Olimpíadas 2016

Cubanos ficam em hostel, conquistam a Tijuca e ganham até samba da Vila

Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

“Cuba não tem frescura”. É assim que Pedro Garcia, cubano que treina a seleção brasileira de luta livre feminina desde 2008, define seus compatriotas. Desde semana passada um grupo de nove atletas da ilha, acompanhados de sparrings e comissão técnica, está hospedado em um hostel na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Longe de qualquer luxo, dormem em beliches, almoçam em um bar e vão aos treinos para os Jogos Olímpicos em uma van.

“O ambiente na Tijuca é muito sossegado. Lugar muito fechado não é muito bom”, explica Raul Trujillo, técnico-chefe da seleção cubana de luta. “A última vez que eu estive no Rio fiquei em um hotel cinco estrelas em Botafogo. Aqui parece mais com Cuba. Nos sentimos melhor assim”, diz Liván Lopez, bronze em Londres-12. “É um bairro muito bonito, as pessoas nos incentivam”, avalia Mijain Lopez, bicampeão olímpico que será porta-bandeira de Cuba pela terceira vez consecutiva.

A simplicidade conquistou. No prédio que fica ao lado do hostel Maraca, onde a delegação está hospedada, uma simpática bandeira cubana exposta na janela dá o tom. Os lutadores são uma atração para os tijucanos na rua, as crianças da escola em frente ao albergue tiram fotos com os novos ídolos todos os dias e o comércio está em festa com a exposição que ganhou na mídia.

Neste sábado, devem ganhar uma festa como retribuição. “A [escola de samba] Vila Isabel ligou e acho que vem aí fazer um samba”, disse Roberto Sampaio, um dos proprietários do hostel.

A opção dos lutadores pela Tijuca tem a ver com uma antiga parceria com a CBLA (Confederação Brasileira de Lutas), que prevê intercâmbio constante entre os dois países. Cuba precisava de sparrings de qualidade e queria uma rotina sem grandes perdas de tempo com deslocamentos. Acabaram dispensando o Cefam, centro de educação física da Marinha que está recebendo o restante da delegação da ilha, para se instalarem na sede da CBLA, que fica no bairro.

As refeições são feitas no “Bar do Adão”, na esquina da “casa tijucana” dos cubanos. O comércio fechou um pacote com a delegação e o cardápio foi feito sob medida, com a aprovação de uma nutricionista do Comitê Olímpico da Cuba. Na hora de pegar os talheres, porém, os lutadores não querem nem saber de saladinha e frango.

“Eles pedem peixe, risoto de camarão, pastel. E a gente atende, né?”, diz Marcelo Ferreira, proprietário do bar que estava radiante por ter aparecido duas vezes em jornais da Globo só nesta semana. A presença dos cubanos atraiu gente do bairro, repórteres e até visitas inesperadas. No último fim de semana, segundo o dono do hostel, os lutadores receberam Antonio Castro, filho de Fidel que é médico da delegação. No dia em que a reportagem visitou o local, foi a vez de uma comissão antidoping, que decidiu fazer um exame-surpresa no meio do dia.

O grupo vai deixar a Tijuca no dia 2 de agosto, quando finalmente entrará na Vila. Até lá, querem “regalos” da passagem. Por conta do embargo norte-americano à ilha, os cubanos têm dificuldade de adquirir certos produtos que não podem entrar no país. Por isso, os atletas costumam aproveitar competições como as Olimpíadas para usar artigos da ilha, como uniformes da delegação, charutos e bebidas, de moeda de troca.

Na Tijuca, os objetivos nesse mercado variam. Um dos lutadores está negociando um valor abaixo de mercado para um Playstation, o outro quer trocar um conjunto completo de agasalho de Cuba por um relógio de pulso. Um terceiro, mais ousado, pretende tentar levar um aparelho de ar-condicionado para a ilha. 

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