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Atualizada em 05.08.2016 18h52

Brasileira que pode ir à Rio-2016 é acusada de furto e será julgada

Bruno Doro/UOL Esporte
Luana (e) e Lohaynny (d) Vicente foram medalhistas de prata nos Pan de Toronto-2015 imagem: Bruno Doro/UOL Esporte

Guilherme Costa e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

Luana Vicente, 22, é um dos principais nomes do badminton no Brasil e busca uma vaga para representar o país nas duplas femininas das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Nos últimos meses, contudo, ela também se tornou o maior problema da modalidade para os Jogos. A atleta carioca foi acusada de furtar uma companheira na casa em que a seleção brasileira fica concentrada, em Campinas (SP), e o episódio virou caso de polícia.

A menina que acusa Luana, T. M. B. S., é menor de idade e estava em Campinas para treinar em um clube da cidade. No dia 22 de fevereiro, estava na casa que serve de concentração para a seleção brasileira e notou, enquanto passou pelo local, o sumiço de um cartão de débito. Depois, no extrato, viu que houve cerca de R$ 1 mil em gastos com o aparato nas 24 horas seguintes.

“Fui procurado pela vítima e expliquei que poderíamos ingressar com uma denúncia. Fizemos o mapeamento dos gastos e solicitamos extrajudicialmente as imagens dos circuitos de segurança das lojas que apareciam na fatura do cartão. Chegamos à autora do crime e demos prosseguimento ao caso”, explicou Ismael Silva, 25, advogado da menor.

As imagens da câmera de segurança de uma padaria de Campinas, obtidas pelo UOL Esporte, mostram Luana usando o cartão de débito que havia sumido. A menor registrou um boletim de ocorrência na Delegacia Geral de Polícia de Campinas e enviou uma denúncia à CBBd (Confederação Brasileira de Badminton). “A gente está esperando o BO chegar. Agora vai ser responsabilidade do Ministério Público na esfera penal”, explicou Ismael.

Em contato com a reportagem por um aplicativo de troca de mensagens, Luana disse apenas que o caso tem um lado na história. “O caso está entregue à Confederação Brasileira de Badminton e eu tenho direito à minha defesa. Só isso que eu tenho a dizer”.

O advogado denunciou Luana no artigo 155, parágrafo 4, inciso II, do Código Penal Brasileiro – furto qualificado, mediante a abuso de confiança. A CBBd recebeu o documento no dia 10 de março, acompanhado de cópias do vídeo da câmera de segurança e do extrato bancário da menor.

Luana foi questionada pela CBBd e admitiu culpa. “Ela sabe que errou. Depois ela devolveu o dinheiro”, relatou Santini Campos, superintendente da confederação. “Eles geraram o boletim de ocorrência, e enquanto isso a gente não pode fazer nada. Foi feita uma reunião com os atletas na segunda-feira da semana passada [07/03] com todos os atletas da seleção brasileira. Eu expliquei que nós estamos esperando receber informações e que então esse processo vai ser encaminhado para o jurídico, daí para a procuradoria e daí para o STJD. É o caminho na justiça brasileira”, completou.

A CBBd, segundo Santini Campos, decidiu punir Luana: “Como a gente identificou que houve uma falha de comportamento e de atitude da atleta, e a gente não está levando em consideração a causa do furto, a atleta foi cortada de uma competição no Peru, que é a última antes do Pan-Americano [da modalidade]”.

A punição, porém, será pelo histórico de indisciplinas da atleta, segundo comunicado da confederação enviado na noite de domingo. O caso do furto será julgado pelo STJD da entidade.

Atualmente, Luana está na Europa em viagem pela seleção brasileira. A CBBd formou uma comissão interna para discutir possíveis punições administrativas para a atletas, e é possível que ela receba novas sanções além da exclusão - no STJD e na Justiça Comum.

“A confederação não me disse nada ainda, mas eu não vou recuar por isso. Ela precisa pagar pelo que fez. Não pode ocorrer com outros companheiros meus”, disse T. M. B. S..

Cada país pode levar até dois atletas de badminton aos Jogos Olímpicos, desde que eles estejam entre os 16 melhores do ranking mundial. No Brasil, apenas Ygor Coelho e Lohaynny Vicente estariam classificados na chave de simples atualmente. Luana pode entrar nas duplas mistas, mas para isso ela e a irmã precisam estar entre primeiras do planeta até o dia 1º de maio - os 16 conjuntos mais bem colocados ficarão com vagas, mas aqui também existe o limite de duas inscrições por nação. Hoje em dia, um top 25 seria suficiente para colocar as atletas na Rio-2016. Hoje, as irmãs ocupam a 42ª colocação no ranking.

Reclamação de outras atletas não é novidade para Luana

O caso do cartão de débito não foi o primeiro episódio polêmico envolvendo Luana Vicente e outras atletas da seleção brasileira de badminton. Ao menos quatro jogadoras ouvidas pelo UOL Esporte relataram problemas com a denunciada na concentração.

“A confederação não pode se surpreender com nada. Estamos relatando os problemas da Luana há tempos e eles não fazem nada. Chegamos a pedir que instalassem câmeras na casa e falaram que não tinha verba para isso. Dizem sempre que não há provas. Agora está aí. Duro é ouvir da boca de pessoas da CBBd que a denúncia não vai dar em nada porque ela é a queridinha da confederação”, disse uma jogadora que pediu para não ser identificada por temer represálias.

Por causa da polêmica com Luana, algumas jogadoras chegaram a ameaçar não viajar para os torneios que estão sendo disputados na Europa em março deste ano. As competições valem pontos para o ranking mundial, que é o critério de classificação para a Rio-2016. A reunião da CBBd com os atletas no dia 7 de março foi fundamental para acalmar os ânimos.

Na conversa, os dirigentes pediram silêncio aos atletas e prometeram tomar cuidar prontamente do caso. “Eles vão empurrar com a barriga. Se ninguém jogar luz no problema, eles não vão resolver. Eles estão fugindo e sendo coniventes”, completou uma terceira jogadora.

Atletas fazem uma série de acusações sobre o comportamento de Luana. A lista inclui questões como atrasos e outras acusações de furtos, mas nenhum episódio anterior gerou denúncia formal na confederação ou um boletim de ocorrência.

“É de conhecimento de todos, e isso a gente pode falar, que a Luana tem um comportamento difícil”, admitiu Santini Campos. A confederação tem feito um trabalho psicológico específico com a atleta.

Polêmica do furto do cartão de débito chega ao COB

O COB (Comitê Olímpico do Brasil) também foi acionado sobre o comportamento de Luana. Atletas reclamaram de atitudes da jogadora, e a denúncia acerca do furto do cartão de débito também foi levada à entidade.

Em nota, o COB disse que procurou a CBBd para buscar informações sobre o ocorrido: “Considerando que o fato aconteceu durante treinamento sob responsabilidade da confederação, a entidade de badminton informou que tomará as medidas cabíveis”.

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