Os dois troféus de campeão mundial continuarão sem um equivalente olímpico na casa do judoca João Derly. Neste domingo, em sua primeira tentativa para conquistar uma medalha olímpica, o gaúcho conheceu algo que não tinha sentido nos Mundiais de 2005 e 2007: a dor da derrota.
"Tem dias em que nada dá certo e esse foi um deles. Eu sabia que não teria luta fácil. A gente sempre fica procurando o que errou. Faltou um pouco de agressividade. Mas acho que é do esporte. O bonito é não saber quem vai ser o vencedor. Não é porque tenho dois títulos mundiais que sou obrigado a vencer sempre", justificou o lutador, que chegou a chorar após a derrota na China.
O algoz foi o português Pedro Dias, terceiro colocado no último Campeonato Europeu, disputado em abril. Bem orientado para o confronto contra o brasileiro, o judoca lusitano marcou os melhores golpes do gaúcho, jogou com o resultado e venceu. Em sua luta seguinte, porém, perdeu para o norte-coreano Pak Chol Min e acabou com os sonhos de medalha de Portugal e do Brasil nos meio-leves (66 kg).
Para o técnico Kiko Pereira, o brasileiro falhou na análise da luta. "A arbitragem teve uma posição importante. Definiu que não ia pontuar se o João pegasse na perna e não deu nenhum golpe dele assim. Foi aí que o João pecou e o tempo foi passando. Ele poderia ter mudado estratégia, mas não fez", explicou o treinador.
"Nesse nível, nessa categoria, é tudo muito igual. A diferença é que não pode errar. O João é um atleta que erra pouco, mas hoje ele errou", completou Pereira.
Único brasileiro bicampeão mundial de judô, João Derly lutava pela chance de se isolar como o maior atleta brasileiro na história da modalidade. O país nunca teve um campeão olímpico e mundial e, agora, os únicos que poderão mudar isso são o meio-médio (81 kg) Tiago Camilo e o meio-pesado (100 kg) Luciano Corrêa.
O desfecho de Derly não chega a ser uma zebra completa. Afinal, a temporada 2008 do gaúcho foi das mais difíceis. Ele enfrentou lesões no ombro e no tornozelo - chegou a romper os ligamentos do pé direito e ficou semanas sem treinar. Na Europa, venceu apenas três lutas em duas participações em Copas do Mundo.
Em sua primeira luta no ginásio da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim, porém, Derly mostrou boa forma. Contra o sul-coreano Joojin Kim, ele fez um combate tenso e defensivo, mas saiu vitorioso com um golpe no final. O mesmo não aconteceu contra Dias, que, com um waza-ari, acabou com as chances do brasileiro.
"Eu sabia que o português era um atleta duro, mas achava que coreano era o mais difícil e foi realmente uma luta dura. Mas tive a infelicidade contra o português. Podia tê-lo jogado em alguns momentos, mas hoje não era o meu dia. Levantar cabeça. Tenho muito pela frente. Posso buscar mais títulos mundiais e estar em Londres-2012 para novo sonho de medalha olímpica", completou.
Os mais pessimistas diriam que o final estava previsto. Na apresentação da categoria feita pela organização dos Jogos Olímpicos, o brasileiro nem mesmo é citado. Como grande estrela do dia era apontado o japonês Masato Uchishiba, atual campeão olímpico, que nunca venceu o gaúcho.
Uchishiba, aliás, fará uma das semifinais do dia contra outro freguês do brasileiro. O cubano Yordanis Arencibia, derrotado no Pan-Americano e nos Mundiais de 2005 e 2007, é o rival do japonês. A outra semifinal terá o francês Benjamin Darbelet contra o norte-coreano Park.