Badminton é ignorado em cidade inglesa que deu nome ao esporte olímpico

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Badminton (Inglaterra)

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    Palácio Badminton House deu nome ao esporte: lá, a modalidade era praticada no século 19

    Palácio Badminton House deu nome ao esporte: lá, a modalidade era praticada no século 19

Para ver o badminton na Olimpíada é preciso sair do centro de Londres e rumar para o oeste onde se localiza a Wembley Arena, mas se você seguir, pegar a rodovia M4 e virar na saída número 18 vai encontrar a localidade de Badminton, onde a modalidade das petecas ganhou muitas regras e um nome.

Mas os adeptos vão se decepcionar. A única quadra de badminton que havia queimou junto com o salão municipal em um incêndio em 2004. E a cidade só vive em função dos cavalos, afinal, acontece por lá o maior evento de hipismo na Grã-Bretanha, o Badminton Horse Trials, que atrai anualmente 120 mil espectadores e é transmitido ao vivo pelo canal BBC.

"Eu joguei badminton quando vivia em Bristol. Aqui nunca vi. A quadra daqui vivia abandonada e depois se foi com o fogo", conta Edwin Rees, dono da única loja do lugarejo, uma mistura de correio, banca de jornal, farmácia e loja de conveniências.

Essa mudança radical de paixão de uma modalidade pela outra vai ao sabor das predileções de cada duque de Beaufort, nobre que manda na Badminton House e suas longas extensões de terra. O ocupante do título no final do século 19 foi um incentivador das raquetes e petecas. Já seu sucessor em meados do século 20 era um fanático da equitação e transformou seu palácio e propriedade nobiliária em centro esportivo.

As casas da cidade são todas do duque. A maioria é ocupada por funcionários dele, mas algumas são alugadas. "Pago aluguel todo mês há 20 anos e vi a cara do duque umas duas vezes na vida, sempre passando de carro", conta o construtor aposentado Michael Chalderlew, enquanto passeava com seus cachorros.

Len Davidson, cavalariça do haras do duque, define a vida na cidade como "absolutamente idílica" de cima de um do potro de raça pronto para uma manhã de treinamento. "É uma cidade pitoresca, onde se pratica a arte do hipismo. A cidade vive em função dos cavalos", afirma.

No portão da propriedade sede do ducado, placas indicam que está fechada para a visitação pública. Para entrar, só durante a competição anual de hipismo, ou se você alugar para um casamento ou reservar lugar na temporada de caça.

O site da Badminton House oferece salões do século 17 com candelabros gigantes, lareiras e mesas de até 28 lugares para os casais que queiram um ambiente aristocrático para o matrimônio. Também disponibiliza os faisões e os cervos que vivem nos campos para os aficionados da caça - antes do banimento em 2005 ali também se praticava a tradicional caça à raposa.

Um toque na campainha do escritório do duque e uma funcionária atende a porta com uma frase ensaiada: "Não recebemos jornalistas que vieram para os Jogos Olímpicos. Toda a informação foi passada ao comitê organizador." Um dos motivos do fechamento do palácio é que o duque está doente e não quer ser incomodado por forasteiros, suas perguntas e suas máquinas fotográficas.

Entre os visitantes frustrados estão grupos de turistas da China, Coreia do Sul, Indonésia e Malásia, países que dominam a modalidade atualmente. "Muitos turistas orientais vem aqui e se queixam que não há nada para ver a não ser as placas da estrada", revela Rees.

Uma pesquisa na página da cidade no Wikipedia revela a atual situação: "Badminton é uma vila e uma paróquia do condado de Glocestershire, na Inglaterra, famosa por suas corridas de cavalo, que acontecem no começo de maio nas terras do duque de Beaufort. O residência do duque se chama Badminton House e batizou o esporte de mesmo nome".

Sue Ansell cuida da organização do Badminton Horse Trials e depois da entrevista para o UOL deu um exemplar da revista "Badminton Life". Na capa, é claro, um cavalo. "Você não vai achar uma cidade como essa por aí. Todo mundo está envolvido com equitação. Ela é tão pequena, mas fica gigante quando temos o evento".

A competição equina começou em 1949, depois que o duque de então se decepcionou com o desempenho britânico na Olimpíada de Londres do ano anterior. Apaixonado por cavalos, ele decidiu transformar suas terras em um centro de treinamento e competição. Seu sucessor e atual duque seguiu a rentável tradição.

Já a peteca não teve essa hereditariedade em Badminton. Na verdade, o badminton foi uma adaptação inglesa de um jogo popular indiano, a poona. Veteranos da invasão britânica na Índia, voltaram para casa em meados do século 18 com o hábito de dar raquetadas em uma peteca.

Bem ao gosto inglês, estabeleceram regras, tamanho da quadra, contagem de pontos e batizaram com o nome de badminton. O curioso é que o esporte veio da Ásia e voltou para ela, afinal, países de lá dominam a modalidade.

Badminton fica encravada em trigais e milharais em propriedades separadas por muros de pedras. As casas têm de quatro a dois séculos de existência, com jardins muito cuidados e floridos. De tão pequena, a cidade não tem nem pub, o bar que os britânicos usam como um verdadeiro centro comunitário (a mais próximo fica a dois quilômetros, no vilarejo de Luckington).

O único carteiro que trabalha na cidade distribui uma média 15 cartas por dia. "Olha, eu gosto mais de luta. Sou muito bom no taekwondo. O badminton nunca me atraiu", afirma Mark Cuss enquanto despacha a correspondência entre as casas.

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