Coreias levam relação política ao tênis de mesa e fazem duelo tenso na Olimpíada

Bruno Freitas

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • REUTERS/Grigory Dukor

    Atletas de Coreia do Norte e Coreia do Sul se cumprimentam após partida em Londres

    Atletas de Coreia do Norte e Coreia do Sul se cumprimentam após partida em Londres

O ambiente olímpico vez ou outra promove encontros entre nações que extrapolam o olhar meramente esportivo. Um deles aconteceu neste sábado, quando as Coreias do Sul e do Norte se enfrentaram na primeira fase do torneio de equipes do tênis de mesa, em um confronto tenso e cheio de conotações políticas.

Ambas as Coreias são tecnicamente nações inimigas desde a guerra no início dos anos 50, que dividiu o território em dois. A partir deste incidente, os países têm entre si umas das fronteiras mais equipadas com aparatos militares de todo o mundo.

Mais recentemente a tensão em torno do mistério do projeto nuclear da Coreia do Norte também levou atenção internacional para a região e, especificamente, para a relação com os vizinhos do sul. Os norte-coreanos têm um dos regimes mais fechados do planeta e são tratados como ameaças por algumas potências ocidentais.

Neste sábado, as quartas de finais do tênis de mesa por equipes foram disputadas em série de jogos simultâneas, em quatro mesas enfileiradas. Apesar de ter oito nações competindo ao mesmo tempo, inclusive com a potência China em ação, visivelmente a atenção da arena da modalidade em Londres estava direcionada para a rivalidade entre as Coreias.

Durante o confronto, gritos isolados partiram das arquibancadas para incentivar as duas equipes, mas foi a pequena torcida norte-coreana que fez barulho na reta final de disputas.

O torneio de equipes acontece num formato semelhante ao do tênis na Copa Davis, em melhor de cinco, com duas partidas de simples, um confronto de duplas e finalmente outros dois jogos individuais, se necessários. Mais equilibrado embate do dia, o duelo das Coreias foi o último a terminar, já com as outras mesas ao lado vazias. Os donos do território do sul venceram por 3 a 1.

"É claro que é um confronto mais tenso, por toda a relação entre os nossos países fora do esporte. Tivemos a oportunidade de ter uma breve conversa com eles [norte-coreanos], mas na mesa é uma verdadeira batalha", declarou o sul-coreano Ryu Seungmin.

"É um final de semana na Coreia do Sul. Tenho certeza de que todo o país assistiu a este confronto na frente da televisão. Até porque todos adoram o tênis de mesa lá", afirmou Sang Eun Oh, outro atleta da equipe vencedora.

Após a derrota, a equipe da Coreia de Norte de tênis de mesa cumprimentou os adversários vencedores, mas quebrou o protocolo olímpico e ignorou a passagem pela área de imprensa para conceder entrevistas.

A tensão sobre o duelo na primeira fase do torneio olímpico começou já na véspera, quando o técnico da equipe norte-coreana reclamou com a organização sobre a presença de fotógrafos sul-coreanos durante um treinamento de seus jogadores.

Seu colega sul-coreano, por sua vez, polemizou ao afirmar que os vizinhos do norte precisavam ser respeitados porque se preparavam sob um "regime espartano" de treinamento.

OLIMPÍADAS VEEM ANIMOSIDADE E APROXIMAÇÃO DE CORÉIAS

O esporte de alguma forma sempre esteve no meio da relação entre as duas Coreias, em momentos mais nervosos e em outros com gestos de aproximação. Em 1988, por exemplo, quando Seul recebeu os Jogos Olímpicos, os norte-coreanos boicotaram o evento, cancelando o envio de sua delegação.

  • Reprodução

    Erro de bandeira em jogo do futebol feminino provocou protesto de delegação norte-coreana

Nesta Olimpíada a questão entre as Coreias já havia sido levantada na estreia da equipe feminina do norte no torneio de futebol. Na oportunidade, a organização dos Jogos exibiu equivocadamente a bandeira do país do sul ao apresentar as jogadoras no telão do estádio. Ofendida, a delegação norte-coreana ameaçou não entrar em campo e atrasou o início do jogo com a Colômbia.

Apesar do clima exacerbado de rivalidade, os dois países que amam o tênis de mesa já usaram a modalidade como uma forma de amenização diplomática, pelo menos no campo esportivo. Em novembro passado, o sul-coreano Ryu Seung-min e o norte- coreano Kim Hyok-bong jogaram e venceram juntos uma partida de duplas num torneio do Qatar.

A Olimpíada é tida como uma zona livre de questões políticas, tanto que as duas Coreias chegaram a desfilar juntas num passado recente, nas cerimônias de abertura dos Jogos de Sydney (2000) e Atenas (2004), numa esforço de aproximação do meio esportivo. 

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