João Luiz Gomes Júnior (1min00s00), Felipe Lima (1min00s09) e Pedro Cardona (1min00s14)

200m peito: Thiago Simon (2min11s29)

100m borboleta: Henrique Martins (52s14), Marcos Macedo (52s17) e Nicholas Santos (52s31)

200m borboleta: Leonardo de Deus (1min57s43)

200m medley: Henrique Rodrigues (1min58s26) e Thiago Pereira (1min58s32)

400m medley: Brandonn Almeida (4min14s07)

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