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Em Pequim-2008, o Brasil viveu o primeiro ciclo completo de Lei Piva

Em Pequim-2008, o Brasil viveu o primeiro ciclo completo de Lei Piva

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25/08/2008 - 09h47

Investimento recorde não se traduz em medalhas de ouro para o Brasil na China

Bruno Doro
Em Pequim (China)

O Brasil mais rico da história que foi aos Jogos Olímpicos voltou da China mais pobre do que há quatro anos. Em Atenas-2004, os brasileiros conquistaram cinco medalhas de ouro, mas em Pequim-2008, o primeiro ciclo olímpico completo contando com verba da Lei Piva, e mais uma série de incentivos governamentais, foram apenas três títulos olímpicos.

Em contas da Folha de S.Paulo, que soma verbas governamentais investidas no esporte e inclui Lei Piva, lei de incentivo ao esporte, patrocínios de estatais e projetos como o bolsa atleta, o total de investimento foi de R$ 1,2 bilhão.

O site Contas Abertas apresenta uma conta diferente. Contabilizando as verbas repassadas a todos atletas, não só os os que foram às Olimpíadas, - Lei Piva, lei de incentivo e repasses governamentais - são R$ 654,7 milhões investidos no esporte olímpico nacional.

O Comitê Olímpico recusa os dois valores, alegando que verbas do governo federal não são controladas pelo COB. Mesmo assim, pelos números citados pelo presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, o investimento é quase o dobro da primeira edição olímpica com verbas da Lei Piva.

Para Atenas-2004, cerca de R$ 90 milhões foram investidos no esporte, contra R$ 160 milhões injetados entre 2005 e 2008. Nuzman, porém, rejeita a ligação entre investimento e medalhas. Pelos números do Contas Abertas, cada medalha teria sido resultado de R$ 50,4 milhões. Usando o valor da Folha, cada pódio sobe para R$ 92 milhões.

Questionado sobre se o valor seria válido, Nuzman mais uma vez recuou. "A conta não pode ter uma equação desse porte. A evolução é qualitativa. Para melhorar, só se tivermos mais recursos. E essa equação, sim, é obvia e clara. Quando eu era presidente da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), foi só quando o recurso aumentou, e teve uma continuidade, é que apareceu a evolução. Não é uma conta que pode ser feita", alega o presidente do COB.

Apesar do recorde em investimento, várias modalidades deixam os Jogos Olímpicos reclamando de mais verba. A vela, esporte olímpico mais vitorioso do país, por exemplo, não teve patrocínio no ciclo olímpico de Pequim e, segundo os próprios atletas, a campanha só feita graças a esforços individuais.

"Eu tive que investir do meu bolso. E isso desgasta o atleta. Depois de um tempo, você começa a se questionar se isso vale a pena. Eu investi para três Olimpíadas. Mas para a próxima, vou ter de repensar", afirma André Fonseca, da classe 49er, que fechou sua segunda Olimpíada seguida entre os dez primeiros e mesmo assim prevê problemas para seu futuro como atleta olímpico.

Pior é a situação do taekwondo. A modalidade conquistou sua primeira medalha olímpica na China, mesmo com medalhistas em mundiais e recebendo o menor patamar dos repasses da Lei Piva, com 1 % dos recursos, o mesmo a que tem direito, por exemplo, o badminton, que nem mesmo classificou atletas para Pequim-2008. Em 2007, por exemplo, a entidade recebeu R$ 496 mil do COB. Além disso, a modalidade recebeu mais R$ 750 mil, vindos da lei de renúncia fiscal, para viagens.

"A gente não pode mais ficar com as sobras. Não recebemos muito, mas não estou reclamando. Mas estamos no mesmo patamar de repasses de esportes com atletas de muito menor expressão que os nossos", reclama Fernando Madureira, técnico da campeã mundial e agora bronze olímpico, Natália Falavigna.

Para o ciclo de preparação para Londres-2012, Nuzman promete uma reavaliação dos critérios de repasse. "Vamos reavaliar a forma de repartir a verba. O taekwondo, por resultados, será um dos que será revisto", afirmou Nuzman.

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