Monge budista do hipismo medita na Vila e elogia concentração de Rodrigo Pessoa

Bruno Freitas

Do UOL, em Londres (ING)

  • Bruno Freitas/UOL

    Monge Kenki Sato representa o Japão no Concurso Completo de Equitação da Olimpíada

    Monge Kenki Sato representa o Japão no Concurso Completo de Equitação da Olimpíada

Nem todo atleta quer participar da farra da cerimônia de abertura ou explorar a possibilidade de conviver com povos de todo o mundo no mesmo espaço. O japonês Kenki Sato prefere experimentar os Jogos de Londres confinado em seu quarto na Vila Olímpica, se preparando mentalmente para a participação nas competições de hipismo.

A cabeça raspada dá uma pista, mas o discurso de tranquilidade do atleta de 28 anos entrega de vez sua identidade como monge budista. Mesmo em missão fora de seu país como atleta, Sato se esforça para manter a rotina religiosa e ainda elogia o perfil “concentrado” do brasileiro Rodrigo Pessoa.

BUDISTA DO ESPORTE

O esporte tem alguns famosos seguidores do budismo. O mais ilustre deles talvez tenha sido o ex-jogador de futebol Roberto Baggio, vice-campeão do mundo com a Itália em 1994. O meia relata que se identificou com o caminho de Buda no início da carreira, quando ainda atuava pela Fiorentina, em um momento em que enfrentava lesões seguidas.

Ouro nos Jogos de Atenas em 2004, Pessoa é uma celebridade dentro do universo do hipismo e conta com admiração de atletas de várias partes do planeta, como o monge budista que faz em Londres sua estreia em Olimpíadas.

"Soube que ele vai levar a bandeira do Brasil na abertura", diz o japonês ao UOL Esporte na última sexta-feira, antes da cerimônia. "Respeito muito ele, é uma lenda para o hipismo, um atleta que se destaca por ser muito concentrado. Infelizmente não o conheço, mas acho que meu irmão já conversou com ele", acrescenta o monge, em menção ao familiar que compete nos saltos.

Sato diz que tem se escorado na religião para dosar o nervosismo que cerca sua estreia em Jogos Olímpicos, na disputa do Concurso Completo de Equitação.

"Tento pensar na vida na Vila Olímpica, me concentrar na competição. Fico muito nervoso antes de competições grandes, sou uma pessoa normal, apesar de ser monge. Por isso fecho os olhos, respiro fundo e tento meditar", relata o cavaleiro que monta Chippieh.

Sato chegou a Londres com parte da equipe de hipismo do Japão há duas semanas. Na Inglaterra, além da rotina de meditações individuais, diz que tem colaborado para o estado de paz de seus colegas ministrando sessões de ioga.

Preparado para ser monge budista desde a infância, Sato vem de uma família de atletas do hipismo no Japão, onde o pai cuida de cavalos há décadas (além de manter um templo de 460 anos), nas montanhas perto de Nagano. O irmão mais jovem do atleta também já teve uma experiência olímpica, nas competições de salto dos Jogos de Pequim, em 2008.

Na época, Kenki estava confinado em uma escola para monges, sem nenhuma espécie de comunicação com o mundo externo. Ao tomar conhecimento do desempenho do irmão Eiken na Olimpíada, o religioso deixou escorrer as lágrimas.

"Estava em um templo, estudando, sem contato nenhum, sem telefone. Quando me trouxeram o jornal com o resultado do meu irmão, fiquei muito feliz, acabei chorando", conta o monge do hipismo japonês.

Em Londres, Sato carrega a missão de livrar o Japão de uma espera de 80 anos por uma medalha no hipismo. A última veio com Takeichi Nishi nos Jogos de 1932. 

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