Inglês algoz de Scheidt agora ameaça trono de Grael como maior atleta olímpico da vela

Do UOL, em São Paulo

  • Clive Rose

    Ben Ainslie, 35 anos, pode se tornar o mais importante velejador olímpico de todos os tempos

    Ben Ainslie, 35 anos, pode se tornar o mais importante velejador olímpico de todos os tempos

Você pode não conhecer o nome, mas o britânico Ben Ainslie é um dos maiores vilões do esporte olímpico brasileiro. E nestes Jogos Olímpicos pode aumentar ainda mais sua galeria de feitos à custa de um brasileiro. Velejador tricampeão olímpico, ele já destronou Robert Scheidt em uma edição dos Jogos e agora vai atrás de uma marca de outra lenda dos mares verde-amarelos.

Aos 35 anos, Ainslie pode conquistar, nos Jogos Olímpicos de Londres, sua quinta medalha olímpica. Até hoje, só um atleta da modalidade subiu tantas vezes ao pódio: Torben Grael. O velejador nascido em São Paulo, mas niteroiense por opção, tem duas medalhas de ouro (na classe Star), uma de prata (na classe Soling) e duas bronzes (mais uma vez na Star), em seis edições olímpicas.

O inglês já é dono de três ouros (dois na classe Finn e um na Laser) e uma prata (na Laser), em quatro tentativas. Com mais um pódio, supera Grael, levando vantagem no desempate. E se essa medalha for de ouro, destrona outro herói da vela olímpica: o norueguês Paul Elvstrom, quatro medalhas de ouro nos anos 60 e 80 (um na classe Firefly e outros três na Finn).

E todos esses recordes têm origem justamente nos duelos com Robert Scheidt, na classe Laser, nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, em 2000, em Sydney. Nos EUA, o brasileiro levou vantagem sobre o inglês, então com 19 anos. Na Austrália, foi a vez de Ainslie, em sua melhor versão Dick Vigarista, levar a melhor: Scheidt chegou à última regata dos Jogos na liderança, mas perdeu o ouro após uma regata em que o inglês fez de tudo para atrapalha-lo – e conseguiu.

Até hoje Scheidt lembra aquela derrota. Ainslie também. “Quando eu conquistei aquela medalha de ouro, foi um alívio total. A rivalidade entre nós dois era enorme e aquela regata foi um momento decisivo em nossas carreiras. Se ele tivesse vencido, para a maioria das pessoas ele seria o melhor velejador. E eu estava muito empenhado em não deixar isso acontecer”, afirmou o velejador em entrevista ao jornal Guardian, de Londres.

A frase de Ainslie não poderia ser mais verdadeira. O ouro em 2000 marcou o fim da carreira de Ainslie na classe Laser. Scheidt ainda dominou a categoria por mais quatro anos. Quando mudou de barco, em 2007 (a medalha de prata no Pan do Rio-2007 foi sua despedida), ele já era o maior velejador da história da classe Laser, com nove títulos mundiais e duas medalhas olímpicas.

Enquanto isso, Ainslie aproveitou o que aprendeu nos duelos com o brasileiro e se tornou, também, o maior da história, mas na Finn. As duas classes são bem parecidas. São barcos para uma pessoa, com a diferença de tamanho. Se o Laser é para homens menores e mais leves, os Finns são para pesos pesados. Mesmo pequeno para a categoria, Ainslie os três primeiros mundiais que disputou e, em 2004, levou o ouro com facilidade em Atenas.

“A derrota de 1996 moldou completamente a minha carreira. Quando voltei para casa com a medalha de prata, todos queriam que eu me sentisse um herói, mas eu me sentia um derrotado. Eu pensei muito naquele momento. Foram quatro anos pensando que eu poderia nunca ter uma nova oportunidade para ser campeão olímpico. Por isso que, hoje, eu sei que o maior erro que eu poderia cometer é achar que seu tudo. É aí que as coisas começam a dar errado”.

Hoje, ele já soma seis títulos mundiais (recordes na categoria) e dois ouros olímpicos. E o número só não maior justamente porque tropeços, como ele mesmo diz, podem acontecer. No fim do ano passado, ele protagonizou uma cena bizarra, que ninguém esperava de um campeão olímpico. No Mundial da Isaf de Perth, na Austrália, ele abandonou seu barco, mergulhou na água, subiu em um bote e tentou agredir um fotógrafo, alegando que o profissional teria atrapalhado sua regata.

“Foi algo que aconteceu uma vez. Eu surtei. Foi decepcionante demais. Eu fiz o que podia depois do episódio. Pedi desculpas, aceitei as críticas e as punições e segue em frente. Cometi um erro. Sou apenas humano”. Os Jogos de Londres-2012, porém, podem mudar um pouco essa classificação.

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