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Imagens de paz e crianças amenizaram a tensão

Imagens de paz e crianças amenizaram a tensão

Veja outros especiais em Pequim

25/08/2008 - 09h38

Após começo com atentados e protestos, Jogos terminam em calma

Rodrigo Bertolotto
Em Pequim (China)

A Olimpíada de Pequim apresentou um início conturbado, com um cenário de protestos, atentados, ataques a turistas e repressão a jornalistas. Mas, após os primeiros dias de intensos eventos extra-esportivos, tudo se acalmou. Até a constante poluição chinesa deu folga para os Jogos, com três dias de chuva limpando o horizonte, o que reduziu o impacto previsto para as provas de resistência.

A notícia de maior impacto aconteceu em 4 de agosto, a quatro dias da cerimônia de abertura. Um ataque com bombas e granadas matou 16 policiais na cidade de Kashgar, na província islâmica de Xinjiang, no oeste da China. Um grupo separatista se responsabilizou pelo atentado e prometeu ações na capital para chamar ainda mais a atenção da mídia concentrada por lá.

O que veio foi um novo morticínio na região chinesa que faz fronteira com a Ásia Central. No dia 14, três seguranças foram esfaqueados na localidade de Yamanya, a 30 quilômetros de Kashgar. A imprensa chinesa veiculou amplamente a prisão dos responsáveis.

Outro caso que alertou a imprensa foi o ataque com faca de dois turistas norte-americanos. Na seqüência, o responsável se jogou do alto do edifício no templo do Tambor, local turístico. Um visitante morreu, o outro saiu ferido. Depois, revelou-se que ambos eram parentes do técnico da seleção de vôlei masculina dos EUA, Hugh McCutcheon.

Houve até o rumor que o time abandonaria a competição, mas McCutcheon, que se ausentou para acompanhar o enterro de seu sogro e a recuperação de sua esposa, depois voltou aos Jogos para ver o time dos EUA bater o Brasil na final e ficar com o ouro.

Aconteceram outras agressões a estrangeiros, como um repórter australiano que recebeu uma cadeirada de um rapaz embriagado no centro de Pequim. Os jornalistas, porém, sofreram com a repressão policial. Uma equipe de TV do Japão fez queixa policial e virou uma questão diplomática abafada depois de levar uns safanões e ser detida por seguranças na praça da Paz Celestial. O local é especialmente sensível para o governo porque lá aconteceram os protestos estudantis de 1989 por mais democracia, violentamente contidos.

Outro repórter detido foi o britânico John Ray, da ITV News, que cobria o protesto em área vizinha ao Parque Olímpico. Ele foi para a delegacia com oito manifestantes que estenderam a bandeira tibetana no Parque das Etnias Chinesas, que fica a um quarteirão do Cubo d´Água, local de competição da natação.

As manifestações pulularam nos primeiros dias. Uma garota foi detida em Hong Kong por gritar frases contra o governo na área de competição do hipismo, que acontece nessa área que foi território britânico até 1997. Em Pequim, outros foram presos por pendurar próximo ao estádio Olímpico um faixa com a inscrição "Free Tibet" (Tibete Livre). Todos foram presos segundos depois de começarem a ação.

Na verdade, as autoridades chinesas nem deixaram entrar pessoas suspeitas de atividade política. Depois determinaram que tolerariam manifestações, mas restringiu a três praças bem afastadas, no subúrbio da cidade. Nos locais, monitorados por câmeras, só apareceu uma senhora cega que gritou contra o despejo que sofreu para que sua casa desse lugar a um ginásio olímpico. Ela acabou detida também.

Os únicos e raros protestos que não acabaram com prisões foram os de atletas. Apesar dos EUA terem enviado seu presidente, George W. Bush, para a festa de abertura, o comitê olímpico norte-americano (Usoc) ficou encarregado de dar um "tapa com luva de pelica" no governo chinês.

Primeiro, o Usoc escalou como porta-bandeira da abertura o corredor Lopez Lomong, originário do Sudão e ativista pró-Darfur e contra os massacres promovidos por milícias respaldadas pelo governo sudanês, que é grande parceiro comercial da China na África. Lomong criticou a China e lembrou da associação entre chineses e sudaneses. O comitê deu nova demonstração ao escolher como porta-bandeira do encerramento Khatuna Lorig, uma arqueira de origem georgiana. O alvo, porém, foi outro: a Rússia, que invadiu a Geórgia durante o período olímpico.

Outro que se manifestou foi o pugilista italiano Clemente Russo, prata entre os pesados. Ele dedicou sua medalha "a todas as pessoas que sofrem na China" e disse que dará suas luvas a Dalai Lama, o líder espiritual tibetano que vive exilado na Índia desde a década de 50. O Comitê Olímpico Italiano apoiou as declarações e o escolheu para carregar a bandeira tricolor na festa de encerramento no estádio Olímpico. Ou seja, protestos em Pequim só de estrangeiros e bem discretos, beirando o diplomático.

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