O queniano Samuel Wanjiru, de 21 anos, conquistou a primeira medalha de ouro olímpica na maratona para o Quênia, neste sábado. Largando da Praça da Paz Celestial e chegando ao estádio Ninho de Pássaro, o fundista acelerou no 35º km para uma vitória tranqüila, em 2h06min32s, novo recorde olímpico.
Radicado no Japão, Wanjiru mostrou uma excelente forma física para bater o antigo recorde dos Jogos, que pertencia ao português Carlos Lopes, com 2h09min21, feita há 24 anos, nos Jogos de Los Angeles. Completaram o pódio o marroquino Jaouad Gharib, com 2h07min06, e o etíope Tsegay Kebede, 2h10min00s. Já o italiano Stefano Baldini, que defendia seu título, ficou na 12ª posição, a seis minutos do queniano.
O queniano não chegou aos Jogos como favorito, mas os especialistas apontavam o jovem corredor como um dos que poderia surpreender. Ele quebrou o recorde mundial da meia-maratona três vezes entre 2005 e 2007 e ainda foi vice-campeão da maratona de Londres, no início do ano.
A prova não foi boa para os brasileiros, que tinham esperanças de medalha após o bronze de Vanderlei Cordeiro em Atenas-2004. Entre os três atletas nacionais, dois abandonaram: Franck Caldeira parou antes dos 25 km, e Marílson dos Santos, antes dos 35 km. Assim, sobrou para José Teles, 18º no Mundial de Osaka-2007, o melhor resultado brasileiro. Ele completou em 2h20min25s, na 38ª posição.
"A principal dificuldade é a temperatura e a umidade. Já esperava por essas condições, mas estava muito difícil para correr. Depois de dois quilômetros você já ficava com a garganta seca e precisava beber muita água, jogar água na cabeça, para agüentar. Fiz minha preparação em Paipa, na Colômbia, e a temperatura lá estava em torno de 18 a 20º C e seco. Exatamente o contrário daqui, que estava úmido e quente", justificou Teles.
A corrida começou com intensidade forte, apesar do calor de Pequim, sendo que os quenianos Samuel Kamau Wansiru e Martin Lel foram os principais responsáveis por puxarem o ritmo da prova. A marca de 5 km trouxe os brasileiros em boa posição, perto dos líderes, com Franck em 20º, três posições à frente de Marílson, enquanto José Teles não conseguiu acompanhar o ritmo.
Após esta primeira passagem, a velocidade seguiu aumentando e o pelotão começou a se desfazer, seguindo com Quênia, com três atletas, Etiópia e Eritréia à frente. O espanhol Jose Manuel Martinez chegou a tentar uma disparada nos 10 km, mas o grupo de corredores o abafou. Enquanto isso, Franck Caldeira ficou, caindo para 39º, e Marílson assumiu a liderança brasileira, na 10ª colocação. Isolado, o brasiliense manteve a estratégia de acompanhar de perto o pelotão e guardar fôlego para o final.
Na parte intermediária dos 42,195 km da maratona, a situação pouco se alterou, o que prejudicou Marílson. O campeão da Maratona de Nova York em 2006 não manteve a proximidade, e a desvantagem para o grupo de cinco primeiros aumentou na metade do percurso, com a 18ª colocação, a dois minutos dos líderes e seu desempenho passou a piorar, assim como o de Franck, que desistiu antes dos 25 km.
A principal movimentação ocorreu por volta do quilômetro 30, mudando o curso da maratona. Mostrando boa forma física, o etíope Deriba Merga tentou uma fuga, quebrando o trabalho de equipe do Quênia e sendo acompanhado com proximidade apenas por Samuel Wansiru e, posteriormente, o marroquino Jaouad Gharib, que se recuperou.
Passados os 35 km, nova fuga, desta vez do queniano, que surpreendentemente deixou Merga para trás e trouxe Gharib consigo, mesmo que o marroquino não conseguisse esconder seu sofrimento e suas dores.
A segurança foi visivelmente reforçada no fim da prova, para evitar incidentes como os que tiraram o brasileiro Vanderlei Cordeiro da liderança da tradicional disputa, fato memorável ocorrido em Atenas-2004, quando um manifestante invadiu o percurso. Foram colocados voluntários por toda a extensão das grades do percurso para garantir uma chegada tranqüila.
De braços abertos após uma volta completa na pista do Ninho de Pássaro, a chegada realmente não teve problemas para Wansiru, que só comemorou enquanto batia o recorde.
"Eu tinha de aumentar o passo para cansar os outros corredores. Tinha de fazer isso porque meu corpo se cansa quando eu diminuo o ritmo no calor", explicou a estratégia, que deu resultado. Quando acelerou, ninguém mais o alcançou. "Com seis quilômetros para o fim, eu parti. Não foi fácil, mas ninguém conseguiu me acompanhar. O plano era quebrar meus limites e fiquei muito feliz com o resultado."
A maior surpresa no final foi a ultrapassagem de Kebede sobre Merga, já dentro do estádio, para garantir o bronze já nos metros finais.
Apesar da tradição queniana na prova, com muitos títulos nas maiores competições internacionais da maratona, nunca um fundista do país havia conseguido o ouro olímpico, o que Wansiru leva para casa após o feito.
*Atualizada às 00h15