Canoísta se revolta com "esquibunda" de Eduardo Paes em circuito olímpico

Não caiu nada bem a frase do prefeito do Rio, Eduardo Paes, sobre o futuro da pista de canoagem slalom que será utilizada nos Jogos Olímpicos-2016. Não para a mineira Ana Sátila, que daqui três dias completará 19 anos, nossa principal esperança na modalidade. Ela ficou estarrecida ao saber dos planos para o local.

“Você acha que quero fazer um rio para o cara descer de canoa? Mas tem de fazer o negócio lá em Deodoro para o sujeito descer rio durante a Olimpíada. A pista de canoagem vai virar um parque, vai virar 'esquibunda' para a molecada", disse o prefeito, no final de fevereiro.

Da Austrália, onde treina há quase um mês com a seleção brasileira de canoagem slalom, Ana Sátila contou ao UOL Esporte todo seu descontentamento com a previsão do político.

“Não temos sorte de ter pessoas como ele [Paes] no governo de um cidade olímpica”, lamentou a canoísta. “Sinceramente, odeio polêmica mas nenhum atleta fica calado diante de uma declaração dessas. Gostaria que ele soubesse como é a vida de um atleta da canoagem ou de qualquer outra modalidade. Espero, de coração, que algum dia ele volte atrás sobre esse assunto e se redima com os atletas brasileiros que vivem suas vidas para representar o seu país e dar orgulho a sua nação, diferente da política no Brasil.”

As críticas a Paes não pararam por aí. “Infelizmente, nessa altura do campeonato, somos obrigados a ouvir pessoas tão pouco preocupadas com o esporte brasileiro se pronunciando de forma tão banal e desrespeitosa. Falta muito interesse das pessoas de querer conhecer um pouco mais sobre os esportes olímpicos, ainda mais agora que o Brasil vai ser o país sede dos Jogos, um evento tão especial e que para o mundo inteiro”.

Ana Sátila já está marcada como uma das brasileiras mais laureadas da canoagem slalom do país. Em abril de 2014, sagrou-se, de forma inédita, campeã mundial júnior, na Austrália. Até então, nenhum brasileiro havia conseguido resultado melhor que o bronze nesta competição. No Mundial sênior, nos Estados Unidos, contra os melhores do mundo, chegou à semifinal. Desempenho a fez ser uma das indicadas a melhor do mundo na categoria júnior no World Paddle Awards, o Oscar da canoagem mundial.

Diferentemente do prefeito, Ana acredita que o canal que receberá os canoístas nos Jogos-2016 pode ter melhor serventia do que “esquibunda”. “Nossa intenção é ter o canal do Rio para treino depois dos Jogos-2016 e até mesmo mudar a equipe permanente de slalom pra lá [para o Rio]. Seria fundamental ter uma pista olímpica para treinos e nos ajudaria bastante nas competições seguintes”.

O local em que o prefeito que descer de esquibunda está previsto para ficar pronto no primeiro trimestre de 2016, ficará em Deodoro, está em fase de construção das arquibancadas, com capacidade para oito mil espectadores. O percurso será permanente, segundo a APO (Autoridade Pública Olímpica), e terá 250 metros de corredeiras.

“Meu maior sonho é conquistar uma medalha de ouro olímpica e mostrar para as pessoas o que o esporte é capaz de fazer, como a canoagem se desenvolveu e de como eu tenho orgulho em ser uma atleta brasileira da canoagem slalom, que luta para conquistar seus sonhos e não ganha tudo de mão beijada”, declarou.

Estreia do slalom em Pan
Ana Sátila sabe que a temporada atual será muito importante para definir a condição que chegará aos Jogos-2016. Está na Austrália e diz aproveitar bastante tudo o que pode para aperfeiçoar seu desempenho. “Austrália é o lugar perfeito para uma temporada como essa, o canal é bem trabalhado e nos dá muitas possibilidades diferentes de treinar novas técnicas. Nosso objetivo é aprimorar nossa técnica e obter mais experiência, estamos fazendo muita simulação de competição para estar preparados para as próximas etapas. A preparação está sendo intensa, temos academia, alongamentos, muita corrida e os treinos na água”, contou.

Ela terá a primazia de ser a primeira brasileira a disputar a canoagem slalom em uma edição dos Jogos Pan-Americanos. Toronto, em julho, marcará a estreia da modalidade no evento. “O Pan é uma competição muito esperando pelos atletas da canoagem slalom, vai ser um momento histórico para todos nós. Estamos nos preparando bem e isso significa que vamos estar ainda melhores até o Pan. É um dos meus principais objetivos no ano, tenho certeza que vai ser uma ótima experiência e acima de tudo, estou muito feliz por essa nova era da canoagem brasileira”, comemorou a mineira de Iturama, que em 2012 foi a atleta mais jovem da delegação nacional nos Jogos de Londres, com apenas 16 anos.