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Medalhas de ouro quase certas, campeões mundiais tiveram que se explicar

Medalhas de ouro quase certas, campeões mundiais tiveram que se explicar

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25/08/2008 - 09h45

Geração de campeões mundiais brasileiros fracassa em Pequim

Bruno Doro
Em Pequim (China)

Na China, 12 títulos mundiais brasileiros não valeram nenhum ouro. Da geração mais vitoriosa do país que já foi aos Jogos Olímpicos, nem o vôlei masculino do técnico Bernardinho, bicampeão mundial e uma vez olímpico, tampouco o judô ou a vela, com seus três ouros em mundiais cada um, conseguiram confirmar o favoritismo conquistado pelos títulos anteriores.

As únicas três medalhas de ouro vieram com atletas que não terminaram em primeiro lugar nos campeonatos mundiais de suas respectivas modalidades durante os quatro anos do ciclo olímpico para Pequim-2008. César Cielo foi sexto no Mundial de 2007, na Austrália, nos 50 m, a prova que venceu na China. Maurren Maggi, do salto em distância, fez o mesmo em Osaka, no Japão. O vôlei feminino, de José Roberto Guimarães, foi o que chegou mais perto, com o vice-campeonato no Japão em 2006.

Nesse período, o Brasil conquistou 12 títulos mundiais em seis modalidades diferentes. Só em 2007, ano do Pan-Americano do Rio de Janeiro, foram sete títulos. Diego Hypólito foi ouro nos exercícios de solo na ginástica. João Derly, Tiago Camilo e Luciano Corrêa, com três conquistas, levaram o país ao melhor desempenho na história dos mundiais de judô. E os velejadores Robert Scheidt e Bruno Prada, na classe Star, e Ricardo Winicki, o Bimba, na RS:X, foram campeões do Mundial Pré-Olímpico, que classificou o Brasil para os Jogos em suas respectivas classes.

Em Pequim, o primeiro campeão mundial a cair foi João Derly. Bicampeão mundial dos meio-leves (66 kg), o gaúcho chegou como o grande favorito, com histórico de vitórias sobre os seus maiores oponentes. Mas contra um rival menor, o português Pedro Dias, foi derrotado. Venceu apenas uma luta na China. "Não era o dia", lamentou o judoca. Quem também só venceu uma vez foi o meio-pesado Luciano Corrêa, que perdeu em sua estréia e só venceu na repescagem.

Tiago Camilo deixou Pequim no pódio, mas também sem o ouro. Melhor do Mundial do Rio de Janeiro, ele teve um dos melhores desempenhos do judô brasileiro em Pequim. Mas, após vencer duas vezes por ippon, acabou derrotado pelo alemão Ole Bischof, que conquistou o ouro. Ele, porém, ainda se recuperou e, na repescagem, conquistou a medalha de bronze.

"Eu sabia que a luta contra o Tiago era importante. Me preparei justamente para esse combate", admitiu o alemão após vencer o torneio. O brasileiro negou pressão por chegar aos Jogos como o melhor do mundo, mas admitiu que teve problemas. "Desde que ganhei o Mundial sabia que ia encontrar dificuldade. Por isso, fiz um trabalho diferente. Mudei para voltar a surpreender. Os golpes que encaixei aqui não foram os mesmos do ano passado. Em uma luta, tudo pode acontecer. Contra o alemão, tentei o melhor que podia", disse Camilo.

Outra campeã que deixou Pequim com medalha de bronze foi Natália Falavigna, do taekwondo. Em sua segunda Olimpíada, e com o pé sem lesões, diferentemente do que aconteceu em 2004 (quando competiu com o pé direito quebrado), ela voltou a falhar na semifinal, mas não desperdiçou o bronze. "Cada competição é única e especial. O Mundial foi especial, mas ficou para trás. Olimpíada é especial, já que eu não tinha medalha. Agora, tenho uma medalha e, em 2012, vou querer mais do que o bronze".

Na vela, que em Atenas-2004 conquistou dois ouros, os brasileiros velejaram em Qingdao, onde foram disputadas as regatas olímpicas, também para duas medalhas, mas nenhum título. Robert Scheidt e Bruno Prada foram prata na classe Star, mas só o fato de ir ao pódio foi considerado um sucesso. Os dois chegaram em Qingdao, sede da vela olímpica, em um ano inconsistente. Além disso, eram relativamente novos no barco, tendo velejado com ele desde 2006.

"Todo mundo, quando pensa em mim, acha que sou medalha de ouro certa. Mas eu sabia que aqui seria muito difícil. Eu sempre disse que vinha para a China por uma medalha e estou satisfeito com a prata. Ainda mais nas condições em que ela chegou", disse Scheidt, lembrando que até o penúltimo dia a dupla era apenas a oitava colocada.

Bimba, da RS:X, chegou com bons resultados na Europa, mas sabia que teria problemas sérios com a falta de ventos de Qingdao. Com isso, o resultado final, quinto lugar, acabou sendo positivo.

Piores, porém, foram as derrotas do vôlei masculino e de Diego Hypólito. Nenhum dos campeões mundiais brasileiros eram tão favoritos. O time de Bernardinho, por exemplo, foi campeão de 19 torneios em oito anos, incluindo dois Mundiais e uma Olimpíada. Mesmo assim, o vôlei masculino do Brasil encontrou seus maiores algozes na decisão do ouro, os norte-americanos, e foi superado.

"Nos últimos oito anos eles (os adversários) miraram a gente. Agora temos que ter a humildade suficiente para ver no que agora eles estão melhores. Quando cheguei eu vi o que tinha de melhor no mundo. Mas a gente foi se aprimorando, conquistando, a referência passou a ser o próprio Brasil. Agora não, a gente pode trabalhar para melhorar", analisa Bernardinho.

Com Diego Hypólito, o ouro também era quase certo. Bicampeão mundial, ele entrou no tablado com seu maior rival, Marian Dragulescu, fora da disputa da medalha. Mesmo assim, falhou em seu último salto, caiu e perdeu a medalha.

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