Enquanto rivais se calam, drama de Semenya sensibiliza público e rende aplausos

José Ricardo Leite

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • AFP PHOTO / GABRIEL BOUYS

    Sul-africana Caster Semenya exibe bandeira de seu país após conquistar o ouro nos 800 m rasos em Londres

    Sul-africana Caster Semenya exibe bandeira de seu país após conquistar o ouro nos 800 m rasos em Londres

O drama vivido pela corredora sul-africana Caster Semenya parece ter sensibilizado os torcedores presentes no estádio Olímpico para acompanhar a final dos 800 m na Olimpíada de Londres. Seu sprint no final para conseguir a medalha de prata foi um dos pontos altos do sábado de atletismo.

A volta olímpica para comemorar foi das mais prestigiadas. No final da prova, ela foi em direção à russa Mariya Savinova e lhe deu um abraço, para mais aplausos. Carregou a bandeira da África do Sul e correu para ser saudada pelos fãs.

Sua imagem no telão no momento que recebeu a medalha de prata e também rendeu efusivos aplausos. Retribuiu com um sinal com as mãos para os fãs.

Os aplausos a Semenya não se devem apenas à prata. Ela  é uma das atletas que já tiveram a desagradável experiência de passar pelo que deve ser o maior constrangimento para uma competidora de alto rendimento: provar que é mulher.

Depois de vencer os 800 m rasos no Mundial de Berlim, em 2009, Semenya foi suspensa pela IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo) até que comprovasse ser mulher.

Os trâmites para que pudesse comprovar seu gênero demoraram 11 meses, incluindo vários testes. Passou por testes de DNA e os exames comprovaram que ela é portadora de uma deficiência cromossomática, o que faz com que tenha características masculinas e femininas.

A competidora não tem ovários nem útero, mas possui testículos ocultos internamente. Isso faz com que produza testosterona acima do normal para uma mulher. Mas acabou liberada pela IAAF para competir normalmente. Chegou a sofrer com o preconceito. "Os últimos quatro anos não foram fáceis”, falou Semenya após a prova.

A opinião das rivais por ter que competir contra Semenya ainda é algo obscuro. Quase todas as finalistas se recusaram a tocar no tema quando perguntadas.

“Eu não tenho que comentar nada sobre isso. Não tenho o que falar”, disse a queniana Pamela Jelimo, para depois sair andando. “Ah não, isso não, não vou falar disso”, falou a americana Johnson Montano. Todas respostas foram semelhantes.

A única das finalistas que aceitou falar sobre o tema foi a queniana Janeth Businei. Se disse amiga da sul-africana e falou que não se importa por ter que competir contra. “Ela acaba atraindo mais gente, muitos jornalistas vêm só para isso. Não me importo com sua presença. Eu a respeito, é uma grande amiga."

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