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RJ suspende limpeza olímpica da Baía de Guanabara: 'para inglês ver'

Vinicius Konchinski*

Do UOL, no Rio de Janeiro

Dois dias depois de representantes do COI (Comitê Olímpico Internacional) visitarem o Rio de Janeiro, o governo do Estado anunciou a suspensão de dois programas da limpeza da Baía de Guanabara para a Olimpíada de 2016. Nos Jogos, a baía será local das competições de vela. A limpeza do espaço era uma das promessas feitas na candidatura do Rio à sede do maior evento esportivo do mundo.

A decisão do governo foi comunicada nesta terça-feira (3), em nota à imprensa. Com ela, dez ecobarcos usados para coleta do lixo flutuante nas águas da Guanabara deixam de circular. Também fica paralisado o trabalho de manutenção das ecobarreiras, que são redes instaladas em córregos para evitar que resíduos deságuem na baía.

Segundo o atual secretário estadual do Ambiente, Antônio da Hora, os dois programas não eram eficientes. A ideia do governo, agora, é discutir com atletas e a sociedade civil outras formas de garantir que o lixo não prejudique a realização dos Jogos Olímpicos de 2016.

“Do jeito que estão, os ecobarcos são para inglês ver”, declarou o secretário da Hora, em nota. “Infelizmente se privilegiou os ecobarcos, em detrimento à estrutura mais profissionalizada e funcional de ecobarreiras. É óbvio que evitar a entrada de lixo, na Baía de Guanabara, é muito mais eficiente do que recolhê-lo ao sabor de correntes e marés.”

Hora ressaltou, porém, que as ecobarreiras também não têm funcionado a contento. Segundo ele, as redes são frágeis e acabam cortadas pelo movimento das marés ou pela passagem de embarcações. Por isso, serão repensadas.

O secretário admitiu que, com os ecobarcos parados e as ecobarreiras sem manutenção, não há como garantir uma Guanabara limpa. Pediu que a população evite jogar lixo no espaço. Ressaltou ainda que a limpeza é complexa.

“Não podemos garantir a ausência total de lixo na baía”, disse da Hora. “Fazemos um apelo a todos os moradores da Região Metropolitana: evitem jogar lixo nos rios pois o destino final dele será inevitavelmente a Baía de Guanabara. Sem a colaboração de todos, vencer esse desafio é extremamente complexo.”

Trabalho apresentado ao COI

A complexidade para a limpeza da baía de Guanabara foi apresentada pelo governo do Rio de Janeiro a representantes do COI que estiveram na capital fluminense na semana passada. Em reuniões com membros do comitê olímpico, o governo informou que faria todo o esforço possível para limpar a baía para os Jogos. 

O presidente do COI, o alemão Thomas Bach, chegou a afirmar no sábado que confiava que as promessas feitas pelo governo sobre o baía seria cumpridas. Bach declarou, após encontros com o governador Luiz Fernando Pezão, que o trabalho para melhorias das condições das águas da Guanabara estava avançando.

"Tivemos um evento-teste na baía e ele foi bem sucedido", afirmou Bach. "Quando o Rio iniciou sua preparação para a Olimpíada, 11% do esgoto despejado na baía era tradado. Hoje, são 49%. O governo ainda persegue a meta de 81%."

No plano de limpeza da baía incluído na lista de projetos para a Olimpíada de 2016, foi informado que as ecobarreiras receberiam um investimento estadual de R$ 6,5 milhões. Já os ecobarcos, outros R$ 12 milhões. 

Para a Secretaria Estadual do Ambiente, esse gasto tem baixo custo-benefício. Só a operação dos dez ecobarcos custava R$ 300 mil por mês. A expectativa é que todas as embarcações recolhessem juntas 45 toneladas de lixo mensalmente. Essa meta, segundo o governo, não tem sido atingida.

Empresa contesta e reclama de falta de pagamento

A EcoBoat, empresa contratada pelo Estado para operar três dos dez ecobarcos, defendeu a eficiência das embarcações e ainda reclamou de falta de pagamento do governo. Lourenço Ravazzano, diretor operacional da companhia, afirmou ao UOL Esporte que a Ecoboat trabalha desde novembro sem receber.

"Operamos três barcos na baía desde janeiro de 2014. Só os três, retiram 30 toneladas de lixo por mês. Trabalhamos todos os dias", disse Ravazzano. "Estamos há quatro meses sem receber. Paramos os barcos ontem porque não temos mais dinheiro para combustível."

Só a EcoBoat recebia R$ 132 mil por mês do Estado, segundo Ravazzano. O executivo afirmou que seu trabalho sempre foi bem avaliado. Tanto é que o contrato da empresa com o Estado foi renovado no final de 2014. "É estranho que o governo fale em reavaliar o serviço agora."

A secretaria informou que decidiu suspender o serviço dos ecobarcos há 20 dias.

*Atualizada às 15h45

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