Brasileiros de 1992 contestam comparação de Kobe e dizem que Dream Team ainda é imbatível
Bruno Freitas
Do UOL, em São Paulo
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Arquivo/Reprodução
Declaração de Kobe Bryant (na foto da direita) inspira duelo de gerações no basquete dos EUA
Uma declaração de Kobe Bryant abriu um debate acalorado durante esta semana no universo do basquete dos Estados Unidos. Reunido com a seleção do país na preparação para a Olimpíada de Londres, o astro dos Lakers afirmou que o time atual poderia bater o "Dream Team" de 1992, equipe comumente tratada como o melhor agrupamento de talentos da história da modalidade. O comentário gerou reações incisivas de quem faz parte desta comparação, como Michael Jordan, Magic Johnson e Charles Barkley, e deflagrou o embate de gerações.
A reportagem do UOL Esporte ouviu brasileiros que tiveram a oportunidade de enfrentar o célebre "time dos sonhos" na 1ª fase dos Jogos de Barcelona a respeito desta polêmica de gerações e encontrou uma linha de resposta em sintonia. Por mais que o time de 2012 conte com os extraordinários talentos individuais de Kobe, LeBron James e Kevin Durant, a seleção de 1992 continua desfrutando, vinte anos depois, da aura de "imbatível".
A equipe de Oscar Schmitd e companhia se viu diante dos mitos vivos do basquete no quinto jogo da fase de grupos da Olimpíada. Os brasileiros, que acabariam os Jogos de Barcelona com a 5ª posição, foram batidos no Palau de Badalona por 127 a 83 (diferença de 44 pontos).
"Não dá para comparar, aquele time era muito mais forte. Não acredito que seria batido", afirma Oscar, destaque de um time que contava, entre outros, com Josuel, Paulinho Villas Boas, Israel, Josuel e Maury.
"Era imbatível. Lógico que não ia ser aquele passeio que nós sofremos. Mas acho que não iria dar para a bolinha do Kobe Bryant", endossa o ex-ala Marcel.
PALAVRA DE MARCEL
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"Era imbatível. Lógico que não ia ser aquele passeio que nós sofremos. Mas acho que não iria dar para a bolinha do Kobe Bryant"
Na opinião do ex-armador Guerrinha, a comparação de gerações é temerária. Mas mesmo assim o atual técnico de Bauru aponta preferência para o “Dream Team” norte-americano de 1992.
"É difícil colocar na quadra duas gerações diferentes, dizer que essa é melhor do que aquela. Não existe essa colocação, é muito errada. É como você colocar o time da Copa de 70, da época do Pelé, e colocar para jogar com o time da época do penta. São situações diferentes", afirma Guerrinha.
"Quem tem mais carisma? Nem se compara. Se você pegar o talento, também não tem nem comparação, o que cada jogador daquele time de 92 produziu dá de 10 a 0. Prefiro o Magic com Aids no final de carreira do que qualquer dos [armadores] atuais. O Jordan estava na época áurea dele. Só tinha o [Larry] Bird que sofria mais para jogar, por causa das costas", acrescenta o antigo armador da seleção.
Especificamente no jogo de garrafão, o brasileiro Gérson também enxerga vantagem para os medalhistas de ouro de 1992 na comparação com os pivôs atuais do time norte-americano: Tyson Chandler, Kevin Love e Blake Griffin.
"Não bate de jeito de nenhum, aquele era o verdadeiro ‘Dream Team’. Era um time sem falhas. Difícil arranjar uma equipe tão coesa. Tinha o Pat Ewing, o David Robinson, jogadores sem nenhuma mácula, de carreira brilhante na NBA", opina o ex-pivô brasileiro.
A favor da geração atual, o ídolo nacional Oscar Schmitd diz que acrescentaria apenas dois jogadores da seleção 2012 dos EUA em uma hipotética escalação dos melhores de todos os tempos do país.
"Eu digo que para aquele time faltam apenas três jogadores: Kobe Bryant, Shaquille O’Neal [recentemente aposentado] e agora o LeBron James. Com esses seria de fato o time dos sonhos", diz o ex-ala da seleção.
BRASILEIROS FIZERAM PACTO CONTRA IDOLATRIA EM 1992
Na primeira Olimpíada que recebeu a participação de profissionais dos EUA, os brasileiros de 1992 entraram em quadra diante dos destaques da NBA no dia 31 de julho, ainda na fase de grupos. Antes do jogo, o grupo dirigido pelo técnico José Medalha se reuniu e acertou uma espécie de pacto contra qualquer surto de idolatria em quadra.
"Falamos: ‘não importa o que eles representam para a gente, temos que encarar como um adversário normal’. Fizemos um jogo forte, no nosso limite. Talvez por isso tenhamos sido um dos times que perdeu com menos diferença. Não ficamos festejando, como a maioria ficou, idolatrando, tirando fotos. Isso só depois do jogo. O meu grande ídolo era o Magic, era fanático pelo jeito como ele jogava", conta Guerrinha.
"Eu matava se um pedisse autógrafo para o Michael Jordan, que fosse dar uma de fanzoca", relata Marcel em tom de humor sobre aquela partida de Barcelona.
Para Guerrinha, a grande questão da época era a diferença física entre os atletas que disputavam a NBA e aqueles que disputavam competições no "universo Fiba". Marcelo concorda: "Foi horrível, porque a gente se achava os bons e eles mostraram a nossa mediocridade".
O ELENCO DAS SUAS EQUIPES AMERICANAS
SELEÇÃO DE 1992 | SELEÇÃO DE 2012 |
Christian Laettner - ala/pivô - Duke University David Robinson - pivô - San Antonio Spurs Patrick Ewing - pivô - New York Knicks Larry Bird - ala - Boston Celtics Scottie Pippen - ala - Chicago Bulls Michael Jordan - ala/armador - Chicago Bulls Clyde Drexler - ala/armador - Portland T.Blazers Karl Malone - ala/pivô - Utah Jazz John Stockton - armador - Utah Jazz Chris Mullin - ala - Golden State Warriors Charles Barkley - ala/pivô - Phoenix Suns Magic Johnson - armador - LA Lakers Técnico: Chuck Daly | Russell Westbrook - armador - OC Thunder Deron Williams - armador - New Jersey Nets Chris Paul - armador - Los Angeles Clippers James Harden - ala/armador - OC Thunder Kobe Bryant - ala/armador - Los Angeles Lakers LeBron James - ala - Miami Heat Kevin Durant - ala Oklahoma City Thunder Carmelo Anthony - ala - New York Knicks Blake Griffin - ala/pivô - Los Angeles Clippers Andre Iguodala - ala/pivô - Philadelphia 76ers Kevin Love - ala/pivô - Minnesota Timberwolves Tyson Chandler - pivô - New York Knicks Técnico: Mike Krzyzewski |