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Brasil tem irmãs Williams do badminton. E elas já superaram uma tragédia

Fábio Aleixo/UOL
Lohaynny (à esq.) e Luana se destacam no badminton brasileiro imagem: Fábio Aleixo/UOL

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Elas jogam um esporte de raquete, são negras e são irmãs. A definição faz logo você pensar nas irmâs Venus e Serena Williams certo? Correto. Mas a descrição acima também pode der aplicada a duas brasileiras que rodam o mundo dando raquetadas em busca de um sonho: disputar os Jogos Olímpicos de 2016 na cidade onde nasceram. Elas são as irmãs cariocas Lohaynny e Luana Vicente e praticam um esporte pouco popular no Brasil, o badminton.

“Isso de irmãs Williams começou a pegar no Pan de 2011, em Guadalajara, quando fizeram uma reportagem conosco. A partir de lá, todos nos chamam assim. A gente gosta bastante disso, mesmo porque somos fãs delas. Em 2016, se for para a Olimpíada, uma das coisas que mais vou querer fazer é tirar foto com a Serena e pegar autógrafo. Ela é demais”, afirma Lohaynny, que é fã de tênis.

Lohaynny é a mais jovem, tem 18 anos. Luana é a mais velha, tem 20. As duas integram a seleção brasileira de badminton há cinco anos. Foram convocadas para defender a equipe nacional enquanto ainda treinavam no projeto social Miratus, na comunidade da Chacrinha, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Foram lá que pegaram o gosto pelo esporte da peteca e começaram a trilhar um caminho de sucesso na vida. Hoje, já se mudaram para Campinas (SP), onde treinam no Centro de Treinamento da Confederação Brasileira e defendem o clube Fonte São Paulo.

“Se não fosse o badminton não sei o que seria da minha vida. Muitas das meninas que começaram conosco no projeto ou estão mortas, ou estão grávidas. O esporte entrou no momento certo em nossas vidas”, diz Luana, que sempre que pode vai ao Rio de Janeiro com a irmã para visitar a favela onde cresceu.

A violência nas comunidades cariocas, por sinal, vitimou o pai das jovens, em 2000. Chefe do tráfico em um morro no Rio de Janeiro, ele acabou caindo em uma emboscada e foi assassinado. À época, Luana tinha seis anos e Lohaynny quatro. Por isso, sempre foram criadas pela mãe e pela avó, grandes alicerces em suas vidas até os dias de hoje. Apesar de terem tido pouco contato com o pai, ambas falam abertamente sobre a tragédia familiar, mas preferem focar em seus feitos e objetivos futuros a focar no passado.

E no presente, o badminton é a profissão e o combustível que as move. O que antes era tratado apenas como uma brincadeira e passatempo na infância pobre na Chacrinha virou coisa séria. Além de receberem ajudas de custo da Confederação Brasileira de Badminton e do Comitê Olímpico do Brasil (COB), as irmãs têm patrocínio da Yonex (fabricante de raquetes, roupas e petecas) e recebem verba federal por meio do Bolsa Atleta. Luana ainda completa seu orçamento mensal com dinheiro da Força Área Brasileira (FAB). Há poucos meses, ela é terceira sargento. Uma realidade diferente do início, quando nem raquete tinham e usavam nas aulas o equipamento disponibilizado pelo projeto social.

Fábio Aleixo/UOL
Irmãs Williams brasileiras posam para foto durante torneio no clube Paulistano imagem: Fábio Aleixo/UOL

“Quando éramos crianças, lá na Chacrinha ou íamos para o badminton, ou para o futebol. Eram os únicos esportes que tínhamos. Mas tratávamos como brincadeira. Nunca imaginávamos que poderíamos chegar onde estamos hoje. O que eu ganho hoje em termos financeiros, não sei se ganharia se apenas estudasse”, diz Lohany, que cursa atualmente o último ano do Ensino Médio. Luana já está universidade.

Apesar de mais nova, Lohaynny é quem se destaca mais. Atualmente ela ocupa a 64ª colocação do ranking mundial. É a segunda melhor brasileira na lista da WBF (Federação Mundial de Badminton), atrás apenas de Fabiana Silva, que está no 60º posto. No ano passado, ela ganhou o Prêmio Brasil Olímpico como melhor atleta da modalidade.

Já Luana se dedica apenas às partidas de duplas, sempre ao lado da irmã. Elas ocupam a 54ª posição. Neste mês, foram vice-campeãs pan-americanas no Canadá. No que vem, certamente formarão uma das parcerias brasileiras nos Jogos Pan-Americanos de Toronto (CAN), repetindo o que fizeram no Pan de Guadalajara, em 2011.

Para a Olimpíada de 2016, o Brasil já tem uma vaga no torneio masculino e uma no feminino por ser país sede. Os donos delas ainda estão indefinidos. Outra possibilidade é conseguir a vaga com o título nos Jogos Pan-Americanos ou por meio do ranking mundial. Para isso, será necessário estar entre as 34 melhores da lista de simples no dia 5 de maio de 2016. Nas duplas, entrarão as 16 melhores parcerias.

“Nosso foco agora é competir o máximo possível e somar quanto mais pontos pudermos para jogar a Olimpíada. Começamos a nos dedicar ao badminton depois que vimos o esporte no Pan de 2007 e seria muito legal nós estarmos em quadra agora, representando o país”, afirma Lohaynny.

A mais nova das irmãs Williams brasileiras conseguiu superar também o excesso de peso, que sempre foi um tormento. Em 2011, no Pan de Guadalajara competiu visivelmente fora de forma. Com 1,67m, pesava 73 quilos. Hoje, não revela o peso, mas se nota que está muito mais enxuta.

“Eu sempre tive muita facilidade para engordar, e antigamente não tinha tanto cuidado. Hoje em dia, na seleção temos preparador físico, nutricionista. Perdi peso. O esquema é muito profissional”, diz Lohaynny, que nesta semana participa junto com a irmã de um torneio internacional no clube Paulistano, em São Paulo.

As irmãs Williams originais

  • Mike Groll / AP

    Sucesso total nas quadras e fora delas

    As americanas Venus e Serena Williams estão entre as principais jogadoras da história do tênis mundial. Ambas já foram número 1 do ranking mundial e conquistaram inúmeros títulos. Juntas, possuem 25 taças em simples de Grand Slams. Em duplas, ganharam 13 e a medalha de ouro olímpica em três oportunidades: 2000, 2008 e 2012.

    Imagem: Mike Groll / AP

 

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