Quedas no basquete de cadeira de rodas empolgam público, mas não assustam brasileiras

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

  • AP Photo/Alastair Grant

    Alemã Annika Zeyen sofre queda em jogo contra os Estados Unidos na primeira fase

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O basquete é um dos esportes que mais têm atraído a atenção dos torcedores nos Jogos Paraolímpicos de Londres. Mas não apenas pela habilidade dos atletas e cestas em si. Pancadas, trombadas e colisões deixam o jogo com temperatura altíssima.

A vibração dos torcedores com a rispidez do jogo chamou a atenção do tradicional jornal inglês “The Guardian”, que destacou o furor que os jogos de basquete sobre cadeira de rodas estão causando nas arquibancadas.

“É um esporte brilhante, que surpreende o espectador não apenas pelos níveis de habilidade refinados, mas também com todo vigor físico e choques”, diz o "Guardian".  “Ainda tem um cheiro particular, de borracha queimada que sobe levemente”, continua, sobre as freadas dos pneus das cadeiras.

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  • Luciana Vernell/CPB

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A seleção brasileira feminina foi uma das que tiveram a chance de sentir esse ambiente. A equipe enfrentou, na fase de classificação, o time da casa, o Reino Unido, com quadra lotada.

As brasileiras ganharam em Londres pela primeira vez em sua história ao baterem a França, na terça-feira, na disputa do 9º lugar. Antes, o Brasil havia ficado na última colocação em Pequim. “Foi um grande feito na história do basquete feminino do Brasil. O Brasil só levava porrada no placar, mas desta vez mostramos que podemos chegar mais longe pelos jogos pegados que fizemos”, falou Debora Costa.

As brasileiras contam que o delírio do público com o jogo em Londres ajudou a equipe a conseguir o bom desempenho. E que não esperavam esse furor todo, que foi usado de maneira positiva para a boa campanha.

“É até uma felicidade o fato de o público vir e querer assistir. Isso motivou bastante a gente, saber que eles vibram com a gente. Ficamos muito felizes. Não esperávamos casa cheia”, falou Viviane de Almeida, a Vivi.

“Está tendo bastante gente, durante os nossos jogos teve muito público, saímos muito aplaudidas, com as pessoas vindo procurar a gente, e a arquibancada sempre lotada”, falou Débora Costa. 

Elas contam que o que mais fazia a torcida se encantar, além da trombada em si, era o fato de elas conseguirem se levantar normalmente para as cadeiras de roda e continuarem no jogo, o que mostra a superação.

“Eles gostam de ver quando os atletas se chocam e chegam a cair. Aí, quando o atleta consegue se levantar, o público aplaude. Eles percebem como vamos além das nossas forças. Vibram com os choques, com as jogadas, eles ficam animados”, falou Débora.

“Até a gente gosta desse choque, achamos legal, tem vezes que é falta, às vezes não, tem lado bom e ruim. O público fica surpreso quando conseguimos nos levantar da cadeira. Eles ficam surpresos e maravilhados por verem que somos capazes, que temos superação. Acho que é muito bom isso para o público, de mostrar que somos capazes de fazer qualquer coisa”, disse Lia Martins.

Medo das colisões e trombadas não existe para quem já superou tantas dificuldades na vida, salientam as atletas. Débora Costa, por exemplo, vencedora do prêmio Paralímpicos-2011 como melhor jogadora de basquete, diz que isso em nada amedronta para quem já passou pela poliomielite aos 6 anos.

“É bem tranquilo isso perto do que fazemos no nosso dia a dia. Conseguimos tudo isso através do esporte. Toda essa habilidade que temos na quadra e fora conseguimos por meio do esporte. A gente treina pra tudo, pra cair sem se machucar. [Os choques] são coisas bem pequenas em relação às coisas que superamos no dia a dia”, falou.

Independentemente do resultado, todas elas celebram o esporte como combustível para a vida. "Pra mim, depois que aconteceu o acidente, não sabia que tinha esporte pra deficiente. O mundo tinha acabado. Eu não gostava nem de sair de casa", falou falou Lia, que sofreu um acidente de carro com 17 anos.

"Numa dessas minhas idas ao médico uma pessoa me convidou e eu fiquei interessada e fui participar. O basquete pra mim, mudou minha vida. Eu pensava que nunca fosse servir pra alguma coisa. Descobrir no basquete uma nova vida e maneira de viver”, continuou.

Vivi conta que antes de levar a picada de cobra que lhe tirou as chances de andar, aos 12 anos, jamais havia se interessado pelo basquete. E depois tudo mudou.  “Fiquei pra baixo, achava que se eu fosse em algum lugar as pessoas iam rir de mim. Vi que eu era normal, foi quando eu percebi que poderia chegar em qualquer lugar e capaz de fazer coisas que nem eu acreditava. Eu era igual a todo mundo, era só eu querer. Me fez ver que posso ir mais além.”

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